Saturday 27 April 2013

Carmo Azevedo - Manuel Rodrigues e a Sua Poesia (1982)

Numa pequena história da Literatura Indiana Contemporânea publicada pela Sahitya Akademi, no capítulo relativo à contribuição indiana à literatura inglesa, diz o prof. Srinivassa Iyengar que os três poetas goeses Joseph Furtado, Armando Menezes e Manuel C. Rodrigues deram, entre outras coisas, uma nova intensidade à poesia do exílio. Dos três, é sem dúvida, Manuel Rodrigues aquele em que o sentimento do exílio é mais intenso.

Mas se dos deus dois livros de versos em inglês, Songs in Exile e Homewards, aquele dá expressão à nostalgia pela terra que lhe foi berço e longe da qual vive, este exprime, com não menor intensidade, a alegria do “regresso ao lar”. Assim os dois livros, pode-se dizer, completam-se, achando-se no segundo o que faltava no primeiro.

Manuel Rodrigues poetou também em concani, embora ainda não tenha publicado a colectânea das suas poesias na nossa língua ancestral, a que já deu o título expressivo de Vonvllam, como também ainda não deu à estampa o seu livro de contos em inglês Still Life and Other Stories nem a sua peça teatral Mar’Jaquin’, que nos prometeu, quando publicou uma selecção de versos em inglês, sob o título de Selected Poems, em 1978.

Embora Manuel Rodrigues não seja um poeta goês de expressão portuguesa, objecto de estudo de António Barahona, não quis deixar e aproveitar a estadia daquele em Goa há coisa de um mês, para o apresentar ao grande poeta português, que está a preparar uma antologia critica de poetas indo-portugueses. Havia mais de uma razão para isso: primeiro, porque estudou português, antes de encarreirar para inglês, e fala fluentemente a língua de Camõesl segundo, porque traduziu Antero de Quental; e terceiro, porque tem pelo menos uma pequena poesia composta directamente em português, além de se servir de uma palavra portuguesa sem equivalente em inglês, Negagas, para uma das suas poesias.

Começarei por reproduzir aqui a sua poesia em português, dando a seguir a sua tradução em inglês pelo próprio poeta:

Nuvem

Nuvem –
Um espírito nebuloso
Flutuante
Na amplidão
Da nossa Vida:;
Solitário
Semi-revelante,
Abnegado
Cuja missão
É de regar
Todos os entes
Visíveis
E invisíveis;
E o sorriso
Que, nas belas noites de luar
Brilha nos doces lábios
Dessa virgem,
Amiga e mãe,
É um reflexo
Do espelho
Da nossa Vida.


Cloud

Cloud – a darkling
Spirit floating
In the vastness of our life
Solitary
Half-revealing,
Self-denied;
Whose one mission
Is to sprinkle
Souls of all things,
Seen and unseen;
And the smile that
In the lovely
Nights of moonlight
Lights the bright lips
Of this virgin,
Friend and mother,
Is a reflex
Of the mirror
Of our life.

Porque, no dia em que se encontrou com António Barahona, Manuel Rodrigues lhe apresentou uma poesia sua que eu traduzi aquando do meu primeiro encontrou com ele em Nova Delhi, vou também reproduzir aqui essa poesia, seguida da minha versão.

Poet to Poet

Your voice has found
An echo in my heart;
For we are bound
Although we live apart,
By a common lie.

This mortal bed we share
Is not our goal,
We must have met somewhere,
Soul to soul.
Somewhere, alone, afar,
Beyond this fleshy bar
Of you and I.

Yet we can change this earth
Into a mystic mirth
And live where we belong:

When self is purged
And we are merged
In the spirit of the Song.

De Poeta para Poeta

Se os ecos do teu carme
Repercutam dentro do meu peito
É porque invisível liame
Nos prende, a despeito
Do abismo que nos separa...

O invólucro mortal
Que nos veste
Não é o nosso destino fatal...
As nossas almas por carta,

De perto,
Se viram
Face a face,
Numa passada era,
Numa outra esfera,
Onde se abatem
Os grilhões da carne.

Ainda poderemos converter
Este triste viver
Num místico gozo,
Como no mundo deleitoso,
De onde viemos,

- Se o “eu” purgamos
E nos integrarmos
No espírito da Poesia.

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