Chamava-se D. Isménia e era viúva dum médico muito recorrido e popular, a quem, por isso mesmo talvez, ninguém lhe pagava as visitas. As suas receitas limitavam-se apenas a poções que, com grande resultado, ministrava aos seus doentes, reservando para si o mínimo lucro. Era poupado e chegou a ter umas economias que lhe permitiriam reparar o casebre em que viviam, benfeitorizar o seu minúsculo gorbat e uma várzeazinha.
Quando o marido faleceu os recursos financeiros de D. Isménia limitavam-se apenas às rendas do palmar, duma várzea e de uma dezena de acções de Comunidade.
Como o pardieiro em que vivia, ficava situado num lugar isolado e ela era muito medrosa, teve que sustentar um criado, não porque precisasse dele para qualquer serviço, mas mais para ter sua companhia, pois ninguém a visitava Senão de raro em raro.
A sua alimentação reduzia-se ao arroz e carril e, no dia de festa do orago, trazia um pedacito de carne de porco com o que se banquetavam ela, que era uma velhinha, e o criado que era um latagão.
Apesar de tudo o seu palmarzito era assaltado por gatunos que nem lhe deixavam metade do seu produto; quanto às jacas, não lhe deixavam nem uma e um pé de malcurada de grande estimação da velhinha era alvo das pedradas da garotada, que, quando enxotada, lhe correspondia zombeteiramente arremedando-lhe a voz e o gesto.
A várzea estava arrendada a 7 candis de bate, com o que ficavam satisfeitas as necessidade dela, do criado, de umas 5 galinhas e um porquito, sobejando-lhe ainda o necessário para um pouco de canja e um punhado de arroz a dois pobres que lhe vinham à porta todas as sextas-feiras da semana. Vivia assim a D. Isménia numa miséria feliz.
A certa altura, o criado que se chama Daniel, declarando que estava ao serviço dela há um ano, exigiu aumento de salário, alegando que o que ganhava não lhe permitia usar fatos limpos, aparar o cabelo mentalmente, fumar uns cigarros decentes, etc.
A D. Isménia que não encontrava outro que o subsituísse e também porque tinha ganho uma certa afeição pelo rapaz, condescendeu em lhe elevar o vencimento.
Sucedeu que o Daniel Fosse gostando duma rapariga que, por sua vez, era cortejada por um outro, derrubador, de nome Xavier. Claro está que os dois, quando se encontrassem, ferviam em mútuas raivas. Como Daniel tivesse percebido ser o Xavier que estava roubando os cocos da patroa e querendo desforrar-se, foi no encalço do gatuno e, como era forte, segurou-o e com os cinco cocos que tinha colhido, levou-o ao regedor.
Este, com uma rota em que declarava apanhado em flagrante, remeteu-o por um cabo da Policia ao Mamlatdar, onde o gatuno confessou o furto, declarou que o tinha practicado, obrigado pela fome. Condoído com esta narrativa que o homem soube fazer como emérito comediante, o mamlatdar mandou-o em paz. De volta, Xavier que veio de táxi, queimou abundante foguetório à porta de D. Isménia.
Quando foi da colheita da sua várzea, em vez de 7 candis de bate que devia receber, o arrendatário convidou-a a assistir à colheita e deu-lhe apenas 2 candis e 12 curós que representava a sexta parte da produção e mal chegavam para a alimentação do criado.
Por outro lado, as Comunidades onde tinha acções com a renda dos quaid, acrescidas com as receitas do palmar, pretendia pagar o salário do criado, teve o desgosto de saber que estavam deficitárias e não davam renda alguma. Para se manter, teve de recorrer ao expediente de dúvidas.
Por acaso, o marido de D. Isménia tratara, numa doença grave, um pobretão, que,
(segue na 4a. Página)
em testemunho da sua infinita gratidão, lhe pediu para ser padrinho da sua criança, primogénita que nasceria dali a meses, após 10 anos de casado.
Passados 15 anos, o padrinho abanara ao afilhado, já órfão do pai, passagem para o Golfo Pérsico, donde este voltara rico. Foi justamente a este que Dona Isménia recorreu num dos seus momentos aflitivos. O afilhado do marido concordou em lhe dar o empréstimo solicitado, alegando ter mourejado 25 anos em terras inóspitas, mediante o juro de 10% ao ano e hipoteca geral tde tudo quanto ela possuísse, sem outras formalidades.
O contrato foi por um escrito legalizado pela maneira actual, sem intervenção notarial.
Como o dinheiro assim obtido, D. Isménia pôde satisfazer os vencimentos atrasados do criados e teve de se alimentar com chá e uma fatia do pão, com o que, dentro em pouco, a sua saúde se tornou precária.
Certo dia, como o criado tivesse notado que D. Isménia não saíra ainda do quarto a horas em que constumava ir para a Missa, chamou-a discretamente da porta do seu quarto e, como ela não desse acordo, entrou e viu que continuava estendida no seu canapé, sem sinal de vida.
Correu apressadamente à casa do médico que verificou o cadáver e deu como causa da morte a inanição; pois a velhinha não tivera nem pão nem chá nas últimas 24 horas.
Quando o marido faleceu os recursos financeiros de D. Isménia limitavam-se apenas às rendas do palmar, duma várzea e de uma dezena de acções de Comunidade.
Como o pardieiro em que vivia, ficava situado num lugar isolado e ela era muito medrosa, teve que sustentar um criado, não porque precisasse dele para qualquer serviço, mas mais para ter sua companhia, pois ninguém a visitava Senão de raro em raro.
A sua alimentação reduzia-se ao arroz e carril e, no dia de festa do orago, trazia um pedacito de carne de porco com o que se banquetavam ela, que era uma velhinha, e o criado que era um latagão.
Apesar de tudo o seu palmarzito era assaltado por gatunos que nem lhe deixavam metade do seu produto; quanto às jacas, não lhe deixavam nem uma e um pé de malcurada de grande estimação da velhinha era alvo das pedradas da garotada, que, quando enxotada, lhe correspondia zombeteiramente arremedando-lhe a voz e o gesto.
A várzea estava arrendada a 7 candis de bate, com o que ficavam satisfeitas as necessidade dela, do criado, de umas 5 galinhas e um porquito, sobejando-lhe ainda o necessário para um pouco de canja e um punhado de arroz a dois pobres que lhe vinham à porta todas as sextas-feiras da semana. Vivia assim a D. Isménia numa miséria feliz.
A certa altura, o criado que se chama Daniel, declarando que estava ao serviço dela há um ano, exigiu aumento de salário, alegando que o que ganhava não lhe permitia usar fatos limpos, aparar o cabelo mentalmente, fumar uns cigarros decentes, etc.
A D. Isménia que não encontrava outro que o subsituísse e também porque tinha ganho uma certa afeição pelo rapaz, condescendeu em lhe elevar o vencimento.
Sucedeu que o Daniel Fosse gostando duma rapariga que, por sua vez, era cortejada por um outro, derrubador, de nome Xavier. Claro está que os dois, quando se encontrassem, ferviam em mútuas raivas. Como Daniel tivesse percebido ser o Xavier que estava roubando os cocos da patroa e querendo desforrar-se, foi no encalço do gatuno e, como era forte, segurou-o e com os cinco cocos que tinha colhido, levou-o ao regedor.
Este, com uma rota em que declarava apanhado em flagrante, remeteu-o por um cabo da Policia ao Mamlatdar, onde o gatuno confessou o furto, declarou que o tinha practicado, obrigado pela fome. Condoído com esta narrativa que o homem soube fazer como emérito comediante, o mamlatdar mandou-o em paz. De volta, Xavier que veio de táxi, queimou abundante foguetório à porta de D. Isménia.
Quando foi da colheita da sua várzea, em vez de 7 candis de bate que devia receber, o arrendatário convidou-a a assistir à colheita e deu-lhe apenas 2 candis e 12 curós que representava a sexta parte da produção e mal chegavam para a alimentação do criado.
Por outro lado, as Comunidades onde tinha acções com a renda dos quaid, acrescidas com as receitas do palmar, pretendia pagar o salário do criado, teve o desgosto de saber que estavam deficitárias e não davam renda alguma. Para se manter, teve de recorrer ao expediente de dúvidas.
Por acaso, o marido de D. Isménia tratara, numa doença grave, um pobretão, que,
(segue na 4a. Página)
em testemunho da sua infinita gratidão, lhe pediu para ser padrinho da sua criança, primogénita que nasceria dali a meses, após 10 anos de casado.
Passados 15 anos, o padrinho abanara ao afilhado, já órfão do pai, passagem para o Golfo Pérsico, donde este voltara rico. Foi justamente a este que Dona Isménia recorreu num dos seus momentos aflitivos. O afilhado do marido concordou em lhe dar o empréstimo solicitado, alegando ter mourejado 25 anos em terras inóspitas, mediante o juro de 10% ao ano e hipoteca geral tde tudo quanto ela possuísse, sem outras formalidades.
O contrato foi por um escrito legalizado pela maneira actual, sem intervenção notarial.
Como o dinheiro assim obtido, D. Isménia pôde satisfazer os vencimentos atrasados do criados e teve de se alimentar com chá e uma fatia do pão, com o que, dentro em pouco, a sua saúde se tornou precária.
Certo dia, como o criado tivesse notado que D. Isménia não saíra ainda do quarto a horas em que constumava ir para a Missa, chamou-a discretamente da porta do seu quarto e, como ela não desse acordo, entrou e viu que continuava estendida no seu canapé, sem sinal de vida.
Correu apressadamente à casa do médico que verificou o cadáver e deu como causa da morte a inanição; pois a velhinha não tivera nem pão nem chá nas últimas 24 horas.
No comments:
Post a Comment