Faz poucos meses, um escritor metropolitano que viveu algum tempo nesta terra e se interessou com vivo carinho pela actividade cultural do nosso pais, registava em tom magoado, que Goa, sem embargo de ser reputada como centro de cultura lusíada no Oriente, contribuísse com escassa produção, no campo literário.
Por nossa vez, não hesitamos em subscrever o amargo reparo contanto que se limite somente ao presente. De feito, mercê de factores que longo e também delicado se esmiuçar neste lugar, as Letras em Goa vegetam presentemente numa estagnação.
Talvez a um espírito superficial se afigure esta opinião pouco exacta à vista de abundância de periódicos que entre nós pululum. É certo que aumentou, nos nossos dias, o número de jornais; mas doutro lado não se pode deixar de admitir que cresceu concomitantemente a onde de desmazelo com que é tratada a língua na qual estas folhas vêm a lume.
Consola, todavia, verificar que nem sempre o goês, integrado na cultura portuguesa, fez pouco do idioma.
De posse duma sólida formação humanística e lidando com quase toda a literatura portuguesa e sobretudo com a clássica, os nossos escritores de antanho manejavam a língua de Vieira com tal domínio, apesar de não a terem aprendido desde a infância, que causavam espanto nos próprios meios cultos da metrópole.
Dr. Júlio Gonçalves, insigne professor e escritor do século passado, se lê que usava com tal pureza a língua que em Portugal era tido por esse facto como um reinol e não como um puro goês.
Oferecemos, nesta página, trechos escolhidos de dois dos nossos escritores que ganharam loiros, no manejo do idioma português. São eles Floriano Barreto e Wolfango da Silva.
O primeiro anti-sazão arrebatado pela Morte ao cultivo das boas letras distinguiu-se como filho dilecto das musas e como tal deixou uma coletânea de vários poemas intitulada Falenos e de que extraímos a poesia que vai publicada em outro lugar.
O outro escritor é e Dr. F.X. Wolfango da Silva, personalidade multifacetada em que sobrepujava talvez o seu peregrino talento literário. Chefe dos Serviços de Saúde, mestre cujos lições sobre medicina eram escutadas com acatamento e admiração pelas gerações de estudantes que frequentaram a nossa Escola Médica, orador da palavra enfeitiçante graças à qual os temas da ciência se despojavam da natural aridez e ganhavam vida e interesse, o Dr. Wolfango da Silva possuía o raro condão de imprimir a beleza a qualquer produção que saísse do seu privilegiado espírito.
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