Sunday 13 February 2011

Mário Cabral e Sá - Pró-Portugueses e Pró-Indianos (1964)

Certo crítico da PIDE escreveu uma vez em ‘A República’ que eram os agentes daquela polícia política os principais responsáveis pela expansão do comunismo em Portugal – porque, muitos daqueles agentes, para justificar os seus salários e provar a sua utilidade, se dedicavam ao desporto de fabricar “comunistas”. Comunista passou a ser Ismael Gracias porque no lugarejo onde advogava, uma vilória minhota, patrocinou a causa de uma mulheraça que se travara de razões com seu amante, um polícia da esquadra do sítio… E, como Ismael Gracias, muitos outros por razões não menos disparatadas.

Em Goa, chamar outrem de comunistas já esteve nos hábitos dos videirinhas, os carreiristas inveterados que chova ou faça sol, sempre estão com a situação. A moda, hoje, é chamar outrem de “pró-portugueses” e chamarem-se a si próprios “pró-indianos” – gente de má morte aqueles, divinos prodígios estes.

Como e por que ser-se “pró-português” implícita que se é “anti-indiano” e como e por que ser-se “pró-indiano” implícita que se é “anti-português” – quem o saiba que o diga... O que a nós nos surpreende é que se diga, à uma, que o responsável pela tensão nas relações indo-portuguesas é, unicamente, o governo do Dr. Oliveira Salazar, que se diga que o seu Governo não representa a nação e o povo portugueses e que se diga, sem pejo pela contradição, que ser-se amigo de Portugal e do seu belíssimo povo é ser-se inimigo de povos co quem Portugal não pode, neste momento, ter relações amigáveis, simplesmente porque tal não permite a politica adoptada pelo Governo no exercício do seu mandato.

Por outro lado, patrioteiros e patriotaços que, ainda ontem, traziam os gorgomilos enfartados com o que às mancheias lhes deitavam às gamelas os portugueses que aqui se encontravam, em paga do “portuguesismo” exibido, mestres na arte da patriotipércia, declaram-se ferrenhos “pró-indianos”. Esquecem-se de que, ser pró é ser a favor. Não se identificam indianos declarando-se “pró-indianos”. Como não se identificavam portugueses declarando-se “pró-português”... E, por isso, revelam que, nada seguros nem do que foram nem do que são nem, possivelmente, do que serão, o que querem é darem-se ares de “fiéis”, de “leais” à Pátria, seja ela quem for...

Em Pondicheri, temos Goubert que foi pró-francês e, ainda, não fez nenhum arrependimento público por o ter sido. Nem tampouco fez uma declaração negando suas velhas simpatias. Dir-se-á, uma vez mais, pela quincentésima vez, que os “franceses negociaram”, que os “portugueses não quiseram negociar”, que a França adquiriu direitos culturais na Índia e que Portugal os perdeu. O que não explicarão, porque não o podem, é a necessidade de se ser “anti-português” para se provar que se é leal à soberania que se estabeleceu em Goa em 19 de Dezembro de 1961!

Do que me foi dado ler e aprender das origens do nacionalismo indiano, e da sua evolução pelo figurino do universalismo gandhiano, derivei a noção de que o ódio é totalmente estranho à índole da politica nacionalista indiana. É por isso que é possível estar-se em estado de guerra com a China e continuar a ter-se uma representação diplomática em Pequim!

Sejam indianos todos quantos o queiram ser. Sejam bons indianos se bem querem servir a Índia. Mas chega desta brincadeira de chamar nomes que, nada significando, contudo, em vista do estado de histeria que prevalece nesta terra, prevaricam situações e falsificam-nas.

Disso, chega!

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