Após o juramento
Fez-se o ajuste do casamento
Mas à hora
Do sacramento
Recusou-se
O noivo
E deu-se tudo
Isso porque
O dia era treze
O rapaz era
Estudioso
Nunca ficava
Ocioso, pois
Estudava todo o dia
Mas perdeu
Nos exames,
Porque o numero da inscrição
Era treze
A família doutro
Era boa
E morava numa
Aldeia de Goa
Mas o filho
Era vadio
Foi assim
Porque o dia
Do seu nascimento
Era treze
Após tanto esforço
Foi lançando
O novo Apolo
Mas teve que voltar do meio
Do seu caminheiro
Porque o numero
Que levava
Era de azar
Era treze.
Tuesday, 7 June 2011
Monday, 6 June 2011
José Rangel - Verme (1961)
Quatro paredes sem janelas,
Se mar nem luz,
O viver de gamelas,
A alma cheia de pus…,
A exalçar as algemas
Que (pior tormento),
Sufocam as mais belas gemas
Do pensamento.
Raquítica alma
De migalhas à cata,
A chafurdar na alma
Sob calcadora pata;
Não a aperta a fome,
Não a mata a sede,
Nada a abriga a ser o que é...
A beijar viveu o nome
De quem a traz na rede,
Não pode ter-se em pá...
Chora ó alma
A tua desonra;
Mataste a chama
Que do passado fora a honra.
Lembra-te bem
Que uma eterna voz
Chama sempre do além;
Honra os teus avós...
Se mar nem luz,
O viver de gamelas,
A alma cheia de pus…,
A exalçar as algemas
Que (pior tormento),
Sufocam as mais belas gemas
Do pensamento.
Raquítica alma
De migalhas à cata,
A chafurdar na alma
Sob calcadora pata;
Não a aperta a fome,
Não a mata a sede,
Nada a abriga a ser o que é...
A beijar viveu o nome
De quem a traz na rede,
Não pode ter-se em pá...
Chora ó alma
A tua desonra;
Mataste a chama
Que do passado fora a honra.
Lembra-te bem
Que uma eterna voz
Chama sempre do além;
Honra os teus avós...
Anonymous - A Água do Oásis Review (1964)
O conhecido poeta goes Alberto de Menezes Rodrigues acaba de nos mimosear com mais uma sua apreciada produção literária sob a forma de uma nova colecção de poemas – já antes nos brindara com Arroios, também uma coletânea de versos e Caminhos de Luz, novelas – primorosamente impressa na afamada Tipografia Rangel que já ganhou, de há muito, esporas de oiro no domínio da arte gráfica nesta terra que, entre os seus muitos primados, se pode gabar de ter possuído o primeiro prelo em toda a Ásia.
“Fiel ao conceito” de Augusto de Castro “de que poesia é essencialmente lirismo e sensibilidade” e portanto necessariamente indiferent “à poesia filosófica e intelectual”, o inspirado vate canta, em quase três dúzias de poesias em muitas das quais é acentuada a nota regional, temas tão díspares como “a nossa terra e a nossa língua”, a “flor campestre”, a “paz de espírito”, “a nossa aldeia”, “uma manhã em Lisboa”, o “choupal de Coimbra”, “a menina coxa”.
A Água do Oásis – título da última poesia da série – é uma colecção de versos fáceis e correntes, sem grandes voos poéticos, nem forçando muito a inspiração, nos quais o autor dá largas, em linguagem simples e desataviada, aos seus sentimentos.
Agradecemos a gentil oferta de um exemplar com uma cativante dedicatória.
“Fiel ao conceito” de Augusto de Castro “de que poesia é essencialmente lirismo e sensibilidade” e portanto necessariamente indiferent “à poesia filosófica e intelectual”, o inspirado vate canta, em quase três dúzias de poesias em muitas das quais é acentuada a nota regional, temas tão díspares como “a nossa terra e a nossa língua”, a “flor campestre”, a “paz de espírito”, “a nossa aldeia”, “uma manhã em Lisboa”, o “choupal de Coimbra”, “a menina coxa”.
A Água do Oásis – título da última poesia da série – é uma colecção de versos fáceis e correntes, sem grandes voos poéticos, nem forçando muito a inspiração, nos quais o autor dá largas, em linguagem simples e desataviada, aos seus sentimentos.
Agradecemos a gentil oferta de um exemplar com uma cativante dedicatória.
RR (Augusto do Rosário Rodrigues?) - Mestre Zé António (1955)
O mar começara a encapelar-se e a frágil embarcação era atirada qual casca de noz sobre a crista espumante das ondas.
O patrão, mestre Zé António, como a bordo lhe chamavam, de pé à popa, agarrava a cana do leme com braço firme e de peito desnudado ao vento, olhando a linha do horizonte e passando, momentos a momentos, a vista pela velha bússola, para manter o rumo.
Quando a boca escancarada da vaga, se preparava no seu encapelamento para engolir a embarcação, uma guinada de leme, e lá estava a proa a cortá-la como um cutelo afiado do carrasco a separar a mais bela cabeça de mulher.
A noite, avizinhava-se, e o vento forte obrigava as nuvens negras a afastarem-se num galope desordenado levando o perigo para outros lados. No entanto mestre “Zé António” mantinha-se firme no seu posto de manobra.
De vez em quando fazia ouvir a sua voz forte e resoluta de marinheiro, ordenando:
- Eh, Manel, e caça a vela pequena!
-Eh, Chico, olha aquele cordame que está à proa não vá o mar leva-to!...
E todos cumpriam prontamente sem temor nem receio do perigo que corriam, pois sabiam que ele, o mestre Zé António, era um valente, que em muitas ocasiões idênticas tinha mostrado quanto valia, levando sempre a bom cabo a sua embarcação e a vida dos seus homens.
- A borrasca vai continuar! – gritava Chico...
Mestre Zé António, a este brado, olhou o céu. Os seus cabelos e as suas barbas brancos como o algodão, tão velhos como ele na experiência do mar davam-lhe um ar patriarcal. E deixou transparecer um sorriso, pois já sabia que o mau tempo tinha passado.
O manto da noite cobriu por completo o dia tenebroso, mas agora o tempo amainava lentamente, a calma surgia pouco a pouco, e as ondas vinham quebrar-se de encontro à embarcação num marulhar... numa carícia inocente, e num abraço de amizade, que não fazia chorar o seu cavername como antes. E assim embalada docemente entrou na pequena baía do destino, onde a água foi fendida pela âncora que sofregamente foi repousar no fundo do mar.
Depois de velas enroladas e do cordame arrumado, mestre Zé António desembarcara na praia, com o seu casaco ao ombro e cachimbo na boca. Aguarda-o a sua Rosa, companheira do destino, herança dada por Deus.
- Então Zé, o mar esteve mau?
- Não Rosa, foi uma ligeira borrasca...
O patrão, mestre Zé António, como a bordo lhe chamavam, de pé à popa, agarrava a cana do leme com braço firme e de peito desnudado ao vento, olhando a linha do horizonte e passando, momentos a momentos, a vista pela velha bússola, para manter o rumo.
Quando a boca escancarada da vaga, se preparava no seu encapelamento para engolir a embarcação, uma guinada de leme, e lá estava a proa a cortá-la como um cutelo afiado do carrasco a separar a mais bela cabeça de mulher.
A noite, avizinhava-se, e o vento forte obrigava as nuvens negras a afastarem-se num galope desordenado levando o perigo para outros lados. No entanto mestre “Zé António” mantinha-se firme no seu posto de manobra.
De vez em quando fazia ouvir a sua voz forte e resoluta de marinheiro, ordenando:
- Eh, Manel, e caça a vela pequena!
-Eh, Chico, olha aquele cordame que está à proa não vá o mar leva-to!...
E todos cumpriam prontamente sem temor nem receio do perigo que corriam, pois sabiam que ele, o mestre Zé António, era um valente, que em muitas ocasiões idênticas tinha mostrado quanto valia, levando sempre a bom cabo a sua embarcação e a vida dos seus homens.
- A borrasca vai continuar! – gritava Chico...
Mestre Zé António, a este brado, olhou o céu. Os seus cabelos e as suas barbas brancos como o algodão, tão velhos como ele na experiência do mar davam-lhe um ar patriarcal. E deixou transparecer um sorriso, pois já sabia que o mau tempo tinha passado.
O manto da noite cobriu por completo o dia tenebroso, mas agora o tempo amainava lentamente, a calma surgia pouco a pouco, e as ondas vinham quebrar-se de encontro à embarcação num marulhar... numa carícia inocente, e num abraço de amizade, que não fazia chorar o seu cavername como antes. E assim embalada docemente entrou na pequena baía do destino, onde a água foi fendida pela âncora que sofregamente foi repousar no fundo do mar.
Depois de velas enroladas e do cordame arrumado, mestre Zé António desembarcara na praia, com o seu casaco ao ombro e cachimbo na boca. Aguarda-o a sua Rosa, companheira do destino, herança dada por Deus.
- Então Zé, o mar esteve mau?
- Não Rosa, foi uma ligeira borrasca...
Saturday, 4 June 2011
Laxmanrao Sardessai - Dia de Independência (1965)
Dia da Independência
Da liberdade e Emancipação
Mas o dia em que eu vejo
A liberdade violada dos Goeses!
Dia em que se dissiparam
Nuvens procelosas do jugo britânico
Mas vejo nesse dia
Desencadear-se sobre nós
Nova tempestade
Com todos os horrores
Que aniquilam a criação
Dia que é a imagem do caos
Em que o capricho reina soberano
Destruindo todos os valores humanos
A situação medra
Criando terror na população
Uivam os lobos
Proclamando destruição
Entram nos povoados
Roubando e matando
A liberdade que acorda o ser humano
Que iguala o rico e o pobre
Que paz e harmonia estabelece
No seio da sociedade
Liberdade que alarga a visão
E enobrece o coração
Que dissipa falsas noções
Da grandeza e nobreza
Liberdade que eleva
A dignidade do cidadão
Não a vejo neste dia
Vejo só a liberdade
Que instiga o fanatismo
E mais a cobra do comunalismo
Liberdade que destrói
Cruelments as instituições comunais
Baseadas nos ideais democráticos
Liberade que corta
A expansão moral
E que condena a língua mãe
De inocentes crianças
E consagra língua estranha
E as obriga a subir
Os degraus de educação
Por esse veiculo insano
Liberdade que ensina
A execrar o passado
E o presente da terra
Em que se nasce
Liberdade que cria
Nos filhos da terra
Complexos nocivos
Para a sua individualidade
Que nos ensina a ser
Falsos e hipócritas
Traidores e mentirosos
Liberdade que é a negação
Do real conteúdo
E significado da liberdade
Da liberdade e Emancipação
Mas o dia em que eu vejo
A liberdade violada dos Goeses!
Dia em que se dissiparam
Nuvens procelosas do jugo britânico
Mas vejo nesse dia
Desencadear-se sobre nós
Nova tempestade
Com todos os horrores
Que aniquilam a criação
Dia que é a imagem do caos
Em que o capricho reina soberano
Destruindo todos os valores humanos
A situação medra
Criando terror na população
Uivam os lobos
Proclamando destruição
Entram nos povoados
Roubando e matando
A liberdade que acorda o ser humano
Que iguala o rico e o pobre
Que paz e harmonia estabelece
No seio da sociedade
Liberdade que alarga a visão
E enobrece o coração
Que dissipa falsas noções
Da grandeza e nobreza
Liberdade que eleva
A dignidade do cidadão
Não a vejo neste dia
Vejo só a liberdade
Que instiga o fanatismo
E mais a cobra do comunalismo
Liberdade que destrói
Cruelments as instituições comunais
Baseadas nos ideais democráticos
Liberade que corta
A expansão moral
E que condena a língua mãe
De inocentes crianças
E consagra língua estranha
E as obriga a subir
Os degraus de educação
Por esse veiculo insano
Liberdade que ensina
A execrar o passado
E o presente da terra
Em que se nasce
Liberdade que cria
Nos filhos da terra
Complexos nocivos
Para a sua individualidade
Que nos ensina a ser
Falsos e hipócritas
Traidores e mentirosos
Liberdade que é a negação
Do real conteúdo
E significado da liberdade
Friday, 3 June 2011
Augusto do Rosário Rodrigues - Flor de Lama (1966)
A Vassanta Colvalcar
Flor da lama e do vício, arremessada
No imenso e turvo mar de Desventura
A Filha de Ninguém – triste enjeitada
Para matar a fome fez-se impura...
Vinte anos! Mas beleza já fanada
O olhar mortiço, os lábios sem frescura
Qual farrapo rolando pela estrada
Aos pontapés da gente, em noite escura
Um dia, para uma hora de pecado
Um homem – Ó cinismo atroz do Fado –
A procurara... Mas... – Não posso, Vai!
(Dissera ela com ódio, com sarcasmo)
- Tu, maldito, que me olhas cheio de pasmo,
Culpa tens do que sou, pulha! És meu pai!
Flor da lama e do vício, arremessada
No imenso e turvo mar de Desventura
A Filha de Ninguém – triste enjeitada
Para matar a fome fez-se impura...
Vinte anos! Mas beleza já fanada
O olhar mortiço, os lábios sem frescura
Qual farrapo rolando pela estrada
Aos pontapés da gente, em noite escura
Um dia, para uma hora de pecado
Um homem – Ó cinismo atroz do Fado –
A procurara... Mas... – Não posso, Vai!
(Dissera ela com ódio, com sarcasmo)
- Tu, maldito, que me olhas cheio de pasmo,
Culpa tens do que sou, pulha! És meu pai!
Visnum Porobo Sincró - Abolém (1962)
Entre a várzea lamacenta de água a escrever
Saltita pressurosa a meiga e ágil abolém
Filha de humildes agricultores, frágil ser
Pronta a socorrer os pobres pais alem
Com uma rosa em botão ainda em embrião
Qual borboleta no seu voltejar inebriante
A época chuvosa começou para duplicação
Da azáfama agrícola e a abolém ofegante
A saltitar como uma gazela, aqui e acolá
Prende o olhar dos transeuntes, atrai a si
Para a contemplar de relance a meiga criatura
Absorta nos seus trabalhos de agricultura
Saltita pressurosa a meiga e ágil abolém
Filha de humildes agricultores, frágil ser
Pronta a socorrer os pobres pais alem
Com uma rosa em botão ainda em embrião
Qual borboleta no seu voltejar inebriante
A época chuvosa começou para duplicação
Da azáfama agrícola e a abolém ofegante
A saltitar como uma gazela, aqui e acolá
Prende o olhar dos transeuntes, atrai a si
Para a contemplar de relance a meiga criatura
Absorta nos seus trabalhos de agricultura
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