Fora um galo anunciava a madrugada. Surgiu mais uma ideia: se fosse ao cofre do patrão? Havia lá tanto dinheiro que ele, com certeza, não daria pela falta de uma notinha de 5... Rounar?! Ele que até então fora dos mais honestos? Roubar ele?... Mas cinco rupias não empobreciam o patrão! Ele que apodrecia de rico!... Ladrão! – dizia-lhe uma voz lá dentro... Desistiu... O número 20338 tornou a aparecer... “Ele também rouba! Roubam todos!” Saiu decididamente da cama. A mulher ressonava. A coberta esburacada descobria-lhe os voluptuosos seios nus. Abre de mansinho a porta. O filho mais novo acorda e grita pela mãe... Não se importa com ele, sai. O tempo urge, a escuridão é providencial...
Rasteja cautelosamente pelos corredores. Há luz na cozinha do patrão. A sua sombra projecta-se enorme na alvura da parede. Recua... Ganha ânimo, avança. Os seus passos ressoam nas lajes. Soa-lhe ao ouvido, cada vez mais a voz íntima: Ladrão!... Ladrão!... O patrão dorme profundamente. Na cadeira está o casaco. As chaves estão no bolso.... A sua mão treme toda... As chavezinhas parecem geladas... O patrão mexe-se, dá uma volta na cama...
Abre o cofre. Um estrondo medonho! Silêncio a seguir... Valerá a pena? E se o número for falso?... Tira uma notinha de cinco! Surge-lhe neste momento uma outra ideia: e fosse até Pondá consultar o “gaddi”?... Quem tira cinco tira dez... Chega-se até à porta... Recua ainda... Ladrão! Ladrão!... Não é nada... É apenas o coração que bate mais forte!...
... Ouve-se o rodar dum carro. Desperta do seu sono! Oh! Era um carro particular... E o tempo avança...
... As palavras do Gaddi soavam-lhe ainda aos ouvidos: “Vai sair o número 20338. Vá depressa que talvez ainda consegue bilhete.” Dizia o sono, dizia o Gaddi, dizia a sua consciência! Não! Não podia ser falso! Ia ser rico!
Apareceu a carreira. Lançou-se a ela, mas esta vinha tão cheia que o condutor, não recebia nem mais um passageiro. Para cúmulo estava lá um polícia!
Era de estoirar! Paciência!... Mas se chegar tarde? Perderia tudo! Não! Impossível! De qualquer forma tinha que enriquecer. Poderia enfim adquirir um terreno muito seu e construir lá uma casinha.... Comprar umas eiras de terra e uma junta de bois... Não haveria mais vexames do patrão para a sua esposa.. Mandaria os filhos à escola. Talvez pudesse montar um pequeno negócio. Um barzinho, talvez. Conseguiria ter um criado para dar ordens, e, quem sabe? Talvez viesse a ter pança como o patrão... Mas o auto demora-se muito. Assim não pode ser... E pose-se a correr a toda a brida... Os membros martirizam-se e os pulmões não aguentam. Já corria há mais de 20 minutos. De repente ouve o ruído do carro... Felizmente vinha quase vazio... Mete-se nele e ordena ao condutor: a máxima velocidade. O carro quase que voa mas, ao homem impaciente parece que anda como lesma. Mais, mais!...
Chega enfim a Pangim. Soavam 9 horas. A extracção começava às dez. Tinha ainda uma hora para procurar as cautelas miraculosas. Como um louco andou aqui e acolá pelas ruas. Nem um vendedor de lotarias! Teriam morrido todos? Na praça, ninguém. Foi ao bazar. Nada! Foi ao cinema! O mesmo! Sem dar por isso chegou ao pé da Provedoria de Assistência Pública. Mole imensa de gente esperançosa. Encontrou-se com um vendedor de bilhetes: “Tem cautelas?” “Não. Estão esgotadas.” Correu ao outro. Esta tinha muitas. “Tem o número 20338?” “Tenho sim. Quantas cautelas quer?” “Dê-me o bilhete inteiro!...” Comprou. Azar! Era de extração seguinte!... Devolveu. Correu ao terceiro, correu a muitos outros. Ninguém tinha. Chegou ao pé dum velhote! “Você tem com certeza. Dê-me! Pago o duplo!”. “Eu tenho, mas...” “Mas (segue na 4a página) o quê? Eu quero!” “Não, não tenho..” Levantou-o pela gola do casaco: “Dê-me! Ao menos uma cautela! Pago-lhe cinco rupias!” “Não, não tenho.” “Rogo-lhe de joelhos! Única cautela!” “Não!” Desconsolado sentou-se no chão ao pé do velho... Beijou-lhe os pés: “Uma, só uma” “Não!” Estava alquebrado! Já não podia mais... E... ladrão!...
... Momentos depois saía o número 20338 e dois homens desmaiavam ao mesmo tempo. O velho vendedor de lotarias, pobrezinho, feito rico num instante e o homem honesto feito ladrão...
Rasteja cautelosamente pelos corredores. Há luz na cozinha do patrão. A sua sombra projecta-se enorme na alvura da parede. Recua... Ganha ânimo, avança. Os seus passos ressoam nas lajes. Soa-lhe ao ouvido, cada vez mais a voz íntima: Ladrão!... Ladrão!... O patrão dorme profundamente. Na cadeira está o casaco. As chaves estão no bolso.... A sua mão treme toda... As chavezinhas parecem geladas... O patrão mexe-se, dá uma volta na cama...
Abre o cofre. Um estrondo medonho! Silêncio a seguir... Valerá a pena? E se o número for falso?... Tira uma notinha de cinco! Surge-lhe neste momento uma outra ideia: e fosse até Pondá consultar o “gaddi”?... Quem tira cinco tira dez... Chega-se até à porta... Recua ainda... Ladrão! Ladrão!... Não é nada... É apenas o coração que bate mais forte!...
... Ouve-se o rodar dum carro. Desperta do seu sono! Oh! Era um carro particular... E o tempo avança...
... As palavras do Gaddi soavam-lhe ainda aos ouvidos: “Vai sair o número 20338. Vá depressa que talvez ainda consegue bilhete.” Dizia o sono, dizia o Gaddi, dizia a sua consciência! Não! Não podia ser falso! Ia ser rico!
Apareceu a carreira. Lançou-se a ela, mas esta vinha tão cheia que o condutor, não recebia nem mais um passageiro. Para cúmulo estava lá um polícia!
Era de estoirar! Paciência!... Mas se chegar tarde? Perderia tudo! Não! Impossível! De qualquer forma tinha que enriquecer. Poderia enfim adquirir um terreno muito seu e construir lá uma casinha.... Comprar umas eiras de terra e uma junta de bois... Não haveria mais vexames do patrão para a sua esposa.. Mandaria os filhos à escola. Talvez pudesse montar um pequeno negócio. Um barzinho, talvez. Conseguiria ter um criado para dar ordens, e, quem sabe? Talvez viesse a ter pança como o patrão... Mas o auto demora-se muito. Assim não pode ser... E pose-se a correr a toda a brida... Os membros martirizam-se e os pulmões não aguentam. Já corria há mais de 20 minutos. De repente ouve o ruído do carro... Felizmente vinha quase vazio... Mete-se nele e ordena ao condutor: a máxima velocidade. O carro quase que voa mas, ao homem impaciente parece que anda como lesma. Mais, mais!...
Chega enfim a Pangim. Soavam 9 horas. A extracção começava às dez. Tinha ainda uma hora para procurar as cautelas miraculosas. Como um louco andou aqui e acolá pelas ruas. Nem um vendedor de lotarias! Teriam morrido todos? Na praça, ninguém. Foi ao bazar. Nada! Foi ao cinema! O mesmo! Sem dar por isso chegou ao pé da Provedoria de Assistência Pública. Mole imensa de gente esperançosa. Encontrou-se com um vendedor de bilhetes: “Tem cautelas?” “Não. Estão esgotadas.” Correu ao outro. Esta tinha muitas. “Tem o número 20338?” “Tenho sim. Quantas cautelas quer?” “Dê-me o bilhete inteiro!...” Comprou. Azar! Era de extração seguinte!... Devolveu. Correu ao terceiro, correu a muitos outros. Ninguém tinha. Chegou ao pé dum velhote! “Você tem com certeza. Dê-me! Pago o duplo!”. “Eu tenho, mas...” “Mas (segue na 4a página) o quê? Eu quero!” “Não, não tenho..” Levantou-o pela gola do casaco: “Dê-me! Ao menos uma cautela! Pago-lhe cinco rupias!” “Não, não tenho.” “Rogo-lhe de joelhos! Única cautela!” “Não!” Desconsolado sentou-se no chão ao pé do velho... Beijou-lhe os pés: “Uma, só uma” “Não!” Estava alquebrado! Já não podia mais... E... ladrão!...
... Momentos depois saía o número 20338 e dois homens desmaiavam ao mesmo tempo. O velho vendedor de lotarias, pobrezinho, feito rico num instante e o homem honesto feito ladrão...
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