Sentada ao pé duma janela escancarada à brisa do poente, estava Bena, uma guapa rapariga das suas 18 primaveras o muito. Entretinha-se a bordar um pano de cetim branco esticado na teara colocada sobre os joelhos e encostada ao espaldar duma cadeira à sua frente.
Pertencia a um colégio onde estudava a arte de bordar e talhar, dirigido por uma professora já de idade razoável a quem a experiência adquirida pelo tempo e aliada a uma sólida instrução fazia digna de superintender o estabelecimento que dirigia.
Órfã de pais desde tenra idade, Bena não tivera outro amparo além do irmão e cunhada. Zuleima, sua irmã mais nova que ela também internada do mesmo colégio, era sua fiel companheira. Uma não podia passar sem outra – tão amigas eram.
Bena era a cabeça, Zulema o braço, aquela a pastora esta a ovelha embora de génio arrebatado mas que fácil lhe era voltar ao aprisco, quando desgarrada sob o sisudo bordão da sua pastora. A própria Zulema reconhecia, quando serena, amansada já, o lado benéfico daquele jugo, como ela o qualificava, embora revoltasse no auge de furor. E a tempestade passava desfeita em bonança de arrenpendimento. Deste modo Bena era a Zulema irmã e mãe.
O sol declinava já quase no ocaso, voltavam gralhas ao abrigo e o operariado da lida cotidiana ao remanso do lar.
Súbito Bena deixando o trabalho ergueu-se pressuroso. Tão depressa correu infantilmente pelo jardim fronteiro por entre canteiros de roseiras, jasmina e dálias que crotons multicores ensombravam hospitaleiros.
“Aí vem o mano, ai vem ele!” disse louca de prazer.
E lá está ela ao pé do irmão, individuo alto espadaúdo, bigodes fartos vestido a militar. Chamava-se Francisco da Costa e era oficial do exército em serviço na povoação de X vindo a Pangim por motivo do Estado, motivo que lhe dera ensejo para visitar as irmãs.
“E Zulema?” disse o recém-chegado mas Zulema que o vira vinha já correndo para eles sorridente e ligeiro.
“Pelos modos”, aventurou Bena, cingindo com os braços a cintura proeminente do irmão, pelos modos nem pensa em levar-nos para essa terra de X... e cá estamos há mais de três longos meses sem ver a cunhada e os sobrinhos.
No Maio, minhas prendas no próximo Maio. E que teremos então festa na minha terra de X.
Maio, Junho, Julho, e Setembro!
Outubro, Novembro e Dezembro, rematou Zulema.
A presença da directora interrompeu-lhe a avalancha de meses.
Depôs a conversa decorreu amena para os três irmãos, posto que a directora se retirou após os cumprimentos de estilo. Falaram sobre mil assuntos, choveram mil perguntas as quais o irmão respondeu como podia.
Mas estávamos a falar do Maio, Junho... arriscou Bena voltando-se à carga.
Nada, no Mio próximo, no Maio! Replicou-lhe o tenente que sem esperar por mais correu escada abaixo com risco de se resvalar.
Bena do peitoril da janela repetia alto – No Maio, mano!
E ele virando-se para ela, tornando a girar nos calcanhares, gritou a rir: “No Maio, no Maio!”
Bena imóvel ainda seguio-o com a vista até vê-lo desaparecer atrás da casaria da cidade. Então a expansiva alegria momentânea transformou-se-lhes em amarga nostalgia, principalmente para Bena que não se movera do lugar.
A presença de pombas nos beirais das casa próximas distraiu-a da fixidez do pensamento quedando-se a segui-las no seu caprichoso esvoaçar de telhando em telhado, de muro a muro para de novo pousarem no ponto de partida. Achou divertido aquilo que lhe valeu uma distracção.
Mas como tudo no mundo tende a finalidade e as brancas pombinhas esvoaçaram além eclipsado-se e Bena retirando-se da janela correu ao jardim onde as companheiras de mãos dadas cantavam alegres e descuidosos.
A presença de Bena fê-las hilariante. Choveram epigramas e risotas, e houve uma que saindo do grupo correu ao repuxo de água no centro do jardm para borrifá-las de água importada nos côncavos das mãos. A. A esta seguiram outras e tão depressa o alegre bando molhou-se sob o pesado aguaceiro que o sol agonizante circulou de pérolas.
O movimento excessivo trouxe-lhe a canseira e cada qual acomodou-se em assentos improvisados arquejantes e balofas mas que não impedia de se rirem pela graça que acharam.
Por fim o sol escondeu-se e neblina vespertina toldando o poente anunciou a noite, mas pura, transparente, cintilante de estrelas.
O campanário da Igreja da cidade tangeu ave-marias e o bando recolheu-se à voz da professora do alto da escadaria. Mesmo a subi-la não faltaram ditos alegres e risos reprimidos – bem-aventuradas mocidade sempre viçosa e discuidosa!
Assim no trabalho, no recreio e na própria disciplina encontrava Bena o suave e o belo da vida humana. Era feliz por assim o julgar.
O acordar às cinco da madrugada pura e ridente empregada de perfumes, de estranhos e novos cada dia e inebriantes encantos: trabalho cotidiano com múltiplas variantes, as horas de recreio e mil nadas que adquirem proporções benfazejas para quem sabe compreendê-las, constituíam alegrias perenes para ela que com pouco se contentava, e essa mesma pequenez de desejos fazia-a feliz.
Tal era vida para Bena.
Pertencia a um colégio onde estudava a arte de bordar e talhar, dirigido por uma professora já de idade razoável a quem a experiência adquirida pelo tempo e aliada a uma sólida instrução fazia digna de superintender o estabelecimento que dirigia.
Órfã de pais desde tenra idade, Bena não tivera outro amparo além do irmão e cunhada. Zuleima, sua irmã mais nova que ela também internada do mesmo colégio, era sua fiel companheira. Uma não podia passar sem outra – tão amigas eram.
Bena era a cabeça, Zulema o braço, aquela a pastora esta a ovelha embora de génio arrebatado mas que fácil lhe era voltar ao aprisco, quando desgarrada sob o sisudo bordão da sua pastora. A própria Zulema reconhecia, quando serena, amansada já, o lado benéfico daquele jugo, como ela o qualificava, embora revoltasse no auge de furor. E a tempestade passava desfeita em bonança de arrenpendimento. Deste modo Bena era a Zulema irmã e mãe.
O sol declinava já quase no ocaso, voltavam gralhas ao abrigo e o operariado da lida cotidiana ao remanso do lar.
Súbito Bena deixando o trabalho ergueu-se pressuroso. Tão depressa correu infantilmente pelo jardim fronteiro por entre canteiros de roseiras, jasmina e dálias que crotons multicores ensombravam hospitaleiros.
“Aí vem o mano, ai vem ele!” disse louca de prazer.
E lá está ela ao pé do irmão, individuo alto espadaúdo, bigodes fartos vestido a militar. Chamava-se Francisco da Costa e era oficial do exército em serviço na povoação de X vindo a Pangim por motivo do Estado, motivo que lhe dera ensejo para visitar as irmãs.
“E Zulema?” disse o recém-chegado mas Zulema que o vira vinha já correndo para eles sorridente e ligeiro.
“Pelos modos”, aventurou Bena, cingindo com os braços a cintura proeminente do irmão, pelos modos nem pensa em levar-nos para essa terra de X... e cá estamos há mais de três longos meses sem ver a cunhada e os sobrinhos.
No Maio, minhas prendas no próximo Maio. E que teremos então festa na minha terra de X.
Maio, Junho, Julho, e Setembro!
Outubro, Novembro e Dezembro, rematou Zulema.
A presença da directora interrompeu-lhe a avalancha de meses.
Depôs a conversa decorreu amena para os três irmãos, posto que a directora se retirou após os cumprimentos de estilo. Falaram sobre mil assuntos, choveram mil perguntas as quais o irmão respondeu como podia.
Mas estávamos a falar do Maio, Junho... arriscou Bena voltando-se à carga.
Nada, no Mio próximo, no Maio! Replicou-lhe o tenente que sem esperar por mais correu escada abaixo com risco de se resvalar.
Bena do peitoril da janela repetia alto – No Maio, mano!
E ele virando-se para ela, tornando a girar nos calcanhares, gritou a rir: “No Maio, no Maio!”
Bena imóvel ainda seguio-o com a vista até vê-lo desaparecer atrás da casaria da cidade. Então a expansiva alegria momentânea transformou-se-lhes em amarga nostalgia, principalmente para Bena que não se movera do lugar.
A presença de pombas nos beirais das casa próximas distraiu-a da fixidez do pensamento quedando-se a segui-las no seu caprichoso esvoaçar de telhando em telhado, de muro a muro para de novo pousarem no ponto de partida. Achou divertido aquilo que lhe valeu uma distracção.
Mas como tudo no mundo tende a finalidade e as brancas pombinhas esvoaçaram além eclipsado-se e Bena retirando-se da janela correu ao jardim onde as companheiras de mãos dadas cantavam alegres e descuidosos.
A presença de Bena fê-las hilariante. Choveram epigramas e risotas, e houve uma que saindo do grupo correu ao repuxo de água no centro do jardm para borrifá-las de água importada nos côncavos das mãos. A. A esta seguiram outras e tão depressa o alegre bando molhou-se sob o pesado aguaceiro que o sol agonizante circulou de pérolas.
O movimento excessivo trouxe-lhe a canseira e cada qual acomodou-se em assentos improvisados arquejantes e balofas mas que não impedia de se rirem pela graça que acharam.
Por fim o sol escondeu-se e neblina vespertina toldando o poente anunciou a noite, mas pura, transparente, cintilante de estrelas.
O campanário da Igreja da cidade tangeu ave-marias e o bando recolheu-se à voz da professora do alto da escadaria. Mesmo a subi-la não faltaram ditos alegres e risos reprimidos – bem-aventuradas mocidade sempre viçosa e discuidosa!
Assim no trabalho, no recreio e na própria disciplina encontrava Bena o suave e o belo da vida humana. Era feliz por assim o julgar.
O acordar às cinco da madrugada pura e ridente empregada de perfumes, de estranhos e novos cada dia e inebriantes encantos: trabalho cotidiano com múltiplas variantes, as horas de recreio e mil nadas que adquirem proporções benfazejas para quem sabe compreendê-las, constituíam alegrias perenes para ela que com pouco se contentava, e essa mesma pequenez de desejos fazia-a feliz.
Tal era vida para Bena.