Monday, 1 April 2013

Alberto de Menezes Rodrigues - Um Vulto Caminha Pelo Valado (1964)

Cavos e profundos são os rugidos do Zuari
Porque está no auge a monção
Alta hora da noite
Ansiando lenitivo
A dor que me atormenta com rudeza,
Abro a janela
E espraia a vista pela Natureza.
Que tétrica escuridão!
Nuvens pluviosas toldam o céu
Lugubremente.
O vento brama,
Fustigando com furor demente
Os coqueiros,
Que parecem enormes gigantes descorçoados,
E cujas frondes são grandes cabeleiras negras
Alongadas para o nordeste,
De quando em quando vibram no ar
Latidos de um cão
Impressionado com a violência
Da ventania.

.

Um vulto caminha pelo valado
Que conduz à estrada asfaltada.
Homem ou mulher?
Avança o passo acelerado
Por entre espiques de palmeiras
Pisando talvez plantas rasteiras.
Nesta hora de negridão
E de pavor
Que plano domina o cérebro
Daquela criatura audaciosa
E vai ter execução?
Roubo?
Suicídio
Aventura amorosa?

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