Monday 18 March 2013

João Fernandes - Gauddés em Marcha (1973)

Na sua marcha veloz e ascensional, assim como o tempo renova incessantemente, assim também os gaudés de Goa em 21 de Setembro próximo findo, organizaram-se e reivindicaram os seus direitos cívicos e políticos reconhecidos pela Constituição.

Porém, a organização basilar dos seus direitos cívicos e políticos, conforme as sugestões e directrizes por eles indicadas na referida sessão do 21, consistem no seguinte:

Que eles devem ter todos os direitos e regalias quer materiais, intelectuais, espirituais e ainda corporais, numa só união, porque sem esta não pode haver força – porque embora o sábio Legislador indú Manu tenha consagrado nos seus “Institutos” a divisão de sociedade indiana em castas ou classes, estabelecendo para cada uma delas certos preceitos que naqueles nebulosos tempos talvez tivessem a sua razão de ser mas que, hoje não podem nem devem manter-se, porque a instrução e ilustração tem-se penetrado em camadas as mais ínfimas das classe, havendo entre eles Advogados, Médicos, Engenheiros, Professores, Escritores etc., como por exemplo o Dr. Ambedkar, o arquitecto da Constituição.

Que o Governo deve tomar e resolver o assunto por forma a que na futura Assembleia Legislativa eles tenham pelo menos dois assentos ou lugares reservados, como seus representantes e também quanto à instrução tanto o Ensino Primário como Ensino Secundário – gratuitamente porque mesmo que a Instrução Primária seja gratuita não têm eles possibilidades financeiras para mandar os filhos à escola pois há certos a quem ainda falta o pão quotidiano! Nesta parte, ainda eles reclamam insistentemente que devem ficar beneficiados com os subsídios necessários quanto à Instrução Secundária Superior e assistência financeira para o progresso da sua classe.

De resto, não havia necessidade de até fazer as sugestões como se fizeram no referido dia 21, porque automaticamente, impendia ao Governo o dever de fazer cumprir a Constituição sem, distinção de castas, classes e credos.

Porém, sabe-se que a Sub-Comissão do Conselho Informal que estava encarregada do estudo das classes atrasadas, já tinha proposto que a classe dos gaudés, indistintamente da religião, fosse incluída nas classes esqueduladas ao abrigo do Art. 3.32 (XII) da Constituição, e com maioria dos votos, esta sugestão fora apreciada por iniciativas louváveis dos seus membros. E, porque o Governo, pondo de parte todas estas sugestões e apoios tomou numa decisão que os desprotegidos da sorte, Gaudés, fossem afastados das facilidades que lhes confere a Constituição.

Acha quem escreve estas linhas que, se o Governo não tomou medidas adequadas por forma a satisfazer os seus referidos anseios, é porque porque desvirtuou a verdade a verdade por órgãos da informação e isto poderá trazer incalculáveis consequências.

Em média, o número da população dos Gaudés dos Territórios da União de Goa, Damão e Diu oscila entre 50.000 e 60.000 e estes estão dispersos em diversas partes, incluindo sítios montanhosos em busca do seu pão. Se todos estes tivessem residência nos centros urbanos poderiam ter conhecimento do que se passava por este mundo fora, e tendo este conhecimento natural e logicamente teriam imediatamente curiosidade de escolher pelo menos dois membros na Assembleia Legislativa.

A classe dos Gaudés é constituída presentemente de Gaudés Indús, os Gaudés Convertidos e os Gaudés Curumbis, sendo por conseguinte constituído de quatro grupos. Dentre aquelas a dos Gaudés Indús e dos Gaudés Convertidos, a situação é razoável.

Quanto às restantes duas – é ainda pior do que a daqueles a quem nós chamavos rebotalhos ínfimos da sociedade, isto é Harijans, Depressed Classes.

Encarado todo este problema sob o ponto da vista lógico e moral parece-me que por falta de devido apoio e estímulo a classe dos Gaudés revertidos, cada vez está a voltar ao estado de degeneração em vez de o ser para regeneração, porque depois do ano de 1928, e no louvável intuito daquele que o fez converter, ninguém se importou nem trabalhou para levar a efeito o fim desejado e a iniciativa teve em vista!

Não só isto. Mais ainda: a class dos Gaudés, que são chamados o Curumbis infelizmente não foram contemplados e beneficiados dessas regalias, visto estes terem sido considerados no meio social como os Harijans.

Quem escreve estas linhas é um dos da referida classe, com alguma instrução e ilustração e que a bem dos interesses da sua classe trata desta questão em público.

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