À Memória do Meu Irmão Celso Antão
Ao longo de Creta (1965) – Grécia
“Meditar sobre a Vida – a Vida em relação à Morte, é talvez nada mais do que intensificar a sua própria busca.
Mas a Morte, tal como se manifesta em tudo quanto está alem do controle do homem, acima de tudo o Irremediável, o sentido de que você nunca sabe o que aquilo é. O homem torna-se objecto de uma Busca e não de Revelação. Assim o Homem que irão encontrar neste Livro de Memória é o Homem desperto às Perguntas que a Morte levanta sob o sentido do Mundo.
André Malraux (Anti-Memoires)
“Mon ame vers d’affreux naufrages appareille”
Claudel
“Rage, Rage against the dying of the Light”
Dylan Thomas (da Idade do Ultraje)
“A Morte é a Opção final, o encontro com a interioridade, a realização pessoal em Cristo como Caminho, Verdade e única vida”
de Teólogos moderados editados por Michael J Taylor.
Não gostaria publicar estas páginas intimas mas eu e o leitor do “O Heraldo” conhecemo-nos mutuamente há já vinte anos e na Autenticidade e Sinceridade do depoimento pessoal crio páginas de Intimidade. Foi aos 25 de de Julho de 1951 que morreu o meu Pai e o leitor dirá “quê tenho a ver com isso?” mas nada no mundo acontece, especialmente no domínio da vida e Literatura, que não tenha um sentido, um simbolismo de Prece. Eu vi na morte do meu Pai o primeiro desengano da Permanência, a luz vibrante do coqueiral esmorecendo na sombra do velório, a primeira pergunta, a primeira Busca que as velas, o abraço apertado, o dobre a finados, até mesmo as lágrimas, não podiam cumprir, satisfazer. Magos, dor, Desengano da separação tudo me cobria na negra noite funeral, mas a Busca, essa havia começado. Sem a Busca de uma Ideia que se me não definia por ser confusa, seria a Busca de um distracção com um curso, um Diploma, um emprego capital e Exploração da mais valia, segurança social para anos meus ou a Busca de mim próprio “esse esperança em busca de vida”, como me declamava uma noite o grande poeta negro de mães e filhos negros Agostinho Neto. Uma noite em Lisboa, Costa Dias deu-me a ler o Manifesto de Marx – era aí que estava a ideia, a Utopia, o antídoto do Desengano, da Magoa e da Dor. Passaram anos, a longa noite de opressão e da revolta e em Alfama Berta Cardoso e Tristão da Silva cantavam na “Nau Catarineta” a opção da Liberdade. Com Sartre e Albert Camus não havia que esperar muito – o mundo e a linguagem eram Absurdos. Camus morrendo absurdamente num desastre de automóvel havia deixado incompleto o itinerário da Morte. A pergunta continuava.
Voltei à Índia, o espaço aberto da Competição “homem lobo do homem”, o quebrar de amarras de um sentir e de um viver plácido sim, mas digno e humano, a vida aos baldões da Sorte do “cais de pedra” de todas as solicitações, apelos e convites – mas a Morte, vista, vivida, sofrida até o desespero sem lágrimas, cântico lúgubre do Fim, esssa não esperava me colhesse a Afeição mais cara que a Vida me havia oferecido. Porque, meu Deus, tão cedo?
Ao cair da tarde de 31 de Janeiro de 81, da minha janela virada para o mar, janela que mais não uso porque nem o Mar nem a longa duna de AREIA tem hoje qualquer apelo, senti o carro avançar como um ladrão na noite escura. A mangueira sem flor sob a cacimba era como um último baluarte de gerações que ao longo de séculos haviam criado filhos missionários devotos da Imaculada Conceição, juristas e jornalistas, médicos e homens de lavoura – HOMENS COM RAÍZES. No aparelho, a cassete “não me pergunteis o Nome ou a Hora”, o carro avança, uma duas pancadas leves, um JOVEM e mais logo um homem de meia idade. “Notícias? Sim – não mais existe”.
Sob a fotografia, a Marte fala da Vida – não choro porque não posso.
Morreu algo dentro de mim de novo, após 30 anos. Em 1951, a Busca, em 1981, o encontro com Higher Power, um Deus que não sei definir, mas viveu comigo na noite integral a queda, a solidão a vida de um irmão “que podia ser e não foi” (José Régio).
Passaram já quatro meses e não voltei à minha janela virada para o mar. Talvez não voltarei mais. Moças guapas em saias de cambraia desnudando a coxa em manhas de Pesca ainda vão às dunas de Areia até o mar, tractores levam AREIA populares pedem-me que volte à causa da Justiça da OPRESSÃO dos MINING LEASES não registados e não completos. MAS a vida matou em mim essa esperança de Permanência. Situada aquém do coval enxuto de lágrimas e de flores, eu vejo da janela estreita do cemitério a ilusão desfeita, a vida interrompida, o nome riscado do rol dos vivos, o pó primevo de retorno às raízes da aldeia.
Sou homem, sinto como um humano, mas quando penso em Cristo eu vejo a única Vida de Luz e de Glória. Quem morre com Cristo, quem vive todos os dias a obrigatoriedade de um ofício ou de querer bem aos outros, esse não morre – vive uma nova dimensão de energia transformada “meu Pai tem muitas mansões” (Cristo). O Absurdo ficou em mim, fui e a perder, mas em Cristo a Vida renovou-se, tornou-se parte da Resurreição, “não choreis por ele, mas por quem fica, eles tem mais precisão” (adaptado de Manuel Bandeira, Brasil).
As chuvas voltaram como a primeira bênção de um Deus Natureza a um povo maltratante por políticos que mais pensam na cadeira do PODER do que em fornecer fertilizantes e sementes aos agricultores em devido tempo, a vida em busca de satisfação das necessidades mais básicas. Vida e energia, uma oferenda de Deus retribuída em 30 anos de trabalho e devoção à Família e Vida intuída mas não realizada no sentido essencial. Mas a Morte é final. Volto a ler Rig VEDA – “And I am Death...”
“I am Death that snatches all. And the source of all that shall be born; And the silence of things secret”
A vida vivida, sofrida até exaustão face a Morte. Recuso o Absurdo, opto, escolho, digo Não logo existo. Aceito a vontade de Deus e creio que há muitas mansões na casa do senhor. Talvez amanhã, da janela do Cemitério da aldeia, a vida volte a renascer das cinzas. Talvez amanhã eu conheça a vontado do meu Higher Power.
Ao longo de Creta (1965) – Grécia
“Meditar sobre a Vida – a Vida em relação à Morte, é talvez nada mais do que intensificar a sua própria busca.
Mas a Morte, tal como se manifesta em tudo quanto está alem do controle do homem, acima de tudo o Irremediável, o sentido de que você nunca sabe o que aquilo é. O homem torna-se objecto de uma Busca e não de Revelação. Assim o Homem que irão encontrar neste Livro de Memória é o Homem desperto às Perguntas que a Morte levanta sob o sentido do Mundo.
André Malraux (Anti-Memoires)
“Mon ame vers d’affreux naufrages appareille”
Claudel
“Rage, Rage against the dying of the Light”
Dylan Thomas (da Idade do Ultraje)
“A Morte é a Opção final, o encontro com a interioridade, a realização pessoal em Cristo como Caminho, Verdade e única vida”
de Teólogos moderados editados por Michael J Taylor.
Não gostaria publicar estas páginas intimas mas eu e o leitor do “O Heraldo” conhecemo-nos mutuamente há já vinte anos e na Autenticidade e Sinceridade do depoimento pessoal crio páginas de Intimidade. Foi aos 25 de de Julho de 1951 que morreu o meu Pai e o leitor dirá “quê tenho a ver com isso?” mas nada no mundo acontece, especialmente no domínio da vida e Literatura, que não tenha um sentido, um simbolismo de Prece. Eu vi na morte do meu Pai o primeiro desengano da Permanência, a luz vibrante do coqueiral esmorecendo na sombra do velório, a primeira pergunta, a primeira Busca que as velas, o abraço apertado, o dobre a finados, até mesmo as lágrimas, não podiam cumprir, satisfazer. Magos, dor, Desengano da separação tudo me cobria na negra noite funeral, mas a Busca, essa havia começado. Sem a Busca de uma Ideia que se me não definia por ser confusa, seria a Busca de um distracção com um curso, um Diploma, um emprego capital e Exploração da mais valia, segurança social para anos meus ou a Busca de mim próprio “esse esperança em busca de vida”, como me declamava uma noite o grande poeta negro de mães e filhos negros Agostinho Neto. Uma noite em Lisboa, Costa Dias deu-me a ler o Manifesto de Marx – era aí que estava a ideia, a Utopia, o antídoto do Desengano, da Magoa e da Dor. Passaram anos, a longa noite de opressão e da revolta e em Alfama Berta Cardoso e Tristão da Silva cantavam na “Nau Catarineta” a opção da Liberdade. Com Sartre e Albert Camus não havia que esperar muito – o mundo e a linguagem eram Absurdos. Camus morrendo absurdamente num desastre de automóvel havia deixado incompleto o itinerário da Morte. A pergunta continuava.
Voltei à Índia, o espaço aberto da Competição “homem lobo do homem”, o quebrar de amarras de um sentir e de um viver plácido sim, mas digno e humano, a vida aos baldões da Sorte do “cais de pedra” de todas as solicitações, apelos e convites – mas a Morte, vista, vivida, sofrida até o desespero sem lágrimas, cântico lúgubre do Fim, esssa não esperava me colhesse a Afeição mais cara que a Vida me havia oferecido. Porque, meu Deus, tão cedo?
Ao cair da tarde de 31 de Janeiro de 81, da minha janela virada para o mar, janela que mais não uso porque nem o Mar nem a longa duna de AREIA tem hoje qualquer apelo, senti o carro avançar como um ladrão na noite escura. A mangueira sem flor sob a cacimba era como um último baluarte de gerações que ao longo de séculos haviam criado filhos missionários devotos da Imaculada Conceição, juristas e jornalistas, médicos e homens de lavoura – HOMENS COM RAÍZES. No aparelho, a cassete “não me pergunteis o Nome ou a Hora”, o carro avança, uma duas pancadas leves, um JOVEM e mais logo um homem de meia idade. “Notícias? Sim – não mais existe”.
Sob a fotografia, a Marte fala da Vida – não choro porque não posso.
Morreu algo dentro de mim de novo, após 30 anos. Em 1951, a Busca, em 1981, o encontro com Higher Power, um Deus que não sei definir, mas viveu comigo na noite integral a queda, a solidão a vida de um irmão “que podia ser e não foi” (José Régio).
Passaram já quatro meses e não voltei à minha janela virada para o mar. Talvez não voltarei mais. Moças guapas em saias de cambraia desnudando a coxa em manhas de Pesca ainda vão às dunas de Areia até o mar, tractores levam AREIA populares pedem-me que volte à causa da Justiça da OPRESSÃO dos MINING LEASES não registados e não completos. MAS a vida matou em mim essa esperança de Permanência. Situada aquém do coval enxuto de lágrimas e de flores, eu vejo da janela estreita do cemitério a ilusão desfeita, a vida interrompida, o nome riscado do rol dos vivos, o pó primevo de retorno às raízes da aldeia.
Sou homem, sinto como um humano, mas quando penso em Cristo eu vejo a única Vida de Luz e de Glória. Quem morre com Cristo, quem vive todos os dias a obrigatoriedade de um ofício ou de querer bem aos outros, esse não morre – vive uma nova dimensão de energia transformada “meu Pai tem muitas mansões” (Cristo). O Absurdo ficou em mim, fui e a perder, mas em Cristo a Vida renovou-se, tornou-se parte da Resurreição, “não choreis por ele, mas por quem fica, eles tem mais precisão” (adaptado de Manuel Bandeira, Brasil).
As chuvas voltaram como a primeira bênção de um Deus Natureza a um povo maltratante por políticos que mais pensam na cadeira do PODER do que em fornecer fertilizantes e sementes aos agricultores em devido tempo, a vida em busca de satisfação das necessidades mais básicas. Vida e energia, uma oferenda de Deus retribuída em 30 anos de trabalho e devoção à Família e Vida intuída mas não realizada no sentido essencial. Mas a Morte é final. Volto a ler Rig VEDA – “And I am Death...”
“I am Death that snatches all. And the source of all that shall be born; And the silence of things secret”
A vida vivida, sofrida até exaustão face a Morte. Recuso o Absurdo, opto, escolho, digo Não logo existo. Aceito a vontade de Deus e creio que há muitas mansões na casa do senhor. Talvez amanhã, da janela do Cemitério da aldeia, a vida volte a renascer das cinzas. Talvez amanhã eu conheça a vontado do meu Higher Power.
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