Tuesday 17 July 2012

Xavierito Coelho - A Morte da Anoneira (1970)


Na traseira da Capela,
Estava a linda anoneira,
Com sua viçosa umbela,
Sempre farta e fruteira.

Dava, pois, abundante fruto,
Sem proveito ao proprietário
Livre era esse seu produto
Para todo o mandatário.

Assim foi ela crescendo
Dando-se em linda árvore,
Da terra a seiva bebendo,
Fez-se coluna de mármore.

Dava sempre muito fruto,
Volumoso, saboroso,
Da anoneira o bom produto
Fascinava o cobiçoso.

A árvore tinha seu Senhor,
Bom, manso, despretencioso,
De bens vivendo ao promor,
Satisfeito, orgulhoso.

Não rendava ele a anoneira,
Nem recolhia o seu fruto,
Perdia desta maneira
O valor do seu produto.

Fez nascer ao ambicioso
O sexto sentido seu,
De galdir, o delicioso
Bem, cobrindo-o de negro véu.

Desta maneira, a anoneira,
Foi pertencer ao terceiro,
Da Capela na traseira,
P’las artes do trapaceiro.

Com isto ninguém se importou
Desta sorte, ela, a anoneira,
Forçada, a outro dono entrou,
P’la sua torpe maneira.

A anoneira resentiu
De se mudar de dono,
E fadário seu cumpriu,
E morreu dentro de um ano.

Parece, enfim, triste sonho,
O fim da roble anoneira,
Acabrunhado, medonho,
Morreu a bela fruteira!

Partiu na boca a castanha
De quem a árvore ia galdir.
O que é igual à façanha
Do alheio na rua faz despir.

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