Manuel de Seabra, escritor português de hoje e que se empenha em desvendar os valores da literatura goesa, quer aqueles que estão cobertos pela poeita dos tempos, quer os outros a quem, por circunstâncias várias não é fácil vir à luz, acaba de nos remeter uma colectânea sua das obras de Moniz Barreto.
Moniz Barreto, escritor goês, mais conhecido em Portugal que na sua própria terra, foi autor da “Literatura Portuguesa Contemporânea” e outros trabalhos dispersos em revistas, além de um livro sobre Oliveira Martins. Mesmo em Portugal, tendo-se colocado no futuro em relação ao presente em que vivia, só mais tarde, passada a embriaguez das correntes literárias dominantes, é que o seu nome se notabilizou e a sua obra, curta embora, foi avaliada por todos.
Não é de grande importância decidir se Moniz Barreto tinha nas veias sangue indiano, português puro ou híbrido. É um questão discutida e discutível, como o próprio Seabra a põe, deixando na contenda Vitorino Nemésio, Pereira de Lima e mais outros. A discussão continua. Este problema do sangue é coisa convencional e atómica, digamos, e o que interessa é a atitude subjectiva. Moniz Barreto passa por ser goês nado e adolescido em Goa. E, por regra geral, não devia enjeitar a terra do berço. Excepção a esta regra não a conhecemos.
Como quer que seja, Moniz Barreto fica fora de qualquer escola ou tendência de época para ser o criador da critica literária em Portugal, o que não é pouco para quem morre com 31 anos apenas. Antes pelo contrario. Para quem conheça o movimento cultural português do século passado e os seus autores que, por um egotismo pátrio ignoravam a literatura e as correntes filosóficas estrangeiras, Moniz Barreto avulta pela sua integração na corrente universal do pensamento, de uma forma notável. Aliás, são os próprios portugueses que de já muito o dizem, seja pela pena de Vitorino Nemésio no seu livro profundo sobre Moniz Barreto, referido por Seabra, seja pelo trabalho bem vincado do próprio Seabra que tem pela graça a obra indiana predilecção como é de todos sabido.
Mas o elogio mais decisivo que se lhe podia fazer, parte de Silva Gaio que escrever que ‘desde Antero de Quental nenhum dos nossos escritores apareceu ainda como Moniz Barreto... armado como ele da fecunda e completa educação crítica indispensável a quem queira ver, compreender e fixar qualquer obra ou série de obras dignas de exame”.
Estas palavras de Silva Gaio não têm significado dúbio. Não são cumprimento amável de escritor que não quer ferir a susceptibilidade e amor próprio de outro escritor. São claras como água e não como as do exigente Antero que lhe escreveu a dizer que o livro sobre Oliveira Martins era ‘perfeito: ideias, ordem, estilo, tudo está como dever ser’ o que não é cortesia também, parece-nos. Quem ler os trechos da colectânea de Seabra verá que Silva Gaio tinha razão. E com ele, o internacional Eça que recolheu o espólio literário de Moniz Barreto. Ora o sarcástico Eça não era homem para brincadeiras.
Para pano de amostra da opinião critica de Moniz Barreto temos o caso de Castilho.
Castilho foi no seu tempo considerado um mito, um gigante das letras, superior porventura a Herculano. O parecer geral agora é que Castilho não passa de escritor de segunda categoria. Foi Moniz Barreto – duvidamos se alguém mais também – que mesmo em vida do poeta o exautorou, marcando-lhe o lugar devido. “Nem uma sensibilidade enérgica, nem uma imaginação criadora nem o dom da compreensão racional se manifestam nas suas obras”.
Até aqui são escritos. Os factos narram que Moniz Barreto “muito novo convive com os grandes escritores da época, Oliveira Martins, Antero, Eça, Gomes Leal,” o que representa um efeito valioso de uma boa causa. Quem se atrevia a aproximar-se desse grupo de energúmenos que, com uma gargalhada faziam ruir uma instituição? Até o grande Fialho tinha medo...
O livro feito por Manuel de Seabra merece louvores pois, fazendo reviver um valor real de Goa, prestou um serviço à terra além de, com a justeza da sua selecção e prefácio brilhante mostrar, mais uma vez, que ele próprio é escritor com nome feito.
Moniz Barreto, escritor goês, mais conhecido em Portugal que na sua própria terra, foi autor da “Literatura Portuguesa Contemporânea” e outros trabalhos dispersos em revistas, além de um livro sobre Oliveira Martins. Mesmo em Portugal, tendo-se colocado no futuro em relação ao presente em que vivia, só mais tarde, passada a embriaguez das correntes literárias dominantes, é que o seu nome se notabilizou e a sua obra, curta embora, foi avaliada por todos.
Não é de grande importância decidir se Moniz Barreto tinha nas veias sangue indiano, português puro ou híbrido. É um questão discutida e discutível, como o próprio Seabra a põe, deixando na contenda Vitorino Nemésio, Pereira de Lima e mais outros. A discussão continua. Este problema do sangue é coisa convencional e atómica, digamos, e o que interessa é a atitude subjectiva. Moniz Barreto passa por ser goês nado e adolescido em Goa. E, por regra geral, não devia enjeitar a terra do berço. Excepção a esta regra não a conhecemos.
Como quer que seja, Moniz Barreto fica fora de qualquer escola ou tendência de época para ser o criador da critica literária em Portugal, o que não é pouco para quem morre com 31 anos apenas. Antes pelo contrario. Para quem conheça o movimento cultural português do século passado e os seus autores que, por um egotismo pátrio ignoravam a literatura e as correntes filosóficas estrangeiras, Moniz Barreto avulta pela sua integração na corrente universal do pensamento, de uma forma notável. Aliás, são os próprios portugueses que de já muito o dizem, seja pela pena de Vitorino Nemésio no seu livro profundo sobre Moniz Barreto, referido por Seabra, seja pelo trabalho bem vincado do próprio Seabra que tem pela graça a obra indiana predilecção como é de todos sabido.
Mas o elogio mais decisivo que se lhe podia fazer, parte de Silva Gaio que escrever que ‘desde Antero de Quental nenhum dos nossos escritores apareceu ainda como Moniz Barreto... armado como ele da fecunda e completa educação crítica indispensável a quem queira ver, compreender e fixar qualquer obra ou série de obras dignas de exame”.
Estas palavras de Silva Gaio não têm significado dúbio. Não são cumprimento amável de escritor que não quer ferir a susceptibilidade e amor próprio de outro escritor. São claras como água e não como as do exigente Antero que lhe escreveu a dizer que o livro sobre Oliveira Martins era ‘perfeito: ideias, ordem, estilo, tudo está como dever ser’ o que não é cortesia também, parece-nos. Quem ler os trechos da colectânea de Seabra verá que Silva Gaio tinha razão. E com ele, o internacional Eça que recolheu o espólio literário de Moniz Barreto. Ora o sarcástico Eça não era homem para brincadeiras.
Para pano de amostra da opinião critica de Moniz Barreto temos o caso de Castilho.
Castilho foi no seu tempo considerado um mito, um gigante das letras, superior porventura a Herculano. O parecer geral agora é que Castilho não passa de escritor de segunda categoria. Foi Moniz Barreto – duvidamos se alguém mais também – que mesmo em vida do poeta o exautorou, marcando-lhe o lugar devido. “Nem uma sensibilidade enérgica, nem uma imaginação criadora nem o dom da compreensão racional se manifestam nas suas obras”.
Até aqui são escritos. Os factos narram que Moniz Barreto “muito novo convive com os grandes escritores da época, Oliveira Martins, Antero, Eça, Gomes Leal,” o que representa um efeito valioso de uma boa causa. Quem se atrevia a aproximar-se desse grupo de energúmenos que, com uma gargalhada faziam ruir uma instituição? Até o grande Fialho tinha medo...
O livro feito por Manuel de Seabra merece louvores pois, fazendo reviver um valor real de Goa, prestou um serviço à terra além de, com a justeza da sua selecção e prefácio brilhante mostrar, mais uma vez, que ele próprio é escritor com nome feito.
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