Friday, 2 September 2011

Mariana Juliana Cordeiro Monteiro - Protesto (1962)

Tu, que me deste o ser,
Ao calor do teu seio
Não me abortes o viver
Que do Amor me veio!

Porque me não deixas ver
O raio doirado do Sol
Sentir, ao anoitecer,
O conchego do teu colo?

Ouvir os passarinhos
Ao despertar da manhã
E ao mimo dos teus beijinhos,
Chamar-te: mamã, mamã!

Por falta de guarida
Não me deixas mal.
Tenho, como tu, o direito à vida,
E um alma imortal.

Por uma côdea de pão
Não te vás desesperar...
Terás a tua ração
Se souberes trabalhar

Não me mates, que horror!
À mingua de um bago de arroz,
Cresçam searas em flor
Pelas mãos que Deus nos pôs.

E nas névoas de amanhã,
Quem sabe lá
Se no teu glorioso afã
Não surgirá
Dos farrapos do teu manto
Um génio, um santo?

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