Saturday, 19 May 2012

Alfredo Bragança - As Noites Desejadas (1963)

O agricultor e o Bhattkará
A Deus pedem chuva e mais chuva
Para a sua várzea e coqueiros
Fecundar.
E lá vêm as noites desejadas,
Noites de Inverno,
Noites negras e cerradas...
O céu se reveste de luto,
Ziguezagueia no espaço o raio,
Sibila o vento, brame o vendaval;
Ronca sinistro o oceano, ribomba furioso o trovão,
As árvores açoitam sem dó as paredes...
Cobre-se tudo de escuridões medonhas
Sem lua, sem estrelas;
A chuva cai em fúria impetuosa, horrenda
Sobre o telhado... e em grossos cordões
Rola para o chão,
Abre carcavões, forma enxurradas:
Despenham-se com terrível furor
Os pedregulhos, rochas e penhascos;
O frio ríspido penetra pelas frinchas da casa,
Açoitadas pelo vendaval, choram de medo as vidraças
Geme lúgubre a natureza toda.
E perante esse quadro tétrico,
Qual o Ser-pensante que se lembra
Dos pobrezinhos... ossudos, esqueléticos,
Sem pão, sem vestuário, sem abrigo,
E sempre a tiritar de frio, tremer de pavor?

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