Vibram nos ares ainda, os brados repugnantes
Dos assassinos vis, cobardes, desumanos
Que, como alcateia, famélico, uivante,
Os punhais embeberam em peitos Lusitanos!
Vibra no ar, ainda, o trágico instante
Da queda de Dadrá... de queda dos valentes,
Que, oferecendo o peito, ao gume traiçoeiro,
Ganharam direito a estar sempre presentes
No coração do povo, de PORTUGAL inteiro!
Passaram meses... os anos em turbilhão,
Na voragem do tempo, que tudo apaga
Tudo nnao!... Que a honra desta Nação,
Que os seus filhos ama e tanto afaga,
Não pode esquecer, Dadrá, sacrificada,
Não esquece os heróis que ali tombaram!
Temei, pois, corja vil, esfarrapada,
Que levantar o braço armado, a tanto ousaram
Que a espada da justiça é bem pesada!
Temei, sim, temei, porque a alvorada,
O raiar do novo dia... a expiação
Vem surgindo, passos largos, apressada
A castigar esse crime, essa traição!
Temei, oh! Sim, temei, porque a própria natureza,
A terra inteira, para sempre bradará...!
Dadrá não vos pertence, é sempre portuguesa!
Dadrá, continua firme, sincera e leal,
E viverá eternamente, bem ligada a PORTUGAL!
Thursday, 9 June 2011
Bicaji Ganecar - As Estrelas (1970)
Pensei em contar,
Um dia,
As estrelas
Do firmamento.
Naquele instante
Caiu uma estrela,
Estrela cadente;
E contei essa só
E as outras ficaram
Por contar
Um dia,
As estrelas
Do firmamento.
Naquele instante
Caiu uma estrela,
Estrela cadente;
E contei essa só
E as outras ficaram
Por contar
Visnum Porobo Sincró - Consulta (1971)
Como se analisa o génio humano?
Pelo exterior ou por factores concretos?
Quantas vezes tenho merecido censuras
Por causa do meu procedimento sincero.
Como lidar com gente do Mundo?
Qual é o valor da Verdade?
Dizem os sábios: deve-se mentir
Para salvar a vida de alguém!
Ser hipócrita palavras meladas,
Nem sempre se governa com isso;
Pode-se intrujar uma vez toda a gente,
Que pela segunda vez não se ludibria....
O que será bom meu Deus?
Ser hipócrita ou franco?
Ha quem diga que devesse proceder,
Remar por lado da maré.
Pondá, 8 de Setembro de 1971
Pelo exterior ou por factores concretos?
Quantas vezes tenho merecido censuras
Por causa do meu procedimento sincero.
Como lidar com gente do Mundo?
Qual é o valor da Verdade?
Dizem os sábios: deve-se mentir
Para salvar a vida de alguém!
Ser hipócrita palavras meladas,
Nem sempre se governa com isso;
Pode-se intrujar uma vez toda a gente,
Que pela segunda vez não se ludibria....
O que será bom meu Deus?
Ser hipócrita ou franco?
Ha quem diga que devesse proceder,
Remar por lado da maré.
Pondá, 8 de Setembro de 1971
Cyrano Valles - Bilhete de Natal (1965)
Escuta!
No marulhar das ondas
Não ouves um coro celeste?
No chilrear dos passarinhos
Não ouves a voz de Jesus?
As flores e os campos doirados
Não te falam do Senhor?
Não pressentes a Divindade
No cilintar das longínquas estrelas?
E no humilde cardo
Não sentes palpitar o Eterno?
Natal! A Luz
Dissipa as trevas;
A Verdade triunfa sobre a mentira;
O Amor vence o ódio
Escuta! Um rumor divino
Se espraia pela noite estrelada;
É a voz do Deus menino –
A Voz da Eternidade –
Dizendo: “Paz aos homens de boa vontade”
No marulhar das ondas
Não ouves um coro celeste?
No chilrear dos passarinhos
Não ouves a voz de Jesus?
As flores e os campos doirados
Não te falam do Senhor?
Não pressentes a Divindade
No cilintar das longínquas estrelas?
E no humilde cardo
Não sentes palpitar o Eterno?
Natal! A Luz
Dissipa as trevas;
A Verdade triunfa sobre a mentira;
O Amor vence o ódio
Escuta! Um rumor divino
Se espraia pela noite estrelada;
É a voz do Deus menino –
A Voz da Eternidade –
Dizendo: “Paz aos homens de boa vontade”
Wednesday, 8 June 2011
RV Pandit - Aquelas Mulheres (1969)
As mulheres
Outrora,
Quando zangadas
Sorriam por um presente
Do marido…
Isto ouvi eu
Na minha infância
Onde estão
Tais mulheres? Digo mal
Onde estão
Tais presentes?!
Outrora,
Quando zangadas
Sorriam por um presente
Do marido…
Isto ouvi eu
Na minha infância
Onde estão
Tais mulheres? Digo mal
Onde estão
Tais presentes?!
RV Pandit - Sem Desejo (1968)
Tu dás-me farelo
Eu te desejo
Eu dou-te pão
Tu me desejas
Tu dás-me grão de trigo
Eu te quero
Dou-te manteiga
Tu me queres
Aliás…
O poço não quer roldana
A roldana não quer a corda
A corda não quer calão
O calão não quer água
A água não quer o fundo
O fundo não quer o leito
Ninguém quer o outro
Ninguém quer nada
Palém, 8/4/1959
Eu te desejo
Eu dou-te pão
Tu me desejas
Tu dás-me grão de trigo
Eu te quero
Dou-te manteiga
Tu me queres
Aliás…
O poço não quer roldana
A roldana não quer a corda
A corda não quer calão
O calão não quer água
A água não quer o fundo
O fundo não quer o leito
Ninguém quer o outro
Ninguém quer nada
Palém, 8/4/1959
Tuesday, 7 June 2011
Carmo Azavedo - Castas e Classes na Sociedade Goesa (1975)
Formas qualitativamente diferentes de estratificação social, as castas e as classes diferenciam-se nisto: estas representam um sistema vertical enquanto aquelas representam um sistema horizontal, quer dizer, ao passo que um individuo pertencente a uma classe inferior pode passar para uma classe superior ou vice-versa, quem nasce numa casta alta, morre nessa mesma castas, sem poder subir nem descer.
Se, com o advento dos portugueses, se tivesse destruído o sistema das castas, típico da sociedade hindu, a sociedade goesa ter-se-ia estratificado por classes. Assim não aconteceu, porém, e manteve-se a estratificação social por castas, com a sua rígida endogamia, e as suas rivalidades tradicionais.
É realmente curioso notar que, posto que o cristianismo fosse uma religião igualitária, os portugueses que o introduziram em Goa tivessem mantido o sistema das castas, talvez para firmar melhor o seu domínio, de acordo com a máxima romana, divide e impera.
Torna-se deveras significativo, pois, que tanto as autoridades civis como eclesiásticas houvessem respeitado, senão em princípio, pelo menos na pratica, o sistema das castas, como se vê pelas ordens ou instruções de Vice-Reis ou Arcebispos, citados pelo Pe. Judas Barros na sua tese de doutoramento por apresentar à Universidade Jawaharlal Nehru.
Assim, por exemplo, o Vice-Rei, D. Francisco de Távora, Conde de Alvor (1681-86), quando mandou que todos os naturais de Goa aprendessem o português (como, mais tarde em 1745, faria também o Arcebispo D. Lourenço de Santa Maria, exigindo o conhecimento da língua para o casamento), deu o prazo de seis meses aos brâmanes e chardós e de um ano às outras castas.
Por sua vez, o 1o Concílio Provincial, reunindo em 1567, no episcopado de D. Gaspar de Leão, ordenou que se admitissem os sacerdócio só brâmanes ou prabus ou classes consideradas nobres, o que foi confirmado pelo 3o concílio sob a presidência do Arcebispo D. Frei João Vicente da Fonseca, mudando-se a designação de classes nobres para superiores.
Exemplos frisantes do exclusivismo castista, citados por Judas Barros, nas nossas instituições religiosas são a congregação dos teatinos a qual só foram admitidos brâmanes, com excepção de um só chardó em 1831, e a dos carmelitas que era exclusivamente dos charós, bem como a confraria de N. Sra. Da Conceição em Margão, aberta só a brâmanes, enquanto a do Smo. Sacramento e N. Sra. De Salvação era constituída de brâmanes de Bensaulim e chardós de Canã e a de S. Miquel e Santas Almas de chardós, sudras e curumbins (mas não boiás).
De igual modo, as autoridades portuguesas permitiram a existência de comunidades agrícolas exclusivas de brâmanes, chardós, sudras e curumbins, como também mixtas, não casando em certos casos filhos de jonoeiros senão com filhas dos que também fossem jonoeiros.
Assim se compreende que o sistema das castas, característico da sociedade hindu, passasse quase intacto para a sociedade cristã de Goa, mantendo-se através dos séculos a estratificação social com base na casta e não na classe, mercê do regime endogâmico e das rivalidades tradicionais que os portugueses nada fizeram para acabar, antes pelo contrário.
Se, com o advento dos portugueses, se tivesse destruído o sistema das castas, típico da sociedade hindu, a sociedade goesa ter-se-ia estratificado por classes. Assim não aconteceu, porém, e manteve-se a estratificação social por castas, com a sua rígida endogamia, e as suas rivalidades tradicionais.
É realmente curioso notar que, posto que o cristianismo fosse uma religião igualitária, os portugueses que o introduziram em Goa tivessem mantido o sistema das castas, talvez para firmar melhor o seu domínio, de acordo com a máxima romana, divide e impera.
Torna-se deveras significativo, pois, que tanto as autoridades civis como eclesiásticas houvessem respeitado, senão em princípio, pelo menos na pratica, o sistema das castas, como se vê pelas ordens ou instruções de Vice-Reis ou Arcebispos, citados pelo Pe. Judas Barros na sua tese de doutoramento por apresentar à Universidade Jawaharlal Nehru.
Assim, por exemplo, o Vice-Rei, D. Francisco de Távora, Conde de Alvor (1681-86), quando mandou que todos os naturais de Goa aprendessem o português (como, mais tarde em 1745, faria também o Arcebispo D. Lourenço de Santa Maria, exigindo o conhecimento da língua para o casamento), deu o prazo de seis meses aos brâmanes e chardós e de um ano às outras castas.
Por sua vez, o 1o Concílio Provincial, reunindo em 1567, no episcopado de D. Gaspar de Leão, ordenou que se admitissem os sacerdócio só brâmanes ou prabus ou classes consideradas nobres, o que foi confirmado pelo 3o concílio sob a presidência do Arcebispo D. Frei João Vicente da Fonseca, mudando-se a designação de classes nobres para superiores.
Exemplos frisantes do exclusivismo castista, citados por Judas Barros, nas nossas instituições religiosas são a congregação dos teatinos a qual só foram admitidos brâmanes, com excepção de um só chardó em 1831, e a dos carmelitas que era exclusivamente dos charós, bem como a confraria de N. Sra. Da Conceição em Margão, aberta só a brâmanes, enquanto a do Smo. Sacramento e N. Sra. De Salvação era constituída de brâmanes de Bensaulim e chardós de Canã e a de S. Miquel e Santas Almas de chardós, sudras e curumbins (mas não boiás).
De igual modo, as autoridades portuguesas permitiram a existência de comunidades agrícolas exclusivas de brâmanes, chardós, sudras e curumbins, como também mixtas, não casando em certos casos filhos de jonoeiros senão com filhas dos que também fossem jonoeiros.
Assim se compreende que o sistema das castas, característico da sociedade hindu, passasse quase intacto para a sociedade cristã de Goa, mantendo-se através dos séculos a estratificação social com base na casta e não na classe, mercê do regime endogâmico e das rivalidades tradicionais que os portugueses nada fizeram para acabar, antes pelo contrário.
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