Saturday 27 April 2013

Bailon de Sá - 'Contos Regionais' por Augusto do R. Rodrigues (1988)

Augusto do Rosário Rodrigues não é nome desconhecido entre nós. Já há bom tempo tem ele brindado as nossas revistas e jornais (quando estes eram redigidos em Português) com poemas, contos e dramas. Vocábulo farto, dicção feliz, este volume, uma colectânea de contos regionais, é como diria Teixeira Gomes, uma espécie de “exotismo às avessas”. São contos da época que já lá passou, da Goa antiga, policroma, caricata, supersticiosa, mas sempre saudosamente nossa. O autor percorre quase toda a gama da nossa vida social daqueles tempos: da pacatez aldeana onde o filho do batcará namora às furtivas a filha do manducar; da vida galante dos salões onde o rico e imbecil herdeiro, com a sua mamã viúva, está à busca duma noiva para lhe dar sucessores aos seus vastos haveres; dos novos ricos que se esforçam, quais macacos, em se insinuar na sociedade; do médico da aldeia, do padre vigário magricela; do tio cónego besuntoso (muito castista e grande materialista); da vida eivada de intrigas castistas, tanto irritantes como anti-cristãs, vai longa a lista dos vários cambiantes da nossa vida urbana e provincial. Essa Goa, embora seja um trago na na garganta do colossal Indostão, teve e continua a ter a sua personalidade – rara, simbiótica e propriamente sua. Mas hoje, com a invasão que ela está a sofrer de elementos alheios, a sua cultura, a sua vida social e intelectual, estão por um fio.

Augusto Rodrigues, chistoso e irónico, tem o vezo de escolher nomes esquisitos para os seus personagens tais como: D. Cebola, Dr. Pepino, Pe. Panela, etc, mas peca por exagero quando sai com um nome estrambótico como: Sancho Serapião do Santo Sepulcro Costa Paredes Malcorado! A par de contos humorísticos e picados de ironia, há uns que comovem e sensibilizam. Enfim, é um corte vertical na nossa vida social de antanho e que contrasta rudemente com o ambiente social amorfo de hoje.

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