Há já um ror de anos numa selva, perto de um rio, chamado Ganges, vivia um poderoso maharajá de nome Rama, senhor de uma avultada quantia de oiro e prata.
Um belo dia, o soberano mandou chamar todos os ourives e escultores ao seu palácio, ordenando-lhes que se apresentassem lá com os seus últimos trabalhos, pois desejava escolher a obra mais primorosa, para ter na sua corte.
Vieram lá ter com o nobre muitos artistas, em cumprimento à sua ordem uns, velhos com barba já cheia de cãs; outros novos em que a barba mal tinha despontado. E cada um pôs-se a exibir as suas obras: arrecadas, broches, braceletes, pulseiras, eu sei lá...
Entretanto, comparecem lá um jovem de tal modo alto e delgado que ao inclinar-se, parecia um junco vergado pelo vento. Este mancebo trazia uns anéis trabalhados com tanto primor que o soberano assombrado ao ver aquela obra tão válida prometeu oferecer-lhe carradas de ouro e prata para fabricar milhares de anéis.
No dia seguinte, o artista pôs mãos à obra.
O fidalgo permanecia silencioso, imóvel; comtemplativo ao lado do exímio cinzelador, pois gostava de ver aquelas mãos de dedos compridos e delgados que se mexiam como pernas de aranhas, trabalhavam com tanta celeridade e mestria...
Quando dava por terminado um par de anéis, pulava de contente, levantava a cabeça e o seu olhar passava por uma janela e ia perder-se num carreiro de terra vermelha, lá muito ao longe, entre os exuberantes palmares daquela pitoresca selva, a beira do rio. E o nobre aproveitava aquelas breves pausas para lhe observar que a obra se ia aperfeiçoando cada dia mais. E o artista baixava os olhos e punha-se outra vez a trabalhar.
Num abrir e fechar dos olhos deslizaram os dias e, uma manhã, o insigne artífice deu por acabado o seu trabalho. E foi nosso altura que o fidalgo lhe disse:
“Vamos carregar todos os anéis numa canoa e amanhã iremos distribui-los pelos seus amigos.”
E assim fizeram. Encheram uma canoa de anéis e lá se foram ao rio.
Era uma tarde sombria, quente, pesada. Nuvens negras escureciam os ares e uma chuva torrencial entrou a se espalhar por terra. Entretanto, na margem cantou um martinho e um bando de gralhas atravessou o rio e escondeu-se na floresta um vento desabrido e uma vaga entrou na canoa que imediatamente foi a pique.
O maharajá e o artista conseguiram nadar até à margem do rio e puseram-se a olhar daí para as ondas, esperando que as águas lhes devolveriam o que lhes tinham arrebatado. E, quando cessou a intempérie, pela noite, o soberano disse ao cinzelador que fosse voando... e perguntasse a todos se tinham visto seus anéis: notou-lhe também que ele ficaria na margem do rio, esperando que o rio lhe devolveria os anéis.
E foi desde essa noite que o maharajá que se transformou em junco, e o artista em mosquito. É por este motivo que os juncos ficam nas margens dos rios, esperando que os rios lhes devolvam os anéis e os mosquitos parecem perguntar:
“Os meus anéis? Os meus anéis?”
Se non è vero, è bene trovato
Um belo dia, o soberano mandou chamar todos os ourives e escultores ao seu palácio, ordenando-lhes que se apresentassem lá com os seus últimos trabalhos, pois desejava escolher a obra mais primorosa, para ter na sua corte.
Vieram lá ter com o nobre muitos artistas, em cumprimento à sua ordem uns, velhos com barba já cheia de cãs; outros novos em que a barba mal tinha despontado. E cada um pôs-se a exibir as suas obras: arrecadas, broches, braceletes, pulseiras, eu sei lá...
Entretanto, comparecem lá um jovem de tal modo alto e delgado que ao inclinar-se, parecia um junco vergado pelo vento. Este mancebo trazia uns anéis trabalhados com tanto primor que o soberano assombrado ao ver aquela obra tão válida prometeu oferecer-lhe carradas de ouro e prata para fabricar milhares de anéis.
No dia seguinte, o artista pôs mãos à obra.
O fidalgo permanecia silencioso, imóvel; comtemplativo ao lado do exímio cinzelador, pois gostava de ver aquelas mãos de dedos compridos e delgados que se mexiam como pernas de aranhas, trabalhavam com tanta celeridade e mestria...
Quando dava por terminado um par de anéis, pulava de contente, levantava a cabeça e o seu olhar passava por uma janela e ia perder-se num carreiro de terra vermelha, lá muito ao longe, entre os exuberantes palmares daquela pitoresca selva, a beira do rio. E o nobre aproveitava aquelas breves pausas para lhe observar que a obra se ia aperfeiçoando cada dia mais. E o artista baixava os olhos e punha-se outra vez a trabalhar.
Num abrir e fechar dos olhos deslizaram os dias e, uma manhã, o insigne artífice deu por acabado o seu trabalho. E foi nosso altura que o fidalgo lhe disse:
“Vamos carregar todos os anéis numa canoa e amanhã iremos distribui-los pelos seus amigos.”
E assim fizeram. Encheram uma canoa de anéis e lá se foram ao rio.
Era uma tarde sombria, quente, pesada. Nuvens negras escureciam os ares e uma chuva torrencial entrou a se espalhar por terra. Entretanto, na margem cantou um martinho e um bando de gralhas atravessou o rio e escondeu-se na floresta um vento desabrido e uma vaga entrou na canoa que imediatamente foi a pique.
O maharajá e o artista conseguiram nadar até à margem do rio e puseram-se a olhar daí para as ondas, esperando que as águas lhes devolveriam o que lhes tinham arrebatado. E, quando cessou a intempérie, pela noite, o soberano disse ao cinzelador que fosse voando... e perguntasse a todos se tinham visto seus anéis: notou-lhe também que ele ficaria na margem do rio, esperando que o rio lhe devolveria os anéis.
E foi desde essa noite que o maharajá que se transformou em junco, e o artista em mosquito. É por este motivo que os juncos ficam nas margens dos rios, esperando que os rios lhes devolvam os anéis e os mosquitos parecem perguntar:
“Os meus anéis? Os meus anéis?”
Se non è vero, è bene trovato
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