Era uma vez um barbeiro ambulante que terminado o seu serviço numa aldeia distante, voltava para sua casa.
Era tarde e o sol já cansado da sua viagem diurna, recolhia os seus derradeiros raios, já amortecidos de brilho e calor. A noite aproximava-se a passos acelerados.
Como o caminho passava pela floresta, o barbeiro estava a andar com passo estugado para sair daquele emaranhado bosque, cheio de feras e serpentes venenosas, quando de repente, encontrou-se com um tigre, com intenções de o atacar.
Embora fosse medroso, o barbeiro era dotado de presença de espírito e vendo-se diante dum perigo tão iminente, apesar de assustado, pensou:
- Estou perdido, pois o tigre, certamente, não deixa de me atacar. Como devo proceder agora para sair ileso.
Estando nesta conjectura, ocorreu-lhe uma ideia magnífica, que logo resolveu pôr em prática para se livrar do risco que corria.
Cobrindo-se, em segundos, de falsa coragem, apresentou ao tigre o saco de viagem, e exclamou:
- Apanhei-te bem, cão chaguento! Há muito que te procurava e quero ver agora como é que te livras agora das minhas mãos, pois vou meter-te no saco, como ao outro que tenho aqui.
O tigre furioso pela ofensa que lhe era dirigida chamando-lhe cão chaguento, correu contra o homem o qual, porém, cônscio do perigo, tirou imediatamente da sua sacola e colocou-o diante do tigre.
O tigre vendo a sua própria imagem no espelho julgou que era verdade o que o barbeiro acabava de dizer e que tinha um tigre no seu saco. Para escapar da sua possível captura, fugiu do local e desapareceu, num triz, naquele serrado.
O barbeiro, já livre daquele animal feroz, prosseguiu o seu caminho.
Passado pouco tempo, o sol finou-se no ocaso e a noite começou a reinar naquela vasta solidão, como o seu apaniguado – a escuridão.
Impossibilitado de continuar a marcha, o barbeiro pensou pernoitar debaixo duma árvore de gralha que havia naquela floresta.
Tirou o bornal, acabou a sua refeição e quando estava prestes a estender-se no chão para dormir, ouviu o bramido das feras, que se aproximavam da árvore, à cuja sombra estava alojado.
O rugir que acabava de escutar deixou-o acometido dum terror e para se não expor novamente ao mesmo risco, trepou imediatamente aquela árvore, escondendo-se sob a densa folhagem, com a vista e os ouvidos concentrados no chão.
Passando pouco tempo, apareceu debaixo daquela árvore, com uma presa refastelar, uma malta de feras entre as quais se encontrava também o tigre já referido, o qual durante o festim contou aos seus companheiros o incidente ocorrido, acrescentando que nunca na sua vida viu um homem tão perigoso que se atrevesse a ofender chamando-lhe cão chaguento e ameaçando-o de que teria a mesma sorte como o outro tigre que levava no saco.
Os companheiros, porém não acreditaram no que ele contava e começaram a chalaceá-lo, taxando-o de mentiroso e bazofiando de que caso tivessem encontrado esse homem o reduziriam a pedaços.
O barbeiro que presenciava a cena, que se desenrolava abaixo, ficou tão assustado que começou a
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tremer como varas verdes, mexendo-se também, em sua consequência, o ramo em que estava sentado.
Sobre o mesmo ramo e sem ser notado estava também dormindo uma cria do macaco que pela acção de mexer do ramo acordou estremunhada e não podendo suster-se pelo balouço, caiu para baixo, onde os tigres estava entretidos no refastelamento, da caça.
Como o barbeiro que, como acima se disse, era astuto com suficiente presença de espírito, resolveu tirar partido dessa ocorrência para meter medo àqueles animais, quando o macaquito estava a cair, exclamou:
- Olhe! Agarre aquele tigre que se me escapou há bocado. Vamos capturar este e ainda todos que lá se encontram para meter na nossa gaiola.
O tigre vendo inesperadamente cair do cimo da árvore, que julgou ser o emissário do homem perigoso, teve muito medo e fugiu gritando:
- Fujam, amigos. O homem perigoso, de que falei, está em cima e certamente vai agarrar-nos para engaiolar.
E todos aqueles tigres ficaram tão atrapalhados e atrasados de tal pânico que se puseram imediatamente a fugir para nunca mais voltar, deixando o local vazio e sem sinal algum.
O barbeiro desceu, em seguida, tranquilamente, da árvore e, depois de um sono profundo e reparador seguiu, no dia seguinte, o caminho de sua casa, onde chegou são e salvo.
Translated from the Marathi
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