Thursday 25 August 2011

Judit Beatriz de Sousa - Leva Tudo (1954)

O que deixaste é muito! Leva tudo.
Não fico, nem por isso, abandonada.
Não temas que te peça o que não dás.
Leva tudo, Amor, não quero nada!

Não me revolto – vês – nem endoideço.
E sei que com aquela que adoraste,
Agora, nem por sombras me pareço.
Leva tudo, que é muito que deixaste!
Levando tudo, eu fico mais sozinha
E, então, ao menos, hei-de achar que sou
A única mulher que foi rainha
De tudo o que me deste e me levaste!...


Mário Isaac's opinion:

Para concretizar o que afirmámos ao lado, inserimos hoje um poema inédito de um dos casos positivos, esplendidamente positivos da poesia goesa. Através de uma dúzia de versos e de um intervalo de silêncio, seguimos a poetisa, presos da sua arte e da sua confissão. E porque estamos, realmente, na presença de uma instituição poética, chegamos ao fim e apetece-nos voltar ao princípio, a saborear a tocante simplicidade de expressões – retrato de um sentimento analisado e definido. Que faltará a esta poesia, para que a possamos classificar entre o que de melhor temos lido? Apenas isto: a extensão do seu eco para além das origens individuais – para além do âmbito limitado por um acontecimento de carácter transitório e em absoluto desligado do mundo exterior.

É o tema, afinal, que está a colocar a poetisa fora das necessidades do dia que passa. Nem por isso, é evidente, “deixaremos de classificar como poesia, como boa poesia, as produções deste género que nos venham às mãos – o que entendemos é que a mesma não cumpre, perante as exigências do momento, como lhe competia.

Mais um pequeno esforço e teremos na autora da poesia que hoje publicamos, uma colaboradora valiosa na obra literária em Portugal. Afirmamo-lo, esperançados em que seja possível à poetisa realizar a “viragem” que pretendemos. E não esquecemos aqui os outros valores que poderão nascer duma melhor orientação de algumas reais esperanças que já apresentámos aos leitores

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