Um perfume intenso de flores
Subia até mim
Do jardim
E, estática, eu olhava a noite escura
Onde eram sombras os perfis e as cores.
Mas não sei se era uma esplêndida tortura.
Porque aquela noite escura
Penetrando-me subitamente na alma
Pôs-me nos olhos
A luz de um relâmpago
E numa estranha radioscopia
Eu ia descobrindo, a pouco e pouco,
As mil estátuas e os tesouros
Que, no seio, a noite ciosa escondia.
E assim eu olhava, e via, via
Toda a transparência da noite sombria.
As artérias estendiam-se desertas e tortas
Pois a essas horas mortas
Mesmo o rio cessara
O rumor das águas imprecisas...
E o silêncio guardava
As vozes das coisas invisíveis...
Aqui e alem sons inúteis e desgarrados...
Um vago latido de cão fiel e amigo,
E, nas casas, as ingénuas donzelas
Bem guardadas
Tinham há muito cerrado as janelas
Onde sentadas
Fizeram rendas e bordados lançando olhares furtivos p’ra as vielas!
Sós, eu e a cidade,
Na intimidade da paz não perturbada
Com ondas de orgulhosa tristeza e triunfante verdade
A erguerem-se... a desfazendo-se
Nas praias da minha alma iluminada.
Então eu senti... vibrar doce a sensibilidade
Pulsar mais forte a minha mocidade.
E o coração da noite, a palpitar
Abria-se
E descobria-se
Entre os faróis dos meus olhos, a vaguear.
Em estreitos sobrados
Fazendeiros refractários e endinheirados
- novos e velhos em pagã irmandade –
Jazendo tristonhos
E monótonos, sem paixão e sem sonhos!...
Uma luz acendeu-se...
... uma lâmpada acendeu...
Abrindo a porta um sonolento criado
Ao marido retardado e embriagado
Na estúrdia dos cabarets e dos cafés...
E a mulher no sofá
... dormindo um sono fraco.
Forte e penetrante
Cada vez mais,
Era apenas
O perfume que vinha do jardim
E a noite interpondo-se entre a cidade e mim...
Tudo o mais é distante, frágil
Envolto nos mistérios dos lares.
Subia até mim
Do jardim
E, estática, eu olhava a noite escura
Onde eram sombras os perfis e as cores.
Mas não sei se era uma esplêndida tortura.
Porque aquela noite escura
Penetrando-me subitamente na alma
Pôs-me nos olhos
A luz de um relâmpago
E numa estranha radioscopia
Eu ia descobrindo, a pouco e pouco,
As mil estátuas e os tesouros
Que, no seio, a noite ciosa escondia.
E assim eu olhava, e via, via
Toda a transparência da noite sombria.
As artérias estendiam-se desertas e tortas
Pois a essas horas mortas
Mesmo o rio cessara
O rumor das águas imprecisas...
E o silêncio guardava
As vozes das coisas invisíveis...
Aqui e alem sons inúteis e desgarrados...
Um vago latido de cão fiel e amigo,
E, nas casas, as ingénuas donzelas
Bem guardadas
Tinham há muito cerrado as janelas
Onde sentadas
Fizeram rendas e bordados lançando olhares furtivos p’ra as vielas!
Sós, eu e a cidade,
Na intimidade da paz não perturbada
Com ondas de orgulhosa tristeza e triunfante verdade
A erguerem-se... a desfazendo-se
Nas praias da minha alma iluminada.
Então eu senti... vibrar doce a sensibilidade
Pulsar mais forte a minha mocidade.
E o coração da noite, a palpitar
Abria-se
E descobria-se
Entre os faróis dos meus olhos, a vaguear.
Em estreitos sobrados
Fazendeiros refractários e endinheirados
- novos e velhos em pagã irmandade –
Jazendo tristonhos
E monótonos, sem paixão e sem sonhos!...
Uma luz acendeu-se...
... uma lâmpada acendeu...
Abrindo a porta um sonolento criado
Ao marido retardado e embriagado
Na estúrdia dos cabarets e dos cafés...
E a mulher no sofá
... dormindo um sono fraco.
Forte e penetrante
Cada vez mais,
Era apenas
O perfume que vinha do jardim
E a noite interpondo-se entre a cidade e mim...
Tudo o mais é distante, frágil
Envolto nos mistérios dos lares.
Noite de angústias e de receios
Para os infelizes desgraçados,
Sem o amor, a ternura, o carinho de uma mãe;
Para os que no erro e na maldade se entretêm,
Roendo misérias e afrontas,
Remoendo vinganças...!
Para outros noite cheia de promessas e sorrisos
No braseiro de horas vividas
E ao calor das esperanças...
Tudo é grande, intenso e profundo
Quando, ardente, a Noite beija o mundo!
As folhas das árvores já não tremem,
O vento parou... os ramos não gemem.
E na Igreja a Cruz
São braços nus
Estendendo-se piedosamente.
A Noite dorme sobre a cidade
Em total abandono de mulher enamorada
Enquanto os meus olhos indiscretos,
Na ânsia de tudo ver,
Seguem os caminhos longos e incertos
Do drama misterioso do Ser.
Mas a noite dorme sobre a Cidade,
Tremente, bela, apaixonada...
Fechado em si o segredo da verdade e da tristeza
Que não foi dito aos meus olhos ávidos de beleza.
Para os infelizes desgraçados,
Sem o amor, a ternura, o carinho de uma mãe;
Para os que no erro e na maldade se entretêm,
Roendo misérias e afrontas,
Remoendo vinganças...!
Para outros noite cheia de promessas e sorrisos
No braseiro de horas vividas
E ao calor das esperanças...
Tudo é grande, intenso e profundo
Quando, ardente, a Noite beija o mundo!
As folhas das árvores já não tremem,
O vento parou... os ramos não gemem.
E na Igreja a Cruz
São braços nus
Estendendo-se piedosamente.
A Noite dorme sobre a cidade
Em total abandono de mulher enamorada
Enquanto os meus olhos indiscretos,
Na ânsia de tudo ver,
Seguem os caminhos longos e incertos
Do drama misterioso do Ser.
Mas a noite dorme sobre a Cidade,
Tremente, bela, apaixonada...
Fechado em si o segredo da verdade e da tristeza
Que não foi dito aos meus olhos ávidos de beleza.
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