Levantou-se esta controvérsia a propósito duma tentativa feita pelo Governo local, de remover o busto de Vasco da Gama do pedestal do Jardim Municipal de Pangim.
Interpelado na Assembleia Legislativa sobre o assunto, o MC, Sr. Bandorcar disse que recebera instruções para este efeito do Governo Central. Quem conhece o que se passou neste assunto no resto da Índia o que pensa sobre ele um considerável sector dentro de Goa, não há de estranhar o que se passou.
Por Deus não me perguntem a minha opinião pessoal. Quanto à pergunta do título, remeto os leitores a um artigo em inglês que apareceu no Navhind Times do domingo, 5. E aos que não percebem o inglês, direi que a história regista claramente que Gama foi uma e outra coisa. Regista o seu acto histórico de chegar até a Índia pelo mar, aproveitando da primeira exploração de Bartolomeu Dias até o Cabo de Boa Esperança e do piloto gujerate Davane, que o trouxe de Melinde a Calicut. Também regista que Gama foi cruel e bárbaro, tendo morto a sangue frio e com torturas 1,200 pessoas em duas ocasiões, incluindo mulheres e crianças.
Aos que tiverem a pachorra histórica, remeterei aos livros “Portuguese Pirates and Indian Seamen” por O.K. Nambiar e “Malabar and the Portuguese” por Sardar K.M. Panikkar.
Não obstante tudo isto, o meu Nacionalismo é bastante vigoroso para não se incomodar com um “Padrão Comemorativo da Celebração do Quarto Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo da Índia, 1898”, como ele se intitula.
Esta campanha contra as estátuas dos conquistadores estrangeiras foi iniciada duma forma sistemática pelo finado líder socialista Dr. Rammanohar Lohia era de opinião de que não existia nada de artístico ou cultural nas muitas estátuas de conquistadores, reis e rainhas ingleses que tinham sido plantados em várias partes da Índia. Elas só haviam procurado ferir o sentimento patriótico dos indianos, fazendo-lhes significar que eles eram um povo para ser conquistado, dominado e humilhado.
Perante esta campanha sistemática, o governo indiano decidiu agir passo a passo; seriam deslocadas em primeiro lugar as estátuas dos ingleses que, desta ou daquela maneira, houvessem ferido o brio nacional; na segunda fase, seriam removidas as estátuas dos reis e rainhas ingleses. Só seriam conservados as estátuas dos ingleses que não fizeram nenhum mal aos indianos, ou antes, serviram a humanidade, em vários campos de actividade.
As instruções recebidas do Governo Central devem estar enquadradas dentro destas normas. Caberia ao Governo local interpretar se Vasco da Gama é explorador ou (segue na 2a pagina) conquistador, e agir consequentemente. Se acha que o padrão está lá para comemorar uma expedição científica, pode deixá-lo incólume.
Mas andariam enganados os que pensassem que a reacção popular em Goa seria toda a favor de manutenção das estátuas dos heróis portugueses. Aqui, em O Heraldo, na mesma edição em que o editorial dizia o que estava erigido no jardim não era monumento a Vasco da Gama mas sim padrão para comemorar um facto, o seu colaborador Zótico de Souza na secção inglesa dava a opinião de que a estatua tinha de ser removida.
Cerca de 40 anos antes, o Sr. Dr. António Mirando, então Juiz de Direito, numa conferência feita no Centro Regional de Chinchinim sob o título de “Alguns Aspectos da nossa Mentalidade” escalpelisava os goeses por estarem a baptizar tudo com o nome dos conquistadores.
Dava o exemplo de Margão, cujos mercados eram então denominados Afonso de Albuquerque (Novo) e Vasco da Gama (Velho) e de Pangim que tinha o Liceu Nacional com o nome de A., um Instituto de Cultura com o nome de V. de G. (hoje mudado para o de Menezes Bragança) e um Club V. da Gama, etc.
O Sr. Tristão de Bragança Cunha no seu livro “Desnacionalização dos Goeses” lamentava o facto de os goeses aceitarem piamente o que se lhes meteu na cabeça a respeito de vários “Heróis Portugueses”:
Heróis do Mar
Nobre Povo,
Valente e Imortal.
Creio que não andam esquecidos disto...
Meus caros patrícios, sei compreender o que se passou durante a presença portuguesa aqui. Os portugueses não nos permitiam pensar doutra maneira, sob o risco de meter-nos em ferros.
Mas hoje os srs. não terão desculpas, se não procurarem pensar pelo cérebro próprio e sentirem-se dignos da vossa indentidade nacional. Lembrem-se de que centenas de goeses passaram pelas cadeias portuguesas, combatendo pela liberdade, e quando eles se reúnem até protestam contra um brazão português que estaria gravado na cadeira reservada ao Presidente da Municipalidade das Ilhas!
Saibam, que quanto ao Padrão a que me refiro, já foram chapadas nos jornais as fotogravuras de quatro medalhões de mármore que existem na sua base, sendo 3 deles dos conquistadores A. A., D. João de Castro e D. Francisco de Almeida, que podem ser heróis para os portugueses, mas cometeram um sem-numéro de atrocidades contra a nossa gente.
Um deles é de Luís de Camões que os Nacionalistas respeitam como Poeta que foi, de renome internacional.
Os que acham que o Padrão comemorativo do descobrimento do caminho marítimo não deve ser removido, têem o dever de convencer os seus compatriotas doutra opinião, de que se trata de comemorar um evento histórico-científico e que esperam deles tolerância quanto ao outro aspecto da carreira do Gama – o de pirata e conquistador – que este Padrão não procura comemorar. Não só não devem revelar ignorância dos factos históricos pouco abonatórios aos portugueses, mas não devem criar ambiente hostil patrocinando a Causa Colonialista portugesa em cubículos vizinhos. Se não fizeram isto, o Governo não poderá guardar esses monumentos contra a sanha popular... Lembrem-se de que em várias partes da Índia foram cortados os narizes a esses estatuas e untadas as mesmas com espesso breu!
Permitiriam os portugueses estátuas aos nossos guerreiros Ashoka, Akbar, Shivaji e Netaji no seu solo? Porque permitiremos então estátuas aos que nos conquistaram, como o “Grande” Albuquerque? Para revelar ao mundo que somos uma raça inferior que se ufana de ter sido conquistada e dominada e insultada?
O bem que tenha advindo do domínio português é outra história. Nenhuma acção humana é só mal ou só bem. Há muito bem que vem no encalço das conquistas e guerras.
Mas nem por isso os homens gostam das guerras e conquistas. O homem é por natureza um ente que gosta de ser livre. Assim o prova a história. Só os indoctrinados, desnacionalizados, creolizados beijam as mãos dos seus conquistadores.
Interpelado na Assembleia Legislativa sobre o assunto, o MC, Sr. Bandorcar disse que recebera instruções para este efeito do Governo Central. Quem conhece o que se passou neste assunto no resto da Índia o que pensa sobre ele um considerável sector dentro de Goa, não há de estranhar o que se passou.
Por Deus não me perguntem a minha opinião pessoal. Quanto à pergunta do título, remeto os leitores a um artigo em inglês que apareceu no Navhind Times do domingo, 5. E aos que não percebem o inglês, direi que a história regista claramente que Gama foi uma e outra coisa. Regista o seu acto histórico de chegar até a Índia pelo mar, aproveitando da primeira exploração de Bartolomeu Dias até o Cabo de Boa Esperança e do piloto gujerate Davane, que o trouxe de Melinde a Calicut. Também regista que Gama foi cruel e bárbaro, tendo morto a sangue frio e com torturas 1,200 pessoas em duas ocasiões, incluindo mulheres e crianças.
Aos que tiverem a pachorra histórica, remeterei aos livros “Portuguese Pirates and Indian Seamen” por O.K. Nambiar e “Malabar and the Portuguese” por Sardar K.M. Panikkar.
Não obstante tudo isto, o meu Nacionalismo é bastante vigoroso para não se incomodar com um “Padrão Comemorativo da Celebração do Quarto Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo da Índia, 1898”, como ele se intitula.
Esta campanha contra as estátuas dos conquistadores estrangeiras foi iniciada duma forma sistemática pelo finado líder socialista Dr. Rammanohar Lohia era de opinião de que não existia nada de artístico ou cultural nas muitas estátuas de conquistadores, reis e rainhas ingleses que tinham sido plantados em várias partes da Índia. Elas só haviam procurado ferir o sentimento patriótico dos indianos, fazendo-lhes significar que eles eram um povo para ser conquistado, dominado e humilhado.
Perante esta campanha sistemática, o governo indiano decidiu agir passo a passo; seriam deslocadas em primeiro lugar as estátuas dos ingleses que, desta ou daquela maneira, houvessem ferido o brio nacional; na segunda fase, seriam removidas as estátuas dos reis e rainhas ingleses. Só seriam conservados as estátuas dos ingleses que não fizeram nenhum mal aos indianos, ou antes, serviram a humanidade, em vários campos de actividade.
As instruções recebidas do Governo Central devem estar enquadradas dentro destas normas. Caberia ao Governo local interpretar se Vasco da Gama é explorador ou (segue na 2a pagina) conquistador, e agir consequentemente. Se acha que o padrão está lá para comemorar uma expedição científica, pode deixá-lo incólume.
Mas andariam enganados os que pensassem que a reacção popular em Goa seria toda a favor de manutenção das estátuas dos heróis portugueses. Aqui, em O Heraldo, na mesma edição em que o editorial dizia o que estava erigido no jardim não era monumento a Vasco da Gama mas sim padrão para comemorar um facto, o seu colaborador Zótico de Souza na secção inglesa dava a opinião de que a estatua tinha de ser removida.
Cerca de 40 anos antes, o Sr. Dr. António Mirando, então Juiz de Direito, numa conferência feita no Centro Regional de Chinchinim sob o título de “Alguns Aspectos da nossa Mentalidade” escalpelisava os goeses por estarem a baptizar tudo com o nome dos conquistadores.
Dava o exemplo de Margão, cujos mercados eram então denominados Afonso de Albuquerque (Novo) e Vasco da Gama (Velho) e de Pangim que tinha o Liceu Nacional com o nome de A., um Instituto de Cultura com o nome de V. de G. (hoje mudado para o de Menezes Bragança) e um Club V. da Gama, etc.
O Sr. Tristão de Bragança Cunha no seu livro “Desnacionalização dos Goeses” lamentava o facto de os goeses aceitarem piamente o que se lhes meteu na cabeça a respeito de vários “Heróis Portugueses”:
Heróis do Mar
Nobre Povo,
Valente e Imortal.
Creio que não andam esquecidos disto...
Meus caros patrícios, sei compreender o que se passou durante a presença portuguesa aqui. Os portugueses não nos permitiam pensar doutra maneira, sob o risco de meter-nos em ferros.
Mas hoje os srs. não terão desculpas, se não procurarem pensar pelo cérebro próprio e sentirem-se dignos da vossa indentidade nacional. Lembrem-se de que centenas de goeses passaram pelas cadeias portuguesas, combatendo pela liberdade, e quando eles se reúnem até protestam contra um brazão português que estaria gravado na cadeira reservada ao Presidente da Municipalidade das Ilhas!
Saibam, que quanto ao Padrão a que me refiro, já foram chapadas nos jornais as fotogravuras de quatro medalhões de mármore que existem na sua base, sendo 3 deles dos conquistadores A. A., D. João de Castro e D. Francisco de Almeida, que podem ser heróis para os portugueses, mas cometeram um sem-numéro de atrocidades contra a nossa gente.
Um deles é de Luís de Camões que os Nacionalistas respeitam como Poeta que foi, de renome internacional.
Os que acham que o Padrão comemorativo do descobrimento do caminho marítimo não deve ser removido, têem o dever de convencer os seus compatriotas doutra opinião, de que se trata de comemorar um evento histórico-científico e que esperam deles tolerância quanto ao outro aspecto da carreira do Gama – o de pirata e conquistador – que este Padrão não procura comemorar. Não só não devem revelar ignorância dos factos históricos pouco abonatórios aos portugueses, mas não devem criar ambiente hostil patrocinando a Causa Colonialista portugesa em cubículos vizinhos. Se não fizeram isto, o Governo não poderá guardar esses monumentos contra a sanha popular... Lembrem-se de que em várias partes da Índia foram cortados os narizes a esses estatuas e untadas as mesmas com espesso breu!
Permitiriam os portugueses estátuas aos nossos guerreiros Ashoka, Akbar, Shivaji e Netaji no seu solo? Porque permitiremos então estátuas aos que nos conquistaram, como o “Grande” Albuquerque? Para revelar ao mundo que somos uma raça inferior que se ufana de ter sido conquistada e dominada e insultada?
O bem que tenha advindo do domínio português é outra história. Nenhuma acção humana é só mal ou só bem. Há muito bem que vem no encalço das conquistas e guerras.
Mas nem por isso os homens gostam das guerras e conquistas. O homem é por natureza um ente que gosta de ser livre. Assim o prova a história. Só os indoctrinados, desnacionalizados, creolizados beijam as mãos dos seus conquistadores.
No comments:
Post a Comment