Não obstante termos desempenhado várias funções oficiais na Metrópole e termos vivido durante um longo período em Portugal, nunca renegamos o nosso ideal nacionalista e nunca fizemos segredo das nossas ideais.
O ideal nacionalista nasceu em nós, num grupo de goeses que faziam os seus estudos em Portugal, mercê do conhecimento da História da Índia e da nossa própria história, das nossas tradições e do nosso glorioso passado. Em Goa tinham-nos ensinado a História de Portugal, como sendo a nossa História e a venerar os reais guerreiros e os “heróis” portugueses. Em Portugal, porém libertamo-nos dessas falsas ideias e dos ídolos alheios, e aprendemos a amar a Índia e os seus grandes vultos, do passado e do presente – o Rei Açoca, Pritiviraj, Sivaji Tagore e Gandhi.
Só se ama melhor a nossa terra quando estamos longe dela. E nós amamo-la e cultivamo-la com um sentimento misto de devoção e orgulho. Durante as férias escolares, em Portugal, quando não nos embrenhávamos nas magníficas matas de Sintra ou Bucaço ou quando não repousávamos nas areias douradas, que são as praias de Portugal, refugiávamo-nos na Biblioteca Nacional de Lisboa, onde nós familiarizámos com o multimilionário repositório dos Hinos de Harivança, com as obras dos historiadores que nos falavam da Índia, tais como as de Max Muller, Gustave Le Bon, Jacoilliot, obras que nos deslumbravam, e com as dos nossos próprios escritores como Francisco Luís Gomes. Foram eles os iniciadores do nosso nacionalismo. Em 1923, Romain Rolland publicava, em tradução francesa, os escritos e as cartas de Mahatma Gandhi, com o título de “La Jeune Inde”, que para nós foi um deslumbramento e a revelação da alma do nosso maior Apóstolo do Nacionalismo Indiano. Levados pelo nosso ardor nacionalista, fundávamos em Lisboa, em 27 de Janeiro de 1926, o Centro Nacionalista Hindu, em cuja sessão inaugural foi saudada a Índia com discursos inflamados de puro patriotismo, que o “Bharat” de Hegdó Dessai publicou em número especial. Dos iniciadores deste movimeno só um, infelizmente, se encontra entre nós lutando pelo nosso velho ideal – o Dr. António Furtado. O artigo que nessa altura publicámos no “Bharat” intitulado “A Morte dos Ídolos” foi o primeiro grito de rebelião contra os falsos ídolos que haviam imposto à Nossa Terra e às nossas almas, com o fim de extirpar delas a nossa qualidade de indianos. E este primeiro acto de rebelião deu lugar a uma violenta reacção por parte das autoridades imperialistas de Goa, secundadas por alguns goeses, que arrastaram o “Bharat” à barra do tribunal como responsável pela publicação daquele nosso artigo.
Seguiu-se depois em Coimbra, em 1927, a era de renovação literária com fundo sentido nacionalista com o jornal “Índia Nova” (Órgão dos Estudantes Goeses das Universidades de Portugal) e do qual foi alma dinâmica, entre outros, o malogrado Adeodato Barreto.
Este nosso velho idealismo não quebramos através de anos, bem pelo contrário, manteve-se sempre aceso a ponto de nos ter dado forças e alento para abandonando a nossa vida profissional em Portugal, regressarmos à Índia e nos lançarmos nesta “mêlée” feita de incertezas, de renúncia e de sacrifícios, que é a luta pela emancipação da Nossa Terra, porque achamos que era do nosso dever, e dos mais sagrados, ser coerentes com nossas ideiais. E a quem luta sem ambições, com o único intuito de ver realizado um nobre ideal, a Providência não abandona. E o nosso olho da Providência é a obra a que lançamos ombros com trabalhos insanos e sacrifícios sem conta – o “Ressurge, Goa!” – alimentado com o melhor do nosso esforço com o sangue arrancado do nosso próprio peito, como os pelicanos, e mercê disso ele tem hoje uma larga expansão e é tido como uma nova aurora anunciadora da breve redenção do Povo Goês.
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