Tuesday, 22 January 2013

Um Bibliografo - A Literatura Indo-Britânica (1970)

É um facto espantoso este que a literatura indo-britânica (isto é, livros de ficção escritos pelos indianos em inglês) teve um surto extraordinário depois da independência indiana.

Os indianos passaram a cultivar a língua inglesa há cerco de um século e meio, depois das célebres propostas de Macaulay de 1837, sugerindo, inter alia, o inglês como língua de instrução. No passado Toru Dutt aqui ou Manmohan Ghosh acolá, eram, por assim dizer, produtos acidentais de circunstâncias extraordinárias.

Não é assim hoje. Assim como a língua inglesa produziu uma literatura diferente do Reino Unido, nos Estados Unidos da América, da mesma forma hoje está-se a produzir na Índia uma literatura distinta, em língua inglesa, que discute a vida indiana, os seus hábitos, as reformas sociais, etc. Espera-se que, da mesma forma, possamos ver surgir diante dos nossos olhos uma literatura australiana, canadiana, das Índias Ocidentais, etc.

Este processo oferece as suas dificuldades num pais como o nosso que tem as suas próprias línguas que também possuem as suas literaturas. Mas o facto é que existem camadas sociais na Índia cuja vida passa-se num ambiente de língua inglesa, assim como em Goa ou entre os goeses existem agregados sociais que falam e pensam em português ou em inglês.

Ficariam esses elementos sem o veiculo de expressão? Surgiu daí a necessidade de se criar literatura na língua cultural em voga, embora seja estrangeira. Mas criar literatura numa língua que já a tem, e das melhores do mundo, levantava um óbice assaz poderoso. É a dificuldade que tinham antes experimentado os Americanos do Norte. Mas como a experiência social e nacional é diferente de país a país, havia justificação, para literaturas diferentes em cada pais, de qualquer padrão que fosse possível.

Quais seriam os escritores destacados da ficção indo-britânica?

Mulk Raj Anand é um dos mais prolíficos e bem conhecidos. Os seus romances, Untouchable, The Coolie, etc, são vastamente lidos. Ele é o Alves Redol da literatura indiana, descrevendo com simpatia a vida dos pobres e desafortunados da sorte.

Outro escritor igualmente prolífico é R. K. Narayan, com a sua ironia subtil e um dom e um dom natural de contar histórias: a acção dos seus romances tem lugar numa vila imaginária indiana, de nome Malgudi, como a Breda do Jacob e Dulce de GIP. Desde o seu primeiro romance Bachelor of Arts publicado em 1937, Narayan publicou catorze livros.

Raja Rao é outro escritor de grande envergadura, com residência em Paris. Num período de cerca de 40 anos produziu só quatro romances. O seu primeiro livro Kanthaputra discute a projecção da ideologia gandhiana numa pequena aldeia da costa do Malabar. A história é narrada por uma mulher analfabeta e simples. O seu segundo romance, The Serpent and the Rope, publicado depois de 22 anos, trouxe Raja Rao renome internacional. É em parte autobiográfico, recordando a sua busca das raízes espirituais do seu país. O herói é Ramaswamy que vive em Paris casado com uma senhora francesa. O Oriente e o Ocidente – estes dois mundos que se encontram mas não se confundem – estão discutidos neste romance. O mais recente romance de Raja Rao é The Cat and Shakespeare, tão enigmático como o título sugere, tendo sido serializado pelo Ill. Weekly. Raja Rao é profundo e díficul de ler.

Falei recentemente de Kushwant Singh, que projecta o Panjabe nos seus romances. Manohar Malgaonkar é um romancista que descreve a vida da nossa costa do Concão e lê-se com agrado. Bhabani Bhatacharjee é conhecido pela sua penetrante análise social. A escritor Kamala Markandeya, com cinco romances a seu crédito, atraiu a atenção internacional, estando alguns dos seus romances traduzidos para português. Balachandra Raja é conhecido pela sua sofisticação intelectual e penetração na tensão inter-cultural do indiano educado à ocidental, Nayantara Sehgal, filha de Vijayalakshmi, é também uma autora muito lida. Também Anita Desai fez muito cedo nome com os seus dois romances Cry the Peacock and Voices in the City.

Todos estes autores merecem ser lidos em Goa para se poder compreender melhor a alma indiana e os problemas que confrontam a nossa nação. Por razões históricas, um sector da nossa população não pode ler nenhuma língua indiana. Para eles esses livros em inglês são uma bela oportunidade para se compenetrarem do espírito de reforma e revolução social que prevalece no país.

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