Wednesday 27 February 2013

Eduardo Meirelles - Fantasia Goesa (n.d.)

A noite saíra, fazendo o seu turno
Pela praia deserta onde o vento bailava.
Pousado num muro, um mocho nocturno
Piou tristemente. – Serídia sonhava
Num vulto que vinha, rasgando a paisagem,
Por sob os coqueiros que a Lua embranquece.
Vem só, meditando, que triste viagem!
Mas traz Sol nos olhos que olhado entontece.
Donde virá ele? Que rude caminho!
Avança gingando, traz veste do mar...
Mas quem será ele que à noite, sozinho,
Parece perdido... Parece sonhar?!
Serídia acordava do seu sonho lindo,
E, abrindo uma porta que deita p’ró mar,m
Ouviu, fascinada, um homem, sorrindo,
Cantar suas penas à luz do Luar!
E as horas que a Lua batia na alma
Da pobre Serídia, d’amor despertando,
Levaram esse homem pela noite calma
Chorando sorrindo, sofrendo e cantando!
Na praia deserta, Serídia ficou
Chamando por ele... Por um nome qualquer.
Ele ouve; não para; e ao longe cantou
Suas penas d’amor... Por outra mulher!
Beijaram-se os meses: ei-lo que voltava.
O mar tranqüilo, sereno se ouvia,
E a Lua, enlutada, no Céu se embrulhava.
Chamou: nem viv’alma! Na praia sombria
Só algas boiavam à tona das águas.
O vento cessara seus loucos bailados.
E o mocho nocturno chorara tais mágoas
Que a vista perderam seus olhos vidrados.
Abraçåm-se os anos: eis grita,h já calma!
Seu corpo balouça na cruz d’agonia.
Na casa da praia, extinguiu-se a chama.
Ninguém lhe responde – Serídia dormia...

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