Monday, 16 July 2012

Orlando Alberto - Calor (1970)

Na morna quietação da tarde
O corpo goteja suarento
O céu está azul
E as nuvens
Demasiado brancas.
O vento descansa nas ramagens
Mas de quando em vez
Passa rasteiro,
Levantado pó.
Só o sol dardeja clarões
Numa gíria incompreensível
Numa ânsia galhofeira de brincar
E os verdes do mato
Mais verdes se tornam
E os troncos das árvores
Rugosos, disformes,
O suor
Escorre em bica
Como chuva nas goteiras
E a incoerência dos meus versos
Com o calor do dia
Transforma-se
Eu, que sou o que sinto
Na lama vermelha
E encarquilhada
Das valetas.

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