“Mal com os homens por amor à terra; mal com El Rei por amor à terra”
Cada homem tem direito a um sonho ou posto burocrático e não há que assacar culpas à grandeza imensa do Sonho como tal ou a limitação dos mangas-de-alpaca sim senhor El Rei dos Algarves, Yes Sir Milord of Wheat Fields of Punjab, o colonialismo é uma antítese do self-government com todo o seu manto de CORRUPÇÃO. No caso da Burocracia ou do self-employed man de negócios a ascensão ou declínio depende de um certo numero de constantes entre os quais conta a habildade de adorar o sol nascente e a intriga palaciana o problema do sonho é um caso diferente. O sonho de um homem letrado afasta-o das massas como numa contradição infeliz, essas mesmas massas humanas em cujo benefício o sonho visita o Homem. Tal foi o caso trágico do sonho de Telo de Mascarenhas. Nascido na aldeia de Velção, quase meu coaldeano, o Dr. Telo de Mascaranhas teve de ir a Coimbra como escolar de Direito para reconhecer as suas raízes indianas e juntamente com Adeodato Barreto, o grande e infeliz poeta que morreu até a consumação do ideário marxista numa aldeia de Portugal, com José Paulo Teles e outros (conforme leio num dos exemplares da “Índia Nova”) fundou o Instituto Indiano anexo a Biblioteca da Faculdade de Letras. Eram os anos 1920, a literatura portuguesa dividia-se entre o Surrrealismo de Almada Negreiros e a poesia épica decantada no ocultismo de Fernando Pessoa ou a trágico desespero de Mário de Sá Carneiro. O liberalismo democrático de António José de Almeida vivia horas de agonia e o MONGE de Coimbra preparava-se para tomar de assalto a velha Lisboa das naus que tinham vindo à Índia e marinheiros de Alfama. A longa noite da Ditadura com seus mitos glorificadores do Imperador Máximo de Aquém e Além Mar ia espalhando seu véu de sombras por sobre esse tão belo povo português, um povo capaz de uma cultura humanista como provam António Sérgio e Jaime Cortesão. Não se ouve falar mais do Instituto Indiano em Coimbra. “A Índia Nova” que chega a publicar uma mensagem de Tagore vê os seus redactores já formados e com família bem portuguesa. Adeodato Barreto recusa-se a burocratizar o pensamento em tacho oportunista que lhe podia dar pão e vinho e mantém-se firme a um ideário de redenção económica que lhe nega suficientes para se tratar e tratar dos seus, morrendo quase em penúria. São dos anos 1940 algumas traduções de obras de Tagore que aparecem em Lisboa da lavra de Telo Mascarenhas e que, muito embora venham via língua francesa, constituem uma bela introdução da alma indiana ao povo português. Anos 1949 e Telo Mascarenhas surge-nos aqui em casa fresco de Lisboa e Porto para convidar meu pai que ao tempo era presidente da câmara de Mormugão para presidir uma conferência no Casino de Vasco da Gama sobre “Primavera e os Poetas de Amor”, conferência esta que não se chegou a realizar por a polícia portuguesa ter cheirado o indianismo do autor. Tinha eu 13 anos de idade e admirava-o de improvisar versos às flores, às plantas, ao palmeiral tudo com invocações aos deuses indianos. É um poeta, pensava eu e por lá o teria esquecido, quando embrulhado entre revistas femininas de Bombaim começou a enviar-nos cópias do “Ressurge, Goa” do exílio. Há idealismo na sua Invocação quando rezava alto “edificaremos sobre o mar, sobre a terra, sobre as estrelas, a glória da nossa Terra Imortal”. Quem poderá negar que ele amava Goa?
Poeta do campestre, do rural como se diria agora, com profundas influências de Gil Vicente e Rodrigues Lobo, Telo de Mascarenhas provou-se um misfit, quem sabe um inconveniente que não sabia Konkani e Marata aos grupos políticos de Bombaim que trabalhavam pela libertação de Goa.
A política indiana não é para poetas ou idealistas e o exemplo mártir de um Tristão Bragança Cunha ou um Jaypracasha Narain (a este claram o grito de Revolução total com uma bolsa de um crore de rupias) chega-nos para não alimentarmos quaisquer dúvidas a este respeito. No caso de Tristão Bragança Cunha e tantos outros heróis esquecidos como Polly da Silva que foi a morrer aos 30 e poucos anos num curral basta-nos o facto de o Sonho de alguns ter sobejado para os mineiros, em especial uma família, continuarem a gozar do Poder. Uns sofreram para os mineiros continuarem a gozar os privilégios.
Como disse atrás, o Sonho de um homem letrado afasta-o das massas. No caso de Telo de Mascarenhas que depois de sofrer dez longos anos de prisão havia tentado entrar na politica, o resultado foi constrangedor. As massas não vão pelos sacrifícios, vão sim pelos símbolos comunalistas, daí a tragédia da democracia dos analfabetos com seu corolário de self-government is always better than alien rule. É ainda cedo demais para se pronunciar sobre a validade de um sonho, só a História poderá abarcar o Juízo final. Entretanto fica-nos a morte de um homem de letras portuguesas, um cativo do teatro vincentino e um devoto nem sempre regular das canções de escárnio e mal-dizer de que nos deu provas no Ressurge Goa dos anos de exílio.
Amigo da minha família, Telo de Mascarenhas impôs-se-me sobretudo pelo amor à Terra regado com anos de cárcere no exílio. Pena foi que educado mentalmente nos padrões da cultura jurídica do mundo latino não pudesse ajustar-se ao calão da Terra de que tanto se orgulhava. Dele se podia dizer “mal com os homens por amor à Terra, mal com El-Rei por amor à Terra”.
Como homem de Letras, Telo de Mascarenhas merece ser notado como poeta da tradição vicentina, das canções de escárnio e mal-dizer, um improvisador à velha moda portuguesa das desgarradas, um antigo que não chegou a alcançar os movimentos modernos da poesia e prosa portuguesa. Sendo assim, um poeta da língua lusa, era natural que até o sonho do Nacionalismo ficasse a mercê de suspeição e dúvida porque o local só aceita, porque compreende, unicamente o que se lhe diga em vernáculo ou no colonial mas ganha-pão inglês.
Curvando-nos reverentes perante a grandeza do sonho que permitiu aos Capitalistas maior mobilização de Depósitos e Investimentos em construções, alta de preços de terrenos e melhores facilidades de ensino para os filhos de mães goesas embora com um self-government corrupto, pedimos a Higher Power que nos tolha a mão antes de atirarmos a primeira acusação de Telo de Mascarenhas a paz do silêncio e da verdade junto da campa do grande esquecido Nascimento Mendonça.
Cada homem tem direito a um sonho ou posto burocrático e não há que assacar culpas à grandeza imensa do Sonho como tal ou a limitação dos mangas-de-alpaca sim senhor El Rei dos Algarves, Yes Sir Milord of Wheat Fields of Punjab, o colonialismo é uma antítese do self-government com todo o seu manto de CORRUPÇÃO. No caso da Burocracia ou do self-employed man de negócios a ascensão ou declínio depende de um certo numero de constantes entre os quais conta a habildade de adorar o sol nascente e a intriga palaciana o problema do sonho é um caso diferente. O sonho de um homem letrado afasta-o das massas como numa contradição infeliz, essas mesmas massas humanas em cujo benefício o sonho visita o Homem. Tal foi o caso trágico do sonho de Telo de Mascarenhas. Nascido na aldeia de Velção, quase meu coaldeano, o Dr. Telo de Mascaranhas teve de ir a Coimbra como escolar de Direito para reconhecer as suas raízes indianas e juntamente com Adeodato Barreto, o grande e infeliz poeta que morreu até a consumação do ideário marxista numa aldeia de Portugal, com José Paulo Teles e outros (conforme leio num dos exemplares da “Índia Nova”) fundou o Instituto Indiano anexo a Biblioteca da Faculdade de Letras. Eram os anos 1920, a literatura portuguesa dividia-se entre o Surrrealismo de Almada Negreiros e a poesia épica decantada no ocultismo de Fernando Pessoa ou a trágico desespero de Mário de Sá Carneiro. O liberalismo democrático de António José de Almeida vivia horas de agonia e o MONGE de Coimbra preparava-se para tomar de assalto a velha Lisboa das naus que tinham vindo à Índia e marinheiros de Alfama. A longa noite da Ditadura com seus mitos glorificadores do Imperador Máximo de Aquém e Além Mar ia espalhando seu véu de sombras por sobre esse tão belo povo português, um povo capaz de uma cultura humanista como provam António Sérgio e Jaime Cortesão. Não se ouve falar mais do Instituto Indiano em Coimbra. “A Índia Nova” que chega a publicar uma mensagem de Tagore vê os seus redactores já formados e com família bem portuguesa. Adeodato Barreto recusa-se a burocratizar o pensamento em tacho oportunista que lhe podia dar pão e vinho e mantém-se firme a um ideário de redenção económica que lhe nega suficientes para se tratar e tratar dos seus, morrendo quase em penúria. São dos anos 1940 algumas traduções de obras de Tagore que aparecem em Lisboa da lavra de Telo Mascarenhas e que, muito embora venham via língua francesa, constituem uma bela introdução da alma indiana ao povo português. Anos 1949 e Telo Mascarenhas surge-nos aqui em casa fresco de Lisboa e Porto para convidar meu pai que ao tempo era presidente da câmara de Mormugão para presidir uma conferência no Casino de Vasco da Gama sobre “Primavera e os Poetas de Amor”, conferência esta que não se chegou a realizar por a polícia portuguesa ter cheirado o indianismo do autor. Tinha eu 13 anos de idade e admirava-o de improvisar versos às flores, às plantas, ao palmeiral tudo com invocações aos deuses indianos. É um poeta, pensava eu e por lá o teria esquecido, quando embrulhado entre revistas femininas de Bombaim começou a enviar-nos cópias do “Ressurge, Goa” do exílio. Há idealismo na sua Invocação quando rezava alto “edificaremos sobre o mar, sobre a terra, sobre as estrelas, a glória da nossa Terra Imortal”. Quem poderá negar que ele amava Goa?
Poeta do campestre, do rural como se diria agora, com profundas influências de Gil Vicente e Rodrigues Lobo, Telo de Mascarenhas provou-se um misfit, quem sabe um inconveniente que não sabia Konkani e Marata aos grupos políticos de Bombaim que trabalhavam pela libertação de Goa.
A política indiana não é para poetas ou idealistas e o exemplo mártir de um Tristão Bragança Cunha ou um Jaypracasha Narain (a este claram o grito de Revolução total com uma bolsa de um crore de rupias) chega-nos para não alimentarmos quaisquer dúvidas a este respeito. No caso de Tristão Bragança Cunha e tantos outros heróis esquecidos como Polly da Silva que foi a morrer aos 30 e poucos anos num curral basta-nos o facto de o Sonho de alguns ter sobejado para os mineiros, em especial uma família, continuarem a gozar do Poder. Uns sofreram para os mineiros continuarem a gozar os privilégios.
Como disse atrás, o Sonho de um homem letrado afasta-o das massas. No caso de Telo de Mascarenhas que depois de sofrer dez longos anos de prisão havia tentado entrar na politica, o resultado foi constrangedor. As massas não vão pelos sacrifícios, vão sim pelos símbolos comunalistas, daí a tragédia da democracia dos analfabetos com seu corolário de self-government is always better than alien rule. É ainda cedo demais para se pronunciar sobre a validade de um sonho, só a História poderá abarcar o Juízo final. Entretanto fica-nos a morte de um homem de letras portuguesas, um cativo do teatro vincentino e um devoto nem sempre regular das canções de escárnio e mal-dizer de que nos deu provas no Ressurge Goa dos anos de exílio.
Amigo da minha família, Telo de Mascarenhas impôs-se-me sobretudo pelo amor à Terra regado com anos de cárcere no exílio. Pena foi que educado mentalmente nos padrões da cultura jurídica do mundo latino não pudesse ajustar-se ao calão da Terra de que tanto se orgulhava. Dele se podia dizer “mal com os homens por amor à Terra, mal com El-Rei por amor à Terra”.
Como homem de Letras, Telo de Mascarenhas merece ser notado como poeta da tradição vicentina, das canções de escárnio e mal-dizer, um improvisador à velha moda portuguesa das desgarradas, um antigo que não chegou a alcançar os movimentos modernos da poesia e prosa portuguesa. Sendo assim, um poeta da língua lusa, era natural que até o sonho do Nacionalismo ficasse a mercê de suspeição e dúvida porque o local só aceita, porque compreende, unicamente o que se lhe diga em vernáculo ou no colonial mas ganha-pão inglês.
Curvando-nos reverentes perante a grandeza do sonho que permitiu aos Capitalistas maior mobilização de Depósitos e Investimentos em construções, alta de preços de terrenos e melhores facilidades de ensino para os filhos de mães goesas embora com um self-government corrupto, pedimos a Higher Power que nos tolha a mão antes de atirarmos a primeira acusação de Telo de Mascarenhas a paz do silêncio e da verdade junto da campa do grande esquecido Nascimento Mendonça.
Bastante oportuno!
ReplyDeleteWalfrido Antão é um escritor bastante interessante mas quase totalmente desconhecido. Publicou por volta de duzentas crónicas na imprensa goesa nos anos 60, 70 e 80. Vou postar mais textos dele nos próximos meses. Watch this space...
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