tag:blogger.com,1999:blog-22442091598420047072024-03-28T07:22:09.644+00:00Archive of Goan Writing in PortugueseThis archive is maintained by Paul Melo e Castro, Leverhulme Early Career Fellow in Portuguese Studies, undertaking a project that looks at Lusophone Goan literature. If you would like more information about any of these texts, please don't hesitate to contact me.Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.comBlogger460125tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-63355575523604549412015-04-17T17:32:00.000+01:002015-04-17T17:32:02.194+01:00Laxmanrao Sardessai - Sou Teu Filho (1966)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Disse-me ontem uma velha, <br />Gaudi encarquilhada,<br />Afagando a minha cabeça:<br />“Filho, tu não és brâmane”.<br />“Sim, mãe - respondi enternecido –<br />Nasci brâmane, mas sou gaudó,<br />Como teu Vassu, escuro e forte,<br />Durmo no chão raso<br />Por ti artisticamente embostado.<br />Como do ‘ambil’ que me dás, <br />Em companhia de teus netinhos.<br />Extasiado fico a contemplar<br />As esbeltas arequeiras<br />Que as tuas filhas regam,<br />Acaricio com admiração,<br />Os caules alabastrinos das bananeiras<br />E, às vezes, enfio um langotim<br />E lavo-me contente<br />Na água pura da fonte<br /> E, depois, como o mais feliz dos entes,<br />Estendo-me na relva<br />A absorver a ternura<br />A carícia e o conforto<br />Dos raios do sol nascente<br />E, quando durmo, o meu espírito<br />Estende a sua asa<br />Sobre os teus miúdos<br />Que trabalham de dia<br />E dormem de noite<br />O sono dos santos.<br />E tu, às vezes, de madrugada,<br />Enquanto lá fora<br />Os galos cantam<br />E o orvalho desce dos céus<br />E o vento sopra frígido<br />Vens para fora, de mansinho,<br />E estendes sobre o meu corpo estirado<br />O teu velho ‘cambol’.<br />Sim, mãe, sou gaudó<br />E sou teu filho!<br /><br /> <br /><br /> </div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-4994142275269394432015-04-17T17:29:00.001+01:002015-04-17T17:29:31.618+01:00Walfrido Antão - De praias que vão de Cavelossim a Cola: A extração de areia e o estudo científico de Urbano Lobo (1975)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Tradução e comentário de Walfrido Antão<br /><br />‘V. tem de publicar isso porque ama Goa. Nós lutamos juntos em Velção, logo temos de lutar pelas praias dos nossos ancestros” <br />- de uma carta de Urbano Lobo, Chartered Civil Engineer (Londres e América)<br /><br />Por motivos pessoais não gosto de visitar praias do sul de Salsete (de Cola a Cavelossim) ou escrever sobre o que se passa. Mas o Engenheiro Urbano Lobo foi meu camarada, meu guia científico na tragédia da terra calcinada e peixe morto em Velção e os goeses jamais podem esquecer este homem fidalgo de um Bardez fidalgo que veio ajudar as crianças de Velção numa época quando até os biologistas eram comprados a preço de oiro. Como recusar? Ou não seria eu jornalista atento ao que vai suceder no litoral daqui a uns anos e o povo de humildados já não terá nem várzeas para cultivar nem casas para morar: a terra atrasada como em Andhra Pradesh de 1977 ou Kerala.<br /><br />Como jornalista tenho de esquecer agravos pessoais até esquecer que algumas das concessões (as ‘mining leases’ não precisam de autorização) para extração de areia ficam em terra dos meus ancestros que fiéis à agricultura deixaram lugares de Juiz de Calangute, ou Pandá ou de Consul do Brasil para plantar cajueiros e levantar um coqueiral, tudo porque ao jornalista cabe avisar o povo, e o governo do que virá a acontecer. Foi-se a terra e a areia.<br /><br />Ao jornalista não interessa entrar em confronto com o Governo Local, apenas levar ao conhecimento dos leitores o estudo científico dum grande homem de Goa, o Engenheiro Lobo que gastando do seu bolso está a defender desde Velção a Cavelossim as dunas de areia por que elas são o contraforte, a muralha de defesa contra ciclone e os ventos que sopram do mar. Aos cuidados de Goa, especialmente à juventude do Chowgule College e Carmel College, fazemos este apelo para que não se abra mais um desastre em Goa. Não se trata de uma agitação popular ou populista mas da própria existência a sobrevivência das populações do litoral de Salsete num futuro não muito longínquo. <br /><br />Visitei em companhia do meu amigo, o Engenheiro Civil Vicente Correia-Afonso a longa península de Mabor em Cavelossim e oferecemos juntos satyagraha em simpatia e solidariedade com os membros, simpatizantes do Anti-Sand Extraction Committee em Cavelossim.<br /><br />Correia-Afonso foi meu companheira da primeira e única adolescência e vibra em não ser anti, ele é sempre do pró positivo e construtivo, uma atitude na vida. Mas juntamente com os satyagrahas sentimos a grandeza moral da ação não violenta, o exemplo de Mahatma Gandhi pairando alto no coreto onde nós sentimos a imoralidade das concessões de extração da areia, a humilhação dos ofendidos pelos tractores que levam o baluarte da ecologia e da defesa que a natureza criou. Quando os ramponkares me contaram que até as redes sentiam a variaçãoo do seabed devido à extração da areia, a humilhação dos ofendidos pelos tractores que levam o baluarte da ecologia e da defesa que a natureza criou. Quando os ramponkares me contaram que até as redes sentiam a variação do seabed devido à extração da areia fiquei a pensar se Mathany Saldanha, dos homens do mar, ele próprio filho e neto do litoral não estaria interessado neste movimento em defesa da terra sagrada de Goa.<br /><br />O litoral, desde a baía de Cola junto a Velção até Mabor é um longo panorama de coqueirais levantados por filhos e netos de antigos batecares. Não seria sua responsabilidade defender a terra da erosão ou pensam talvez que isto é para agitadores profissionais? Triste será o destino dos pais com filhos estabelecidos no litoral de Salsete se não clamarem hoje, nesta hora, pela salvação da sua Terra.<br /><br />O egoísmo, o cada um para si e Deus para todos deve ser letra morta hoje. <br /><br />Passo a traduzir agora excertos importantes do trabalho do Eng. Urbano Lobo e estamos contratando o Lok Nayak Jayapracash Naraia no sentido de intervir junto do Governo Local para salvar as nossas praias.<br /><br />‘A Ecologia de dunas de areia ao longo das praias de Salsete’<br /><br />1 – As dunas de areia das praias de Salsete entre Velção, Cansaulim e Arossim no norte e Cavelossim Mabor no sul são uma paisagem familiar como uma endeixa virgem de areia branca e luminosa. Para todos os fins geológicos a inteira costa de Salcete pode se considerar como parte do antigo ‘sea bed’<br /><br />2 - As dunas de areia são um sinal, um aviso do equilíbrio ecológico entre as poderosas forças do oceano – ondas, ventos e correntes, de um lado, e a resistência natural da terra forme de outro lado. Uma praia estável no sentido geológico tem duas linhas de dunas de areia a duna do mar paralela às praias molhadas e a duna da terra também paralela ao mar a uma distância que varia entre 100 e 500 metros do mar. Entre estas duas filas de dunas, fica um deserto de areia com pequenas elevações cá e lá onde as crianças costumam brincar e os antigos proprietários plantavam conqueirais.<br /><br />3 – A duna do mar forma-se pela ação violenta das ondas que lançam areia até uma altura de cinco metros e assim se constituía a primeira linha de defesa que contém as furiosas ondas das monções que ameaçam desde junho a setembro o litoral de Salsete. A Natureza, sempre a natureza protegendo o povo de Goa.<br /><br />A segunda linha de defesa das dunas de área na terra firme forma-se devido aos ventos do vernao que vão arrastando a areia já seca até onde houver vegetação e acumulando-se a uma duna de 10 metros de altitude como em Cavelossim. Estas dunas de areia na terra firme que concessionários de Mining Lease sem escrúpulos cavavam até a uma profundidade de cinco metros criando poças de água das monções viveiro de mosquitos era o sítio de antigos coqueirais e cajueirais e Urbano Lobo.<br /> </div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-57706050911698242582015-03-04T15:12:00.001+00:002015-03-04T15:12:28.303+00:00Laxmanrao Sardessai - Avante, Goeses, Avante! (1966)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Avante, goeses, avante! <br />Que está próxima a batalha <br />Que decidirá a vossa sorte. <br />Estão do vosso lado <br />A Verdade e a Justíça, <br />A Honra e a Dignidade <br />E, doutro lado, <br />A ambição do mando, <br />A cupidez nojenta, <br />Indignidades sem conta, <br />A mentira e a doblez, <br />A traição e a maquinação. <br />É a luta entre dois princípios <br />O princípio do bem <br />E o princípio do mal. <br />Depende de vós a vitória <br />Dessa batalha imposta <br />Ao vosso povo pacato <br />Em nome da Democracia <br />Que entre nós está moribunda. <br />Na sua nudez a pergunta é esta: <br />Que quereis? <br />Viver na vossa terra <br />Ou lançar-vos ao mar? <br />A que miséria a Democracia <br />Vos lançou, santo Deus!? <br />Viver ou morrer? <br />Morrer é, de certo, diluir-se <br />Um povo na mole heterogénia doutro. <br />Vós, através da longa história, <br />Prezastes a honra e a dignidade. <br />Proclama ao mundo <br />Que sois um povo distinto. <br />A vossa língua e os vossos costumes <br />O vosso temperamento <br />E a vossa cultura, <br />A vossa humanidade <br />E o vosso intelecto <br />Não são para serem <br />Apagados ou suprimidos <br />Da face da terra. <br />Não! Não! <br />Cave-vos, goeses, <br />Repelir a afronta <br />Esquecer por amor <br />Dos vossos avoengos, <br />Vossas rixas e ódios, <br />E as vaidades que vos minam, <br />Provar que os goeses têm um único partido, <br />Partido duma Goa una e livre, <br />Arrojai aos ventos <br />As diferenças que vos dividem, <br />Que mesquinhas ambições alimentais <br />Quando o povo é arrastado para o abismo! <br />Em que miseráveis partidos <br />Vos entretendes <br />Quando o inimigo procura <br />Calcar-vos, reduzir-vos à poeira, <br />Que criminosa negligência a vossa, <br />Quando as fileiras do inimgo <br />Se cerram <br />Para os fins da peleja. <br />Amigos! Sacudi, sem demora, <br />A letargia e a modorra! <br />Abraçai os ignorantes e os pobres <br />Preparai-os com sacrifícios <br />Para a luta. <br />Levei a cada casa <br />A mensagem da guerra – <br />Guerra contra ambições do mando - ! <br />Sacrificai tudo! <br />Para salvar a terra, <br />Terra de vossos pais <br />E de vossos filhos. <br />Terra que está <br />Em iminente perigo <br />Por culpa dos vossos. <br />Avante, goeses, avante <br />E a vitória será vossa!</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-62843585590625311162015-02-17T21:29:00.000+00:002015-02-17T21:29:32.648+00:00Walfrido Antão - A Telefonia e a Língua Portuguesa: Uma Contribuição Válida ou de um Programa da ‘Peoples High School’ (1982)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
“O Indiano é individualista e por isso o sistema democrático dá-se bem na Índia”- Indira Gandhi falando recentemente em Londres<br /><br />“Vamos abrir uma janela sobre a cultura ocidental” – Mahatma Gandhi<br /><br />“É bom, é saudável, cada um orgulhar-se da sua língua mãe, mas odiar uma outra língua é fanatismo de pior espécie<br /><br />“Minha pátria é a língua portuguesa!” – do poeta António Barahona, referenciado num artigo por Dr. Carmo Azevedo.<br /><br />Martinho Noronha, sacerdote e intelectual que conhece como raros em Goa ao lado de Carmo Azevedo, Mário Cabral e Sá, o segredo, o mistério da Palavra Portuguesa, teve um dia esta resposta realista quando lhe foram pedir para fazer uma conferência sobre o “Futuro da Língua Portuguesa em Goa”: “Olha, primeiro não sou um astrólogo para predizer o futuro e depois, de momento, o que me interessa é fortalecer a minha língua - o konkani”. Não sei até que ponto o cultivo da língua portuguesa pode afectar o desenvolvimento da literatura konkani, mas estou convencido da verdade das palavras do Mahatma – “É preciso abrir uma janela sobre a cultura ocidental...”<br /><br />Entre as instituições de ensino secundário na língua inglesa que tomaram o risco e a coragem de introduzir o português como língua secundária encontra-se a prestigiosa e coroada de louros “People’s High School” do Prof. Surlakar em Fontainhas. A professora encarregada de ensinar o português em casa nem por assim dizer tem contacto algum com a cultura portuguesa é uma jovem senhora da cidade, Celina Velho e Almeida, que começou a sua vida académica no velho Liceu tendo passado o 7o ano de letras grupo C e mais tarde feito o BA e Master of Education na Universidade de Bombaim.<br /><br />Como me notou o Pe. Filinto Cristo Dias a quem referi estes casos de devoção à língua portuguesa – é um verdadeiro apóstolo. Sem alarde, na rotina do dia a dia por entre bancos escolares e a palmatória ausente, a palavra portuguesa volta a ecoar a mensagem de um Humanismo que chegou à Índia em 1498...<br /><br />Nestas condições foi um acto de Reconhecimento e justiça a apresentação no programa Renascença de um acto de variedades dos alunas da escola People’s High School sob a direcção da sua Profa. Celina Velho e Almeida.<br /><br />A abrir o Programa, Ninfa Fernandes declamou uma bem substanciosa poesia que talvez não ficasse muito a calhar num programa de meninos, mas senões desses não desfeiam a beleza do esforço humano. Sulana Costa revela-se como um voz para a canção popular portuguesa e a sua participação é digna de nota. Mas Sadhna Mahtme impôs-se-me como a expressão da adaptabilidade do gênio hindu a uma cultura estrangeira, a louçania fresca da inocência usando da palavra portuguesa como um meio de comunicação com os rádio-ouvintes, a voz da Índa falando de uma outra Pátria onde há meninas também que sonham e amam a Índia na caminhada para a Pátria Universal de um ‘horizonte sem fronteiras’ como queria o nosso poeta Orlando Costa.<br /><br />Nesta época de aproximação de culturas, Indiana e Portuguesa, e quando a Gulbenkian pretende patrocinar a ida a Portugal de 3 jovens goeses, levamos ao conhecimento do Público e em especial, da sociedade da Língua Portuguesa, cujo Coordenador Local, Dr. Carmo Azevedo, com certeza deve estar a processar as sugestões sob o critério na escolha dos representantes indianos.<br /><br />Felicitamos sinceramente a Profa. Celina Velho e Almeida que não obstante as preocupações do ensino da língua portuguesa toma cuidado em amorosamente transmitir toda a Poética ou Palavra Portuguesa, talvez contribuindo para o ideal da Pátria Universal.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-55387881779627234552015-02-17T20:23:00.000+00:002015-02-17T20:23:45.247+00:00Remígio Botelho - De Profundis (1968)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
E o Dia veio<br />Levar-lhe ao seio<br />Da terra amada,<br />E lá foi ela – <br />A doce estrela <br />Da madrugada.<br /><br />Lá foi ela – <br />A alma bela<br />De sonhador<br />Ungida<br />E possuída<br />De luz e cor.<br /><br />Alma tão plena<br />De poesia<br />A alegria<br />Da morena<br />Que apanha<br />Lírios brancos<br />Pelos flancos<br />Da montanha;<br />A mansidão<br />Da lua cheia<br />Que vagueia<br />Na amplidão<br />E o fervor<br />Dos rishis<br />Ardendo de amor<br />Em lâmpadas rubis.<br /><br />Ardendo ainda<br />De saudade<br />Da ilha linda<br />Onde passara<br />A mocidade – <br />A seara<br /><br />Que ondeia<br />Pela aldeia<br />Casas de Deus<br />Que se elevam<br />Até os céus;<br />E os oiteiro<br />Onde rezam<br />Os cajueiros.<br /><br />Lá foi ela<br />Para o além...<br />Mas dela <br />Inda nos vem<br />Um ardor<br />Abrasador<br />E risonho –<br />A flama<br />Que o proclama<br />Veleiro do sonho<br />E do luar,<br />No altar<br />Da História<br /><br /> <br /><br />E da Gl</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-48956142001291362592015-02-04T20:41:00.000+00:002015-02-04T20:41:50.969+00:00Laxmanrao Sardessai - Zalach Pahije (1965) <div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Se Deus é do mundo o pai,<br />Desta terra o é Nath Pai<br />Porque nos ensinou a pronunciar<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Deus antes da criação,<br />Pronunciou ‘Fiat lux’<br />Mas, após a eleição,<br />Vassantrao Naik<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Deus guia o universo inteiro<br />Para a salvação<br />E Esvantrao Chavan<br />Esta mimosa terra<br />Para a perdição<br />Com o seu mantra<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Sou um ignorante<br />Mas, em vez de instrução,<br />Sempre me impingem<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Sou um indigente<br />E persegue-me a fome<br />Mas dão-me, volta e meia,<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Sou um enfermo<br />E sofro da malária,<br />Mas ministram-me<br />Dia e noite doses<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Sou um manducar<br />E para ser batcar<br />- Dizem – devo rezar<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Sou um eleitor<br />E prometeram-me<br />O paraíso inteiro<br />Contanto que diga<br />Sem cessar<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Sou um mestre-escola<br />Mas forçado – sina minha! –<br />A ensinar<br />A crianças inocentes<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Na nossa aldeia<br />Quem não tem ocupação<br />E nos negócios alheios<br />Mete o seu bedelhom<br />É conhecido como<br />“Zalach Pahije”!<br /><br />Aparece nos templos<br />E nas escolas,<br />Nos bares e nos bazares,<br />A odiosa coruja<br />De “Zalach Pahije”!<br /><br />A maneira de fantasma<br />Que persegue a sua vítima,<br />Persegue em toda a parte<br />O goês inocente – <br />O fantasma –<br />De “Zalach Pahije”!<br /><br />Tem entrada<br />Em todos os círculos<br />Quem possui<br />O santo e a senha<br />De “Zalach Pahije”!<br /><br />Suga o sangue<br />Do pacato cidadão<br />A sangue-suga nojenta<br />De “Zalach Pahije”!<br /><br />Do coração soturno<br />Do falido MG<br />Sai o rouco mugido<br />De “Zalach Pahije”!<br /><br />O álcool de alto grau<br />Faz ao embriagado<br />Vomitar bílis<br />Contra quem quer,<br />Assim tem sido<br />O “Zalach Pahije”!<br /><br />Desvirtua e deshonra,<br />Abandalha e corrompe<br />O slogan assolador<br />De “Zalach Pahije”!<br /><br />Conflitos na família<br />Conflitos na sociedade,<br />Conflitos com os amigos,<br />Conflitos com os vizinhos,<br />A raiz de todos eles<br />Está no “Zalach Pahije”!<br /><br />A mentira e a hipocrisia,<br />O crime e a aleivosia<br />São fruto vergonhoso<br />De “Zalach Pahije”!<br /><br />O fantasma hediondo<br />Que profana a dignidade<br />Vilipendia o amor,<br />Cospe no passado<br />E adultera o futuro<br />É “Zalach Pahije”!<br /><br />O fantasma hediondo<br />Que profana a dignidade,<br />Vilipendia o amor,<br />Cospe no passado<br />E adultera o futuro<br />É “Zalach Pahije”!<br /><br />Se, ó goês, queres<br />Viver em paz e harmonia,<br />Repele quanto antes<br />A ignominia fatal<br />De “Zalach Pahije”!<br /><br />Levanta-te e trabalha<br />E não está longe o dia<br />Em que volte<br />Para a terra da sua origem<br />A peste maldita<br />De “Zalach Pahije”!</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-26287910519173725352015-02-04T17:56:00.000+00:002015-02-04T17:56:12.956+00:00Laxmanrao Sardessai - A Minha Velhice (1966)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
- Estás velho, amigo – <br />Duvido. Mas tenho sessenta, sim –<br />- Não basta para ser velho?<br />- Não! Tenho a fescura da relva<br />E o vigor da palmeira<br />Tenho o fulgor do sol<br />E a ligeireza do vento<br />Tenho a esperança da alvorada<br />E o ideal do sonho<br />Tenho a clareza da fonte<br />E a firmeza do monte<br />Tenho a ternura do santo<br />E o fogo do raio<br />- Mas donde lhe vêm esses raros dons?<br />- Da tua bondade, amigo.<br />E da tua vasta simpatia<br />Que, como tu, milhares me dispensam.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-64811069770300151532015-02-03T16:16:00.000+00:002015-02-03T16:16:01.356+00:00Alberto de Menezes Rodrigues - Falam os Terrenos Incultos (1972)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Séculos e milénios decorreram<br />Desde que começamos a existir<br />E ninguém se importou de nós<br />Nenhum homem nos veio arrotear<br />Para aproveitar<br />A nossa força criadora<br />Nós somos em grande número situados<br />Em várias partes desta linda Goa<br />E não poucos de nós fomos beneficiados<br />Com um solo muito rico,<br />Que pode produzir searas luxuriantes!<br />Nós ansiamos por vos levar, ó goeses,<br />A meta da prosperidade.<br /><br />Cresce erva, crescem plantas inúteis,<br />Extraindo do nosso seio <br />Os alimentos que necessitam<br />Todos nos abandonaram!<br />Todos nos abandonaram!<br /><br />Quando, anualmente, o ribombar do trovão<br />Anuncia a chegada do Inverno<br />Para a fecundação<br />Da terra,<br />A nossa ansiedade atinge o auge.<br />Depois, sentimos as carícias,<br />O frescor,<br />Das águas que se despenham do céu,<br />Cantando,<br />- Magnífica dádiva do Senhor<br />Ao povo goês! –<br />Mas nunca lobrigamos ninguém,<br />Nenhum ser humano.<br /><br />Que venha operar<br />Segundo o divino plano,<br />Desbravando-nos,<br />Lavrando-nos,<br />Semeando-nos,<br />Para que tenhamos a ventura<br />De nos desentranhamos<br />Em messes e verdura.<br /><br />Agora que uma nova era raiou<br />Para este pedaço do Concão,<br />Nós recorremos a vós,<br />Senhores governantes<br />Pedimos vos digneis volver<br />Os vossos olhos para nós<br />E satisfazer<br />O nosso anhelo.<br />Desejamos a nossa inclusão<br />Na reforma agrária que foi anunciada,<br />A fim de sermos cultivados.<br />E, se o conseguimos,<br />Nós vos ajudaremos, com prazer,<br />A resolver,<br />O grande problema,<br />Concernante a Goa,<br />Em que estamos a cogitar:<br />A auto-suficiência alimentar.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-30441565887745599902015-02-03T16:13:00.001+00:002015-02-03T16:13:47.426+00:00Telo de Mascarenhas - Ganesh Chaturthi (1971)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Raiou o dia<br />Alegre e festivo<br />Com foguetes a estralejar<br />Em todos os lares<br />Na manhã de sol esquivo,<br />Para festejar<br />Ganesh Chaturthi,<br />O Divino Ganapoti,<br />Guloso de bons manjares,<br />Deus protector e soberano<br />Das searas já espigadas<br />Nesta quadra do ano.<br /><br />Ganesh é festejado<br />Neste dia <br />Propiciador,<br />E invocado<br />Como Deus inspirador<br />Da Arte e Poesia.<br /><br />Com cabeça de elefante<br />E ventre abaulado<br />De guloso e tunante,<br />Percorre a terra montado<br />No rato,<br />Temível ‘assura’,<br />Implacável roedor<br />De todo o género <br />De cultura.<br /><br />A imagem da Divindade<br />É conduzida em procissão<br />Em vistosos andores<br />Pelas ruas da aldeia<br />E da cidade,<br />Ao som de címbalos e tambores,<br /><br />Para o mergulho ritual<br />Nas águas do rio ou do mar,<br />Onde ficam a vogar<br />Grinaldas votivas<br />De flores.<br /><br />Na noite delirante<br />Fogos de Bengala<br />Incendeam o ar;<br /><br />O cheiro do agarvati<br />Deleita e regala.<br /><br />Finda a festividade<br />Fulgurante<br />De luzes e ouropéis,<br />Ficam a ressoar<br />Os cânticos dos fiéis:<br />“a Ganesh namaskar!<br />Vinde para o ano, Ganapoti,<br />Para abençoar a próxima Novidade”</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-56760619305089358992015-02-03T16:11:00.000+00:002015-02-03T16:11:26.369+00:00Walfrido Antão - Escrever, porque e para quem? Ou, o silêncio fala melhor nas tardes de calor (1968)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
A minha casa não é minha/é de vós todos/As palavras que escrevo não são minhas/São de vós também – poeta brasileiro<br /><br />Perguntaram-me outro dia se eu sabia o que era a Vida. Desde a ovulação até a inseminação artificial. Ou as suas manifestações como a velhice de cabelos de prata na noite de prata de destinos cruéis de sofrimento e de ternura. “Teasingly”, afirmaram-me que na filosofia da goanidade, viver era beijar a mão que não se podia cortar. Ou quem não herdou, tinha de m..... Cônscio como sou de que o protesto rebelde é válido e actual, fiquei a lembrar páginas antigas de Nietzsche – uma das grandes benesses do Cristianismo é tornar-nos cordeiros, pois aliás, até os servente e os criados davam cabo de nós. Quanto à Vida, não soube que responder. Ainda penso galgar Sancoale para pedir uma resposta aos heróis da tragi-comédia.<br /><br />Sim, este fado de escrever a horas mortas quando os capitalistas pensam no ‘net profit’, ‘net figures’ e ‘net amount’ (tudo net mas não neat) e o pequeno burguês sorve na inconsistência de cama do casal lonçanias gastas no duro ofício de dactilógrafa, Oficial (oficial sem espada, claro, femino e moderno, tipo 75), o que a esposa burguesa traz além do dote. Escrever com a música da agonia na alma palavras de agonia. Mas porque? Porque não se escolhe o fado, o destino das letras, quem tem olhos de ver que leia.<br /><br />Não haveria outras opções? A luta, a acção directa junta com camaradas que no silêncio heroico de suas vidas constroem um barco, máquinas, arroz e tantos bens de utilidade social? Cada homem leva ao túmulo o que trouxe do berço, e o homem de letras não podia ser excepção. No nosso arsenal, só a pena nos resta. E o agravo de uns quantos ofendidos orgulhosos da sua vitória intitulada “saber viver”. Ou aceitar a horizontalidade de Cristo? Quem sabe, uma das opções?<br /><br />Eu não aceito a afirmação de Cabral e Sá de que a literatura se estagnou com Eça. Se é certo que o nosso Amadeu trazia transparente na sua ironia, as “Farpas” de Ramalho, também é verdade que alguns de nós buscam o autêntico na Arte – que o digam aliás, eles próprios, Mário e Martinho Noronha. Mas compreendo a sua dúvida potente quando afirmou no Simpósio sobre “Goanidade- Mito ou Realidade”. Sim, resta-nos “O Heraldo” mas com o preço do papel quem nos vai ler (cito de memória, não tenho o texto à mão)?<br /><br />Escrever para quem? Eis a dúvida para aquela Jane símbolo e não nome verdadeiro da juventude goesa que lê Nick Carte e se empenha decidadmente com “calças stretch” balão ou bandeira do seu modernismo e desprezar ou ignorar por condição factual a língua e literatura portuguesa num alongamento goês, típico congraçar de duas raízes, duas autenticidades? Para aqueles poucos da velha guarda que vivem e sentem o que sofremos na hora difícil da criação?<br /><br />Desistir não está no meu calendário existencial. Escrever, ainda que seja para uns poucos eleitos e logo vos conto o que se passou em Lisboa nos anos 50. Estavamos à saída do Teatro, lá na Avenida da Liberdade, eu e um jovem do Porto, José Luís de Costa (segue na 3a página) Dias fresco de uma prisão no Peniche por ter assinado um Comunicado de Protesto da M.U.D. ao lado de Rui Cabeçadas, Luís Monjardino. Era uma noite de invernia e a calor da emoçnao com que Eunice Muñoz e Rogério Paulo haviam representado o “Gebo e a Sombra” de Raul Brandão disseminava no espaço confluente as dúvidas da adolescência. E foi então que o Poeta brasileiro nos surgiu, anónimo como “Pedro, o Vagabundo” de Manuel Mendes que pouco antes estivera conosco no Teatro. Vinha de Paris, do Sud Expresso, gostaria conhecer os intelectuais não comprometidos. E dizia versos (ou seria algo de real, penso hoje?) que rezavam assim “Tinha uma casa, lá no Morro, com crioula mulata Pulquéria ou coisa que valha, havia retratos na sala de Generais e Comendadores e uma suposta tia velha parte do recheio. A tia era uma espécie de Símbolo de coragem, e havia negros no Morro [os negros e os curumbins, que estranha identidade pensava eu, goês e indiano?]. Um dia de sol parti à busca de aventura. Mordendo, piscando, esgravatando o solo e por toda a parte, encontrei a comunhão dos homens. <br /><br />“A minha casa não é minha<br />É de vós também!<br />As palavras que escrevo não são minhas,<br />São de vós também!”<br /><br />Esquecer e lembrar é parte da condição humana.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-74142973131310425472015-01-09T15:34:00.000+00:002015-01-09T15:34:16.549+00:00Bicaji Ganecar - A Barca da Minha Vida (1968)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
A barca da minha vida<br />Sempre avança<br />Com a esperança<br />De ver a terra prometida.<br /><br />Abrindo o caminho<br />P’lo torvelinho<br />Ela desliza<br />Com a brisa<br />Com o seu olhar<br />No porvir<br />Que vê sorrir<br />À beira do mar.<br /><br />Aonde se eleva<br />E se torna espuma<br />E no céu a treva<br />Se avoluma...<br />O meu desejo<br />Se aproxima.<br />Mas cá em cima<br />Só pedras vejo.<br /><br />Serviu o país<br />Com o seu suor<br />Foi tudo feliz<br />Com o seu amor...<br />A todos amou<br />Com paixão<br />E rubra ficou<br />Com o chão.<br /><br />Traduzido do original em concanim por Remígio Botelho.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-72948399194673851062015-01-06T15:09:00.000+00:002015-01-06T15:09:06.653+00:00Laxmanrao Sardessai - A Arequeira (1965)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Franzina e bela<br />És da aldeia a pérola!<br />Pareces uma virgem<br />Pura e graciosa<br />Mas também ansiosa<br />Por oferecer ao teu adorado<br />A tua alma amorosa<br />Pareces uma juvem,<br />Clara e sorridente<br />Que encerra no seu seio<br />O tesouro de emoções!<br />Aos teus pés, salta a fonte<br />E gauddi inocente<br />De carícias te cerca<br />E cresces em encantos.<br />E moves em cadência<br />O teu corpo gentil e belo,<br />À brisa ligeira<br />Que sopra na véspera<br />A quatro passos está<br />Erecto e firme e sereno<br />O teu amado, o coqueirom<br />E mira contente os teus meneios,<br />Languidos e eloquentes<br />E os fluidos imponderáveis<br />Que saem do seu seio<br />Envolvem-me, noite e dia,<br />E dão-lhe vigor e vida!<br />E ele, o teu amado,<br />Está ali tão perto<br />Firme e sereno,<br />Alto e forte,<br />A mirar e admirar<br />A tua beleza!<br />Mas, quase sempre<br />Frio e imóvel,<br />Como uma coluna!<br />E tu, inquieta e nervosa,<br />Em vista da sua firme postura,<br />Amimada pelo sopro do vento,<br />Em um gesto forte<br />Procuras abordá-lo,<br />Tocá-lo com as tuas folhasm<br />Comunicar-lhe o teu amor,<br />E então ondulas sacudida,<br />Pela paixão intensa,<br />Num contínuo vai-vem,<br />Até que, num esforço supremo,<br />Roça o teu corpo franzino e belo,<br />Pelo seu corpo forte e vigoroso,<br />E, em um instante, <br />O beijas em um frenesi,<br /> Suspirando, satisfeita!<!--EndFragment--></div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-70185038468229230332015-01-05T18:14:00.001+00:002015-01-05T18:14:30.998+00:00Carmo Azavedo - Lokmanya Tilak (1977)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Bal Gangadhar Tilak nasceu numa família ortodoxa de brâmanes chitpavanes, vulgarmente conhecidos por Konkanastas, por serem oriundos do Concão, em Ratnagiri, em 23 de Julo de 1850. Os seus avoengos eram Khots, que passavam aos olhos do povo como pequenos proprietários, mas eram realmente cobradores de impostos sobre propriedades em nome de um soberano. O seu bisavô, Kashvarao, que era um bom cavaleiro, atiradore e nadador, ocupou um alto cargo no governo dos Peshawas, o qual, porém, deixou quando os ingleses tomaram conta da administração. O seu avô, Ramachandrapant, homem talentoso e versado nas Escrituras Sagradas, teria acabado os dias como sanyasi na cidade santa de Benares, a Roma do Hinduismo.<br /><br />Com os Tilaks reduzidos pelas vicissitudes da fortuna à condição da burguesia, seu pai, Gangadhar, era um modesto professor primário em Ratnagiri quando Bal nasceu. Mas, erudito sanscritologo que se tornou amigo do famoso orientalista Ramakrishna Bandarkar, Gangadhar veio a ocupar finalmente o posto de inspector assistente das escolas primárias em Poona, onde pôde educar melhor o seu filho, que obteve sucessivamente os graus de bacharel em Letras (Matematícas e Sânscrito) em 1876 e em Direito em 1879, distinguindo-se em toda a sua carreira académica como estudante excepcionalmente inteligente, aplicado e disciplinado e revelando desde logo apreciáveis qualidades de independência de carácter, respeito pela verdade e oposição a qualquer forma de injustiça.<br /><br />Concluídas as formaturas em Letras e Direito, foi de facto devido ao seu espírito de independência que Bal Gangadhar Tilak recusou o oferecimento pelo Governo de cargos altamente remunerativos para se dedicar de corpo e alma à causa da educação e da criação de uma consciência nacional no povo. Com este objectivo fundou primeiro a New English School de Poona e posteriormente a Deccan Education Society e o Ferguson College. Mas, devido a divergências de opinião, afastou-se bem cedo daqueles três para tomar inteira conta de dois periódicos, Maratha em inglês e Kesari em marata, dundados por sócios daquela instituição educativa, tornando-se desde então um jornalista militante com a sua pena vigorosa posta ao serviço da causa nacionalista.<br /><br />Acusado pelas autoridades britânicas, que o não viam com bons olhos por causa da sua actividade jornalística de cumplicidade no assassinato do collector Rand em Junho de 1897, Tilak foi arrastado à barra do tribunal por sedição, julgado e condenado à pena de prisão maior celular pelo período de dezoito meses. Graças, porém, à então rainha-imperatriz Vitória por Max Mueller, o ilustre orientalista e amigo da Índia anglo-alemão, WW Hunter, um liberal vitoriano inglês, e os patriotas indianos Dadabhai Naoroji e RC Dutt e em parte também para aplacar o descontentamento que lavrava no país, foi posto em liberdade depois de cumprida a pena po um ano, isto é seis meses antes de expirar o período da sentença.<br /><br />Com as suas ideias extremistas em política, Tilak entrou em conflito, pela primeira vez, com os moderados chefiados por Gopal Krishna Gokhale no Congresso de Calcuttta em 1896, quando declarou solenemente que “o vosso futuro está nas vossas mãos” condenando a atitude de tudo esperar do Governo britânico e recomendando que se pusesse ênfase na educação nacional e no swadeshi. Mas foi só após a partilha de Bengala, no Congresso de Surrate, no ano imediato, que o cisma entre os moderados e os extremistas, estes centrados à volta do Partido Revolucionário de Bengala, liderado por Aurobindo Ghosh, o futuro chefe religioso do ashram de Pondicherry, se tornou completo. Snao desta data os dois celebres artigos do fogoso Tilak no Kesari, “The Country’s Misfortune” e “These Remedies Are Not Lasting”.<br /><br />Novamente processado por se revelar, com os seus escritos, desafecto à Coroa britânica, Tilak foi, a despeito da brilhante defesa pelo abalizado causídico de Bombaim, Joseph Batista, mais conhecido como Kaka (tio) Batista, condenado a seis anos de degredo na Birmânia, onde ficou encarcerado na cadeia de Mandalay até ser posto em liberdade, regressando à Índia, em 1914. Foi na prisão ali que, absorvendo-se na leitura da Bíblia e nas obras de Hegel, Kant, Spencer, Stuart Mill, Bentham, Voltaire e Rousseau, o político se fez pensador e escreveu o seu comentário ao Bhagawat Geeta Rahasya, ou “significado secreto” daquele cântico da epopeia nacional., Mahabharata, dando-lhe uma interpretração nova, inteiramente diferente dos comentadores anteriores.<br /><br />Neste seu famoso comentário do Bhagwat Geeta, Tilak provou que a ideia fulcral desse “Cântico da Bem-Aventurança” é Karma Yoga, afirmando que “ninguém pode contar com a protecção da Providência se se senar com as mãos postas e alijar o seu fardo sobre outros” e que “Deus não ajuda os inactivos, os apáticos” e dirigindo um apelo vibrante à acção. O revolucionário virado filósofo, com a sua interpretação activista do Bhagwat Geeta, formulou assim uma filosofia revolucionária, uma filosofia de acção e nao uma filosofia de renúncia, como queria Shankara.<br /><br />Regressado do desterro na Birmania, Tilak lançou-se na campanha pelo Home Rule, que tinha sido iniciada pouco antes por Annie Besant e, dois anos depois, tornou ao Congresso, que havia deixado por causa das suas desinteligências com os moderados. Após o Congresso de Lucknow, desencadeou por todo o país uma campanha vigorosa pelo Home Rule, que levou até a Inglaterra quando lá foi intentar acção por difamação contra Sir Valentine Chirol pelo seu livro intitulado Indian Unrest, causa que perdeu, mas não sem granjear o apoio de algumas das figuras mais representáveis daquele país, como o jornalista e escritor Edgar Wallace, o dirigente socialista George Landbury e, acima de todos, o chefe do Partido Trabalhista, Ramsay Macdonald, que desde então fez da causa indiana um dos pontos principais das suas campanhas eleitorais.<br /><br />Foi no congresso de Lahore que Tilak proclamou Sampurna Swaraj, ou seja, independência completa como o objectivo final daquela organização política, declarando perentória e enfaticamente: “Swaraj é para mim um direito de nascença e eu alcançá-lo-ei”. De facto, muito antes de Mahatma Gandhi, ao contrário do que geralmente se supõe, foi Tilak quem converteu o Congresso, essa instituição lealista fundada por Octávio Allan Hume, um liberal victoriano, numa organização política militante anti-britânica, ao mesmo tempo que transformou uma plataforma elitista limitada à classe intelectual educada à inglesa num movimento verdadeiramente popular extensivo às massas analfabetas.<br /><br />Como conseguiu Tilak, criar uma consciência política no povo, mas massas? Muito simplesmente. Principalmente, convertendo uma comemoração cívica, o Shivaji Jayanti, aniversário do grando herói marata e uma festividade religiosa, o Ganapati puja, em manifestações de carácter popular. Mais do que o culto de Shakti na Bengala, o de Ganexa serviu a Tilak à maravilha para o fim em vista por se tratar do deus “removedor dos obstáculos”, Vigneshwar, sendo o maior obstáculo de todos o jugo colonial britânico, e o primeiro a ser removido a todo custo. Tilak conseguiu o seu desiderato remodelando o tradicional festival religioso anual, substituindo a celebração privada nos lares pela entronização de uma imagem comum, sarvajanik, numa praça pública, aproximando deste modo brâmanes e não-bramanes e, enfim, fazendo dos deus Vigneshwar o símbolo de um movimento de protesto. <br /><br />Tem-se dito por vezes, por um conhecimento superficial da sua complexa personalidade, que Tilak, radical, extremista, politicamente, era conservador, até reaccionário, em matéria social, como se veria da sua oposição ao Age of Consent Bill para a abolição dos casamentos entre crianças na comunidade hindu ou às medidas profilaticas tomadas pelo Governo de Bombaim por ocasião de peste bubónica. É mister, porém, considerar que Tilak não se opunha em princípio a uma legislação social progressiva nem a providências sanitárias, como as acima mencionadas, mas apenas negava a um potência estrangeira o direito de reformar os usos e costumes indianos ou de adoptar medidas higiénicos ou outras que iam bulir com os sentimentos religiosos do povo. A sua aceitação equivaleria para ele a uma renúncia abjecta ao direito que cada um tem de moldar o seu próprio destino.<br /><br />Tilak não foi apenas um político, foi também um sábio, um erudito, que deixou obras de alto valor, com “Orion ou pesquisas sobre a antiguidade dos Vedas, em que, preferindo os dados astronómicos aos filológicos, provou remontar a 3000 anos AC, a composição dos Vedas e “The Attic Home of the Vedas”, em que, valendo-se também de argumentos geológicos, mostrou serem os Árias originários das regiões árticas da Ásia, duas obras, para não falar de outros trabalhos de menor tomo publicados em revistas de especialidades, que o consagraram definitivamente como erudito arqueólogo.<br /><br />Estabelecido um paralelo entre Lokamanya Tilak e Mahatma Gandhi, escreveu Romain Rolland, na sua biografia deste: ‘Homem de uma rara energia, unindo num feixe de ferro a tríplice grandeza da inteligência, da vontade e do carácter, um cérebro mais vasto que Gandhi, mais solidadmente enriquecido da velha cultura asiática, sábio, matemático erudito, tendo sacrificado todas as exigências do seu gênio ao serviço da pátria e despido, como Gandhi, de toda a ambição pessoal, não esperando senão a vitória da sua causa para se retirar de cena para retomar o seu labor científico. Foi, enquanto viveu, o chefe incontestado da Índia. O que teria sucedido se uma morte prematura o não tivesse arrebatado em 1920? Gandhi, que se inclinava diante da soberania do seu gênio, diferia profundamente dele quanto ao método político e não teria, se Tilak vivesse, conservado senão a direção de certo modo espiritual do movimento. O que seria o levantar dos povos da Índia sob este duplo comando! Nada lhe teria podido resistir porque Tilak possuía o controlo da ação como Gandhi o das forças interiores. A sorte decidiu de outro modo e foi de lamentar para a Índia e para o próprio Gandhi. O papel de chefe da minoria, de elite moral teria correspondido melhorà sua natureza e aos seus íntimos desejos. Gandhi teria deixado de bom grado a Tilak a direção da maioria. Gandhi nunca teve fé na maioria. Essa fé, tinha-a Tilak. Este matemático de ação acreditava no número. Era um democrata nato. Era também absolutamente um político, sem se prender com as exigências da religião. Dizia que a política não é para sadhus. Este sábio teria sacrificado mesmo a verdade à liberdade. E esse homem integro, cuja vida foi de uma pureza imaculada, não hesitava em dizer que tudo é justo em política. O pensamento de Gandhi neste ponto é irredutível. Em face de Tilak, Gandhi proclama que obrigado a escolher sacrificaria a liberdade a verdade.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-69034599672390205192014-12-14T21:54:00.000+00:002014-12-14T21:54:11.310+00:00Leopoldo Garcez Menezes - Jardim de Allah (1952)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
No lindo jardim de Allah<br />De mil noites e de fadas,<br />Dançam moiras encantadas<br />Sob um luar e opala.<br /><br />Os seus olhos são punhais<br />Através do lindo véu,<br />E os seus corpos sensuais<br />São das huris lá do céu.<br /><br />Vem comigo, meu amor,<br />Que m’estás a enfeitiçar,<br />A acalma-me esta dor<br />Com a luz do teu olhar.<br /><br />Paraiso oriental<br />Que encanta e enebria,<br />Jardim de luz e magia<br />Como não há outro igual.<br /><br />Deixou-me extasiado<br />Nem sei minh’alma que sente,<br />Quero viver ao teu lado<br />No jardim eternamente.<br /><br />No teu regaço, ó flor,<br />Peço-te p’ra m’embalar,<br />Que este meu sonho de amor<br />Só contigo há-de findar.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-27009660905507558312014-12-14T21:43:00.001+00:002014-12-14T21:43:36.994+00:00Eduardo Monteiro - O Velho Mar (1961)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
... O Mar vinha cansado e bramia...<br />Enrolada num calmo entardecer,<br />A praia ouvia-lhe os gemidos amodorrados<br />Num suave estremecer de colorações de anil...<br />Escutava, serena, os ralhos de um pai já velho,<br />Que a roda dos tempos tornara rabujento,<br />Num gesto condescendente de filha submissa.<br />Eram os soluços de sempre!<br /><br />... A lassidão de um monstro que, enganado correu mundo.<br />Soçobrou embarcações e náufragos,<br />Enraivecido flagelou rochedos<br />E arrancou do seio escaldante dos desertos<br />Maldições terríveis e segredos;<br />A confissão sincera de um penitente<br />Que, manso, vai pedir durante a noite<br />O perdão álgido de remotas areias e paragens;<br /><br />A alegria infantil, a ingenuidade<br />De um colosso poderoso<br />Que brincava com as árvores da beira-mar<br />E as arrancava<br />Julgando inocente o seu brincar;<br /><br />Em suma, o grito de revolta de um ser ludibriado<br />Que, depois de correr todo o mundo, cai em si,<br />E encontra corpo seu onde tinha começado...<br /><br />... É noite alta. A praia escuta. Os búzios repetem,<br />Fiéis trombetas à ordem do Mar. Só as palmeiras vizinhas,<br />De cabeleira desgrenhada, parecem discordar,<br />As suas palmas dançando na aragem<br />Assobiam mansinho, numa pateada surda,<br /><br />Os feitos do Velho Mar!</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-2860715395100861612014-12-14T21:31:00.000+00:002014-12-14T21:31:42.509+00:00Walfrido Antão - De Mobor a Agonda (Canácona) ou Desenvolvimento, Para Quem? (1982)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
“O problema hoje não é de ECOLOGIA ou de extração da AREIA das praias de MOBOR, mas o de Desenvolvimento, para quem? E à custa de quem? 200 famílias, milhares de pescadores e lavradores de palmeiras não vão gozar de um hotel de cinco estrelas com piscinas e aeródromos...<br /><br />Mas não sei, às vezes é tão difícil escolher numa situação existencial: seria melhor a excavação na Praia para levar a AREIA ou um hotel?”<br /><br />Era uma noite magoada de 76 ou 77. Vieram contar-me a mãe proletária de Francisco Rodrigues, o grande idealista pioneiro dos movimentos ecológicos em Goa, havia sido presa em Margão porque mãe e filho lutavam contra a excavação da areia em Mobor. Ao longo dos anos, desde Cavelossim a Utordá, fizeram greves de fome, comícios, até arrancamos promessas ao Congresso em 77 e 80 que lutariam para acabar com a Extracção da Areia. Na década dos 0, como as lembranças acorrem ao calor do reencontro com a terra alienada em Sancoale, o Arquitecto Urbano Lobo e Mathany Saldanha levantavam o problema da mortandade de peixe em Velsão devido aos efluentes do Reservatório Bhiase e o exczema das crianças. Outra década, outro ânimo de luta, porém, o mesmo idealismo frente aos salafrários Relações públicas, como diria Jorge Amado.<br /><br />As notícias vêm filtradas em rumores. De Agonda em Canacona falam os peixes e as praias, um Hotel de cinco estrelas, quem sabe um casino, um aeródromo, loucas recepcionistas-secretárias para todo o serviço, como exige um projecto de tão grande valor. Mas esse desenvolvimento da região extrema do Sul de Goa, a quem vai favorecer? Certamente, os pescadores e os lavradores de palmeira não poderão frequentar ambiente de tanto luxo, nem necessitam tal luxo na carestia em que vivem, aliás todos os goeses. Mas dirão os tais salafrários: a terra tem de ser desenvolvida e entre as opções de uma Hidroelectrica, uma estação nuclear, minas de areia e um Hotel, o Hotel salvará a ecologia da região e será um benefício a longo prazo. Um outro argumento aduzido é o de que a lavra de palmeira não é uma industria e os filhos dos lavradores com a democratização do ensino acham muito mais proveitoso ir ao Golfo como mecânicos contabilistas, etc do que subir a descer a palmeira duas vezes ao dia e usar um alambique antigo com a lenha tão cara.<br /><br />Profissões tradicionais, herdadas dos pais a filhos quase sempre na mesma família às de Ramponkares e lavradores de palmeira à sura, a dúvida que se impõe nesta época febril de desenvolvimento é a da continuação destas profissões frente a mecanização dos barcos de pesca, portos piscatórios, armazéns-frigoríficos nas praias e fábricas de aguardentes regionais como o Feni e o Caju. São dúvidas dolorosas e angustiantes para quem pensa o decorrer do processo de desenvolvimento com súbitas notificações na Gazeta Oficial expropriando terrenos e teimosamente recusa-se a aceitar que daqui a cinco ou dez anos os goeses serão como os East Indians (os tais norteiros) de Bombaim. Neste contexto de conta-corrente do desenvolvimento vale a pena lembrar o sistema de Prioridades e lamentar na ausência de um Plano sistemático organizado por uma equipe de especialistas e de um Governo capaz (na voz do líder da oposição, Adv. Ramakant Khalap, temos um Governo que abdicou dos seus poderes perante o Administrador deste Território), toda a espécie de salafrários tipo Relações Públicas pode levar avante quaisquer projectos desde que esteja pronto a pagar comissões e tenha contactos... no topo da pirâmide dos poder.<br /><br />Nestas condições, urge aos homens de liderança e quantos são ouvidos e amados pelas massas, desde Morgim até Agonda (ambas aldeias de pescadores) decidir se para além do negativismo da agitação pura e simples e dentro dos parâmetros do amor à Terra – defesa das profissões tradicionais e do habitat – tradição e progresso para salvar a ecologia – mudança e desenvolvimento, há possibilidades de aceitar o menor mal como é o caso de um hotel versus uma fábrica de, por exemplo, ácido sulfúrico, desde que esse mal menor trate de reabilitar quantos vão perder o lar, o tecto e o habitat. No caso de Mobor, como me explicou o ex MLA e distinto advogado Ferdino Rebelo, o que se objecta é a extensão da área expropriada – 15 laques de metros quadrados e não o projecto que tem as suas vantagens. E naturalmente há que defender o aspecto humano das famílias de Mobor – 135 famílias que vão ficar sem texto e outros tantos lavradores de palmeiras. Em Agonda também, o homem tem de ser defendido.<br /><br />A terra e o homem e que se não repita o crime de Sancoale, onde o camarão desapareceu para todo o sempre e o Arsénico e o Ácido sulfúrico são os ingredientes da fauna marítima... Que haja flexibilidade e tolerância e em nome do Desenvolvimento, salafrários das relações públicas não acabem com as nossas profissões tradicionais e o direito ao habitat. Que Goa continue.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-80282972249326715392014-12-11T11:49:00.000+00:002014-12-11T11:49:07.274+00:00Laxmanrao Sardessai - O Socialista (1965)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Proclamas incessante o teu socialism – <br />Que para ti não é mais que uma arma<br />Para angariar votos dos parvos e lorpas<br />Cuja ignorância o astuto brâmane<br />Explorou durante séculos<br />Em seu proveito.<br />Mas tu és mais astuto que o brâmane.<br />O brâmane ignorava então o socialismo<br />Que tu sabes utilizar ardilosamente<br />E misturando-o com a democracia<br />Logra produzir uma alquimia<br />Que o brâmane astuto poude imaginar nunca<br />Ele explorava sim, mas dezenas.<br />Tu exploras milhares de operários,<br />Que suam ou tiritam para acumularem<br />Montes de minério de que tu, sentado<br />No palácio recebes laques em ouro!<br />Eles pobres vivem ainda em cabanas<br />E merecem tratos de galés!<br />Só os teus lábios proferem o socialismo.<br />Mas os teus actos proclamam<br />Que tu és mais opulento e insaciável<br />Do que os antigos monarcas<br />Que em si viam<br />O povo, a nação e o mundo!</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-72836763221188631932014-11-20T15:52:00.001+00:002014-11-20T15:52:28.207+00:00Laxmanrao Sardessai - Gaudó (1965)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Tu és o filho do areal,<br />Filho dilecto da terra<br />Filho genuíno das eras pristinas,<br />Que a viram desbravada<br />Por teus antepassados<br />Que, pela vez primeira,<br />Cortaram as florestas<br />Aplainaram os acidentes<br />E a colonizaram para ta legar,<br />Glorioso legado que, como filho dedicado,<br />Sabes preservar dando-lhe<br />O amor que só tu podes guardar<br />Na tua alma simples e abençoada.<br />E abnegado és porque o teu coração<br />Não conhece a recompensa monetária,<br />Para ti o arecal é o amor<br />Florido e frutificado<br />E ele, por sua vez, oferece-te<br />Todo o tesouro enterrado.<br />As arequeiras, quais virgens delicadas,<br />Abrem sobre a tua cabeça<br />Inúmeros guarda-sóis para te resguardar<br />Contra os rigores do sol.<br />E as árvores de chanfas,<br />Brancas ou amarelas,<br />Perfumam o ambiente da tua herdade<br />E as correntes da água,<br />Serpenteando por toda a parte,<br />Beijam com veneração os teus pés.<br />Tu cavas e regas<br />E nunca no teu espírito<br />Dás guarida aos cálculos materiais,<br />És frugal nos teus hábitos,<br />Como os rishis, teus avoengos,<br />O teu corpo quase nu,<br />Simboliza o esplendor da natureza<br />Que, à maneira duma mãe,<br />É para ti generosa,<br />Ó irmão! Quem me dera<br />A ventura de, em tua companhia, <br />Ir cavar!</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-7531368004668397472014-11-02T19:29:00.000+00:002014-11-02T19:29:30.080+00:00Ventura Pereira - Mulher! (1960)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
(Da conferência do autor sobre sobre ‘Terra Bendita’ de Pearl Buck)<br /><br />Não é no infrene rodopio de danças<br />E no ruído e frenesi de folganças;<br />Não é ao ritmo cadenciado de tangos vaporosos<br />Nem nos teatros à ribalta de camarotes luxuosos,<br /><br />Que tu és bela, ó Mulher deste século de enganos<br />Não é nos salões doirados que tu brilhas e irradias,<br />Nem com figurinos exóticos e cosméticos ufanos,<br />Que a tua beleza e elegância evidencias;<br /><br />Mas és bela quando o perfume e fulgores da Virtude<br />Espalhas alegria qual anjo do lar em plena magnitude.<br /><br />És grande quando amparas do pai e da mãe a velhice<br />E quando acodes na pobreza os infelizes;<br />És sublime quando velas à cabeceira de enfermos as crises<br />E sempre que o teu coração ao pronto alheio se abrisse.<br /><br />Então, sim, és realmente bela, grande e sublime,<br />Cantando a Canção do Trabalho e a alegria do Lar,<br />Atenuando o infortúnio e aliviando o penar<br />Suavizando o sofrimento e a dor que oprime;<br /><br />E cuidando o teu espírito e minimizando de outros os ais,<br />Avocas em abundância as bênçãos divinas,<br />E elevando as almas a DEUS, te sublimas<br />E te elevas a ti as alturas celestiais.</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-65820622121695527252014-11-02T19:27:00.000+00:002014-11-02T19:27:07.116+00:00Laxmanrao Sardessai - Suspiros (1966)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
A brisa da noite<br />Traz-me suspiros,<br />Longos e profundos,<br />De entes desconhecidos<br />Dispersos pelas aldeias<br />Em cabanas tristes.<br />Carpindo misério,<br />Ao lado dos pais velhos<br />Que saudaram largamente<br />O dia da Independência<br />E sorriram largamente,<br />Esqueceram as horas pungentes<br />Que passaram no terror,<br />Semeado pelas armas portuguesas.<br />Suspiros longos e profundos<br />De entes abandonados,<br />De meios de vida destituídos<br />Que, durante longos anos,<br />Vegetaram nas prisões<br />Ou erraram pelos ermos e florestas<br />Comunicando aos seus irmãos<br />A mensagem da liberdade<br />Abandonaram os lares<br />Aos acasos da sorte<br />Correndo perigos tremendos<br />Lavando vida de misérias.<br />Raiou, enfim, a nova era<br />Mas suspiros profundos<br />Ainda saem de corações doridos!<br />Suspiros que anelam<br />O bem dos pais velhos<br />E dos irmãos e filhos,<br />Votados à miséria<br />Pela indiferença dos cegos<br />Que florescam na glória do poder.<br /><br /> <br /><br /> </div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-25607477594237085972014-11-02T19:21:00.000+00:002014-11-02T19:21:30.543+00:00Leopoldo da Rocha - Caminhos de Luz por Alberto de Menezes Rodrigues (1963)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
O autor, nosso distinto conterrâneo, publicou em 1958, em aprazível edição pela Tipografia Rangel, o livro acima intitulado, que mereceu louváveis referências do douto crítico Agostinho Veloso. Três novelas perfazem o livro e têm elas por título: “Almas plenas de sol”, “Vinde a mim” e “Audácia Vitoriosa”.<br /><br />Numa época como a nossa, de sensibilidade muito esquisita, afeita a padrões de Hemingway, à análise introvertida de um Proust, à poesia em estado bruto que o realismo social como um Jorge Amado e, entre nós, Orlando da Costa tão bem exploraram, o género convencional de ‘bonitas’ histórias, simples, ingénuas, edificantes, muito bem construídas, são de molde a desagradar a certa casta de leitor.<br /><br />Outros, como nós, amariam experiências ocasionais que este último tipo de leitura proporciona. Ao lermos livros como “Caminhos de Luz”, muita vez nos sentimos melhor, como que respirando um ar puro, da inocência dos campos, após uma alucinada digressão pela moderna cidade.<br /></div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-4403706884930718092014-10-17T15:28:00.003+01:002014-10-17T15:28:48.581+01:00Laxmanrao Sardessai - Prazer (1966)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
O meu prazer é puro e infinito<br />Porque é absoluto.<br />Para fruir o prazer<br />A mãe precisa do filho,<br />O avarento do dinheiro,<br />O folgazão do vinho<br />Mas eu desfruto o prazer<br />Do prazer de todos eles<br />Quando vejo os brincos das crianças<br />O deslizar duma vela,<br />Pelo mar ou rio<br />O murmúrio duma fonte,<br />O vôo duma ave,<br />Pelo azul celeste<br />Ou duma nuvem ligeira,<br />A queda da água<br />Das alturas dum monte,<br />Os balouços da arequeira<br />Aos caprichos do vento<br />O romper da alva<br />Num incêndio de cores,<br />Quando vejo tudo isto<br />Um prazer puro e absoluto<br />Inunda o meu ser.<br /><br /> <br /><br /> </div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-66893477818962074372014-10-13T18:08:00.001+01:002014-10-13T18:08:24.042+01:00Hipólito de Menezes Rodrigues - Histabílis (Poemeto) (1968)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Rosa que estás na roseira,<br />Sorrindo à minha desgraça<br />Lembra-te que neste mundo<br />“Tudo muda, tudo passa”<br /><br />Passa a desgraça mais crua,<br />Morre a ventura mais linda,<br />Surge o que menos se espera,<br />O que mais se estima finda.<br /><br /><div>
Escuta: eu também fui belo<br />Fresco como os laranjais,<br />Robusto como os coqueiros,<br />Alegre como os pardais.<br /><br />Também no meu pobre peito,<br />Vi uma roseira florir,<br />E sob o sol de amarguras,<br />Seca e triste se sumir.<br /><br />***<br /><br />E vê, minha ingénua rosa,<br />Tu que me estás a sorrir,<br />Como neste eterno enigma<br />Ninguém sabe o que há de vir<br /><br />Vê, como passa a ventura...</div>
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Vê, como surge a desgraça...<br />Neste mundo, minha flor<br />“Tudo muda, tudo passa”</div>
</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-77937168481327444212014-10-13T18:04:00.001+01:002014-10-13T18:04:45.938+01:00Clara de Menezes - Anseio (1976)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Amar-vos, como é doce, meu Jesus,<br />Mormente, nesta Quadra do Natal!<br />A manjedoura dura do curral<br />Viste irradiar fulgente luz.<br /><br />Teu olhar de Menino me reduz,<br />Apoquenta-te o frio, ó Príncipe Real?<br />Mas por mim, bicho vil, sofres o mal<br />Ensina-me a aguentar a minha cruz.<br /><br />Aumenta mais e mais a provação<br />Guiando-me pela tua divina mao,<br />Descobre-me os segredos da crua dor.<br /><br />Imolar-me na ara p’lo inimigo,<br />Acabando assim meus dias contigo<br /><br />É o meu anseio de louca pelo Amor</div>
Paul Castrohttp://www.blogger.com/profile/09702943428130038380noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2244209159842004707.post-5683496120399679422014-10-13T17:57:00.001+01:002014-10-13T17:57:18.325+01:00Walfrido Antão - De poetas, um que outro ganhiano ou as fronteiras de Vishal Gomantak (1977)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<i>Um poeta que tem fronteiras definiu-se si próprio: escreve para um fim.</i><br />Dom Moraes é um poeta quase da minha geração que se tornou subitamente conhecido do grande público leitor de jornais não porque era filho de Frank Moraes ou detentor do Prémio Jovem Precoce da Pesia mas por um acidente da sorte (ele nega agora que I am born lucky) – o de ter espalhafatosamente renunciado à Cidadania Indiana como protesto contra a entrada de tropas indianas na manhã de 18 de Dezembro de 1961 em Goa, terra de seus ancestros com certa apologia ou genealogia de casta de que se ufana numa biografia comercial de um grande industrial goês que cheguei a ler numa das escapadas a Bombaim. E foi mau que assim se desse a conhecer um bom poeta de língua inglesa que o “born lucky” com meios e contactos na Europa e no mundo conseguiu anichar para si um dos primeiros lugares da Imprensa mundial. Um poeta deve ser conhecido pela qualidade do seu verso, não pelo escândalo de decisões playboxianas que o Capital e o Monopólio Internacional tem tanto prazer em publicitar.<br /><br />Devoto de seus versos que me falam à sensibilidade mas não contêm mensagem, apelo de ideais que superassem a vulgaridade dos “drinks nos bares de Algiers ou Hong Kong” que qualquer Playbox capitalista pode servir-se como e quando quiser, uma estranha dúvida, dúvida sobre o carácter da validade de uma literatura de espalhafato, de escândalo topo “oh, deve ser bom livro, foi escrito por Dom” me persegue desde que li alguns dos seus livros em prosa como Autobiografia onde as suas justificações de não ser GAY já sabem o que é não deviam ser incluídas. “People that Matter” etc. Procuro ao longo de tantas lindas páginas que me falam à sensibilidade, um motivo ideológico, alguma preocupação do homano, uma Utopia ao menos e só vejo longas tiradas como foi recebido no Brasil onde esteve em missão da ONU para estudar o problema de explosão populacional, como um poeta surrealista sangrou-se a si próprio por influência do ALCOOL e DROGAS, passagens lindamente trabalhadas mas percorridas por um frio gélido de vazio interior, de movimento dramático de vivências superadas, de apelos ao Desconhecido da Utopia que como bom poeta devia trazer em cada palavra ou ao menos na sequencia de imagens. Mas o que encontrei foi BOOZE, DRINKS, sangue e uma que outra mulher como gratificação ou compensação de um eu por se definir. E foi pena porque anos seguidos andava a rezar seus versos com uma prece à Musa. O seu último trabalho, aliás primeiro no “Illustrated Weekly” intitulado “Of Time and Place” fala dos 40 anos na vida do escritor frente ao problema da Morte (assunto aliás tão bem estudado desde Balzac a Malraux e Júlio Dantas) mas pena é que de novo à banalidade do drink do bar e das lágrimas, sem um gesto sequer de Absurdo ou Revolta ou então definição da Aceitação de um Poder superior. Só palavras como Stench, to be impotent, not to wine and dine, como se a Vida de um Poeta fosse isso.<br /><br />Às vezes penso em como a tradição latino-americana em que se baseiam as literaturas francesa, espanhola, portuguesa e brasileira obriga ao escritor a ter umas ideias junto com PALAVRAS. É a diferença que vai de uma literatura séria somando o HOMEM como DIMENSÃO à outra de vendas espectaculares, de rendimentos fabulosos. Esta agonia de ver o vazio interior em literatura.<br /><br />***<br /><br /><div>
Não sou político mas homem de Letras e como tal cheguei a conhecer na declamação de Madhu Manguesh Kunk e tradução de Deshmukh num flat da Junta House há anos a Poesia do nosso celebrado vate Bakibab Borkar e confesso que minha alma virou adepta da sua Poesia. Nos meus encontros em Bombaim com literatos em marata fiquei a conhecer mais da sua obra e foi assim, mais magoado que revoltado, li uma sua recente declaraçãoo ao “Free Press” (página interior) que apoiava a ideia de Vishal Gomantak porque restabeleceria as fronteiras da tradição de Goa, por muito tempo separadas do núcleo mãe goesa. Para que um poeta como Bakibab Borkar que foi presidente do Instituto Menezes Bragança e parecia aceitar a definição da Índia de Gandhi como janela aberta e todas as correntes de Cultura volta agora à paróquia de uma Vishal Gomantak, para que um Poeta fazer um volta-face à própria POESIA que deve ser geografia da alma sem fronteiras? Será que o Poeta anda a viver o “drama de Jean Barois” de Roger Martin du Gard em outro plano, a religião sectária, será? No cansaço da velhice? Será possível tão grande regresso ao paroquial? Outro, já não poeta que eu saiba, mas gandhiano, Ravindra Quelecar cujas notas sobre Ahimsa me traziam alívio à luta de classes que os intelectuais marxistas consideram como a única SALVAÇÃO até para eliminar o Castismo do Poeta da Casta, armou à fala no Navhind para defender a ideia da Vishal Gomantak e exortando a Comunidade católica a não ter MEDO. Porque MEDO, não sabemos, nem tão pouco compreendermos esta atitude paternal quando todos somos indianos e distinções da Religião e Constituição não alberga. Ou será que a senilidade traz a Religião à mente quando a hora presente é da luta pessoal à base de mérito. Porque MEDO?<br /><br />Ai como nesta mal-aventurada Goa os políticos metem a Religião de permeio. Como Gandhi os absolverá do comunalismo <i>Não são eles que...</i></div>
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