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Monday, 27 December 2010

Maria Elsa da Rocha - Goa, Esse Teu Sari (1963)

Goa,
bebe a luz
 do facho da Liberdade
a longos haustos
se os quiseres.
Mas filha,
dá antes um jeitinho
às pregas desse teu sari
desarranjado.

Se quiseres,
põe carmim
nessa tua boca,
pálida e sofredora.
Mas disfarça um nadinha
nas dobras do pallav
o alvoroço
que te vai a alma.

Se quiseres,
vai,
mistura-te na manhã
e azula
o sonho sidéreo
do Vagueri sonhador...

Depois,
devagarinho
arrastando o sari
verde lentejoilando,
junto ao espelho do Mandovi,
empoa-te, filha,
na doirada poeira
que jorra
desse poente
incandescente.

À noite,
se quiseres,
inda podes brincar,
alegre,
cozendo ao sari
de cacimba-húmida
a leitosa espuma
da cascata sempre a dar...

Mas menina,
sê cautelosa!
manda a brisa, tua amiga,
dizer ao velho Himalaia
que cerre a cortina dos Gates,
que ventos insólitos
te podem arrancar
com fúria libidinosa,
gananciosa
pedaços
desse teu pobre manto...

Saturday, 12 February 2011

Maria Elsa da Rocha - Sâdhu (1962)

Sâdhu,
Já sei porque me olhavas
Com esse olhar turvo
Das cheias do Ganges
Acaso tinha eu culpa,
Se era o que era
Qual barca vogando
No oceano da Vida?

Se vivia…
Trazendo em mim
Complexos de tendências
Adquiridas e inatas
Sob o peso asfixiante
De séculos ocidentais
Que me não deixavam em paz
Um só momento fugaz
E que me cobriam a alma
Em avalanchas de neve
De Saudade distante?

Se, receosa…
Ia vogando sozinha,
À volta sentindo
Falésias ruins?

Não desfrutando da Vida
A essência subtil
Que aliás nos tornava
Assim tão afins?

Sadhu?
Porque me olhavas assim?
Acaso não te lembravas
Que um Brahmane em Goa
Sob um forçado de séculos
A que o havia votado
Um mero capricho do Fado
Inda há pouco
Tinha de ser assim?...

Jai Hind!

Wednesday, 16 February 2011

Maria Elsa da Rocha - Ouça (1967)

Ouça:
Como estou cansada
De ver Você desprezada
O Passado não foi bastante
P’ra nos convencer
Que o Futuro seria bem grande
Dando a Você um lugar adiante?

Ouça:
Como vai ser
Quando a saudade
Comigo for morar
E eu baixinho chorar
Por nada ter para dar
Para Você, meu bem querido,
Que todos me ensinaram a não amar?

Ouça:
Que devo fazer
Quando a lembrança de Você os castigar
Como de alguém
Que só carinho andou a mendigar
Deles, que amor tinham para lhe dar
Mas que fizeram questão de não dar,
Fizeram questão de a renegar?

Ouça:
Quando a garra adunca
Da maldita Ambição
Surgir mansinho, pingando fel,
P’ra apagar com ranhuras de sangue
O vinco mole de certos corações
Sim, então, que vai ser de nós?
Orfãos de Você, língua-mãe?

Monday, 7 March 2011

Maria Elsa da Rocha - Não Tens Personalidade? (1963)

Não tens personalidade?
Com esse teu ar singelo e reservado
De homem educado
Que na multidão de gentes,
Alias do mesmo subcontinente,
Te faz ficar só,
Embora contente,
Fruindo duma forma peculiar
Esse momento vital?

Não tens personalidade?
Quando ris e choras
Nesse mandó dolente,
Qual beijo suave
Do Ocidente com o Oriente,
Numa simbiose de sons
Que evocam teu Passado
De machilas e boiâs,
Palanquins opalescentes?

Não tens personalidade?
No olhar firme
Do homem comum
Que calmo enfrenta
Monções irregulares
Na certeza absoluta de haver pão..
Para outro dia tão igual...