Mil novecentos quarenta e sete – eis uma data
Desde a qual a Nação frui liberdade lata
Vertido um mar de sangue, o inglês finalmente
Promete deixar Índia em paz, de boa mente...
Foi em quatorze de Agosto! Um dia a mais raiara;
Batera a meia noite. O Bharat trepidava...
Sonhos de glória e raiva! Euforia! Tristeza
Um povo que traçou páginas de beleza
Vibrava em alto grau, tanto no Parlamento
Como fora na rua, à luz de firmamento...
E um homem austero, a passo mesurado,
Caminhou então, hirto e solene, ao estrado...
Era o audaz Nehru, o primeiro-ministro.
Acabara o terror, o regime sinistro.
Uma terra já livre – ia ter finalmente
Um governo só seu, mesmo da sua gente!
Cumprido o protocolo e aposta a chancela
Um dilúvio de luz – visão de Cinderela –
Inunda o capital! As ruas, as esquinas.
Eram grandes florões de cores peregrinas.
Archotes, lampiões, como em dias de festa,
Brilhavam no solar e na casa modesta.
Bandeiras e festões, mil ramos de verdura;
Charangas a tocar; fogos, doces, fartura!
Homens, ao desafio, choravam a gritar
No entretanto, Nehru, numa voz muito calma,
Entrava a declamar, bem do âmago da alma
Sua fala à Nação, mensagem bem sentida
O eco passional duma alma dolorida:
Um sulco de agra dor riscava-lhe a fronte:
Como num sonho mau, ele via defronte
Questões de águas do mar e questões dos caminhos,
A intriga de Jinah, receios dos vizinhos...
Uma Índia bipartida, ele já visionava
Um mal bem fatal que de longe espreitava...
Tudo isto e muito mais, nessa data bendita
Passou, qual raio veloz, na mente do Pandita,
Que cimentou com sangue e mais inteligência
O último grau de nossa Independência.
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