Saturday 19 May 2012

Armando Casal - Poetas Goeses: Clara Menezes (1954)

=Trazemos hoje para as colunas desta Página mais um nome que, de certo, não será estranho a um grande número dos que nos lêem.

Professora de ensino primário, há pouco ainda (1948), enveredou pelo difícil caminho da poesia que tem vindo a percorrer num desejo de aperfeiçoamento, estampado nas páginas que temos na nossa frente e que constituem “Flores Silvestres” – um livro em preparação.

Neste espaço de tempo, algumas vezes procurou o contacto com o público, enviando poesias para “A Vida” e “A Voz da Índia”. Concorreu aos Jogos Florais de 1951, entre outras, com a primeira produção que aqui inserimos.

Anseio é um soneto inédito onde Clara Menezes põe a marca duma evocação e dum desejo.

Poesia obrigada a mote

Sendo nada, eu dei-te tudo,

E tu só me deste nada



Fui grão de areia perdido

Nos teus olhos de veludo;

Nesse instante bem vivido,

Sendo nada, eu dei-te tudo.



Deste amor, fornalha a arder,

Dei-te a essência concentrada;

Dei-te a minha alma, o meu ser,

E tu só me deste nada.



Anseio

Loucos de paixão meus lábios poisaram,

Naquela noite fria de Janeiro,

À flor dos teus, celestial braseiro,

Em que os anseios mais caros se queimaram.



Nessa comunhão íntima juraram,

Mutuamente, amor puro e verdadeiro

Com os corações num ritmo fagueiro,

Frementes, nossos peitos em um arfaram



Sonho ou realidade? Doce enleio

Em que o meu ser se embala todo cheio

De esperanças que não serão quimeras.



Sim espero que o teu amor, agora

Terá aquele sadio vigor de outrora,

Mesmo volvidas tantas palavras!

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