Um poeta que tem fronteiras definiu-se si próprio: escreve para um fim.Dom Moraes é um poeta quase da minha geração que se tornou subitamente conhecido do grande público leitor de jornais não porque era filho de Frank Moraes ou detentor do Prémio Jovem Precoce da Pesia mas por um acidente da sorte (ele nega agora que I am born lucky) – o de ter espalhafatosamente renunciado à Cidadania Indiana como protesto contra a entrada de tropas indianas na manhã de 18 de Dezembro de 1961 em Goa, terra de seus ancestros com certa apologia ou genealogia de casta de que se ufana numa biografia comercial de um grande industrial goês que cheguei a ler numa das escapadas a Bombaim. E foi mau que assim se desse a conhecer um bom poeta de língua inglesa que o “born lucky” com meios e contactos na Europa e no mundo conseguiu anichar para si um dos primeiros lugares da Imprensa mundial. Um poeta deve ser conhecido pela qualidade do seu verso, não pelo escândalo de decisões playboxianas que o Capital e o Monopólio Internacional tem tanto prazer em publicitar.
Devoto de seus versos que me falam à sensibilidade mas não contêm mensagem, apelo de ideais que superassem a vulgaridade dos “drinks nos bares de Algiers ou Hong Kong” que qualquer Playbox capitalista pode servir-se como e quando quiser, uma estranha dúvida, dúvida sobre o carácter da validade de uma literatura de espalhafato, de escândalo topo “oh, deve ser bom livro, foi escrito por Dom” me persegue desde que li alguns dos seus livros em prosa como Autobiografia onde as suas justificações de não ser GAY já sabem o que é não deviam ser incluídas. “People that Matter” etc. Procuro ao longo de tantas lindas páginas que me falam à sensibilidade, um motivo ideológico, alguma preocupação do homano, uma Utopia ao menos e só vejo longas tiradas como foi recebido no Brasil onde esteve em missão da ONU para estudar o problema de explosão populacional, como um poeta surrealista sangrou-se a si próprio por influência do ALCOOL e DROGAS, passagens lindamente trabalhadas mas percorridas por um frio gélido de vazio interior, de movimento dramático de vivências superadas, de apelos ao Desconhecido da Utopia que como bom poeta devia trazer em cada palavra ou ao menos na sequencia de imagens. Mas o que encontrei foi BOOZE, DRINKS, sangue e uma que outra mulher como gratificação ou compensação de um eu por se definir. E foi pena porque anos seguidos andava a rezar seus versos com uma prece à Musa. O seu último trabalho, aliás primeiro no “Illustrated Weekly” intitulado “Of Time and Place” fala dos 40 anos na vida do escritor frente ao problema da Morte (assunto aliás tão bem estudado desde Balzac a Malraux e Júlio Dantas) mas pena é que de novo à banalidade do drink do bar e das lágrimas, sem um gesto sequer de Absurdo ou Revolta ou então definição da Aceitação de um Poder superior. Só palavras como Stench, to be impotent, not to wine and dine, como se a Vida de um Poeta fosse isso.
Às vezes penso em como a tradição latino-americana em que se baseiam as literaturas francesa, espanhola, portuguesa e brasileira obriga ao escritor a ter umas ideias junto com PALAVRAS. É a diferença que vai de uma literatura séria somando o HOMEM como DIMENSÃO à outra de vendas espectaculares, de rendimentos fabulosos. Esta agonia de ver o vazio interior em literatura.
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Não sou político mas homem de Letras e como tal cheguei a conhecer na declamação de Madhu Manguesh Kunk e tradução de Deshmukh num flat da Junta House há anos a Poesia do nosso celebrado vate Bakibab Borkar e confesso que minha alma virou adepta da sua Poesia. Nos meus encontros em Bombaim com literatos em marata fiquei a conhecer mais da sua obra e foi assim, mais magoado que revoltado, li uma sua recente declaraçãoo ao “Free Press” (página interior) que apoiava a ideia de Vishal Gomantak porque restabeleceria as fronteiras da tradição de Goa, por muito tempo separadas do núcleo mãe goesa. Para que um poeta como Bakibab Borkar que foi presidente do Instituto Menezes Bragança e parecia aceitar a definição da Índia de Gandhi como janela aberta e todas as correntes de Cultura volta agora à paróquia de uma Vishal Gomantak, para que um Poeta fazer um volta-face à própria POESIA que deve ser geografia da alma sem fronteiras? Será que o Poeta anda a viver o “drama de Jean Barois” de Roger Martin du Gard em outro plano, a religião sectária, será? No cansaço da velhice? Será possível tão grande regresso ao paroquial? Outro, já não poeta que eu saiba, mas gandhiano, Ravindra Quelecar cujas notas sobre Ahimsa me traziam alívio à luta de classes que os intelectuais marxistas consideram como a única SALVAÇÃO até para eliminar o Castismo do Poeta da Casta, armou à fala no Navhind para defender a ideia da Vishal Gomantak e exortando a Comunidade católica a não ter MEDO. Porque MEDO, não sabemos, nem tão pouco compreendermos esta atitude paternal quando todos somos indianos e distinções da Religião e Constituição não alberga. Ou será que a senilidade traz a Religião à mente quando a hora presente é da luta pessoal à base de mérito. Porque MEDO?
Ai como nesta mal-aventurada Goa os políticos metem a Religião de permeio. Como Gandhi os absolverá do comunalismo Não são eles que...