Já há tempos, ao de cima da rama, nos referimos ao assunto e hoje apetece-nos, uma outra vez, bordejar o siso, um nadinha só mais amplamente, porque, estamos na nossa, de que o assunto merece os esmeros e os mimos paternais de quem cuida e manda. De quem cuida e de quem manda e, mais que tudo, responde pela manutenção dos valores intelectuais. Afinal, aqueles valores que perduram e se perpetuam nos caminhos ásperos e heróicos do Tempo e do Espaço.
Seja esta a primeira pergunta, se me dão licença. Há ou não há valores goeses actuais? Há ou não há valores goeses em nossos dias, uns entrados na idade e amadurecidos pelo estudo e ainda não minados pela desilusão, outros tenros de anos, irrompendo para a vida com o entusiasmo remoçado de quem se sente talhado pelos fados para as coisas da Literatura?
Cremos que sim, pelo menos em maior ou menor grau.
Deixemos os mais velhos que pelos anos fora têm rompido a vencer dificuldades de toda a espécie, e falemos hoje de novos. Entre estes há, pelo menos, jovens poetas, já que a poesia é a forma artística mais pronunciada nas primeiras idades literárias, porque em seus inícios ela é toda lírica, emoção pura e primitiva, e nada, ou pouquíssimo, racional, intelectualizada.
E aqui temos de lançar uma outra pergunta. E onde encontram esses jovens poetas, na floração do seu talento, os estímulos para continuarem os seus exercisios literários estímulos para continuarem os seus exercísios literários, para darem volume definido e humano aos seus sonhos poéticos, às suas ambições de homens que vêem na Arte a sua audaciosa e mais querida razão de ser? Melhor, talvez: como poderão esses nóveis literatos vazar os seus versos ou os seus ensaios literários? Como poderão comunicar eles com o público, se não alcançam nada através de que? E não nos esqueçamos de que a comunicação com o público, que é lograda especialmente através de publicações e da critica, é dos factos mais decisivos para a evolução do artista. Já porque o artista encontra nesse como que diálogo entre si e a massa o remate de tarefa realizada e cumprida ainda que momentaneamente.
Eis porque ousamos avantar aquilo que uma vez sugerimos: criarem-se as possibilidades de algum organismo lançar mãos dos originais dos poetas (ou de contistas ou romancistas, se eles vierem a sugir em Goa) e dá-los a conhecer ao público, por intermédio de publicações gratuitas ou compradas aos autores.
A Imprensa Nacional, parece-nos, não encontraria dificuldades que não fossem ultrapassáveis, para levar adiante iniciativa tão generosa e útil, se os poderes constituintes assim o entendessem e o determinassem.
E se a tudo isto, ajuntássemos antologias de prosadores e poetas goeses que ergueram alto o seu nome através dos anos e edições de valores actuais bem definidos, prestava-se um belo serviço à Cultura Portuguesa e satisfazia-se assim uma necessidade que, de uma assentada aprazia a autores, ao público e a todos quantos têm para si que uma coisa nunca poderá ser destruída e sempre fica como padrão perpétuo e reduto indestrutível: a Cultura.
Evidente mente que esta sugestão despretensiosa, mas sincera, para se tornar numa realidade invejável requeria uma pequena secção que poderia ficar adstrita à Imprensa Nacional e com latitude suficientemente elástica de modo a que pontos de vista menos largos ou menos convenientes não viessem apear os vôoes poéticos ou os rasgos humanos dos prosadores com direito de mérito a serem publicados.
Este facto o reputamos de muita importância e antolha-se-nos que para se levar que para se levar adiante a obra que referimos é absolutamente necessário tê-lo bem presente e bem vivo na memória, senão tudo ficará sujeito a proporções de obra maninha.
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