Friday 11 February 2011

Laxmanrao Sardessai - "Na Mão de Deus..." (1966)

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou, afinal, o meu coração,
Cantou assim Antero de Quental,
O poeta português, mas em vão,
Poeta filósofo, torturado pela dúvida,
Pela interrogação.
Pobre poeta, que, num momento de exaltado
Disse o que na verdade nunca sentiu
Nem nunca realizou...
O seu coração, atormentado, dilacerado,
Nunca alcançou a paz, o descanso
A que aspirava, indo pousar na mão de Deus,
Na sua mão direita...
Pois, foi procurar na morte esse descanso
Pondo termo à sua existência genial,
Foi poeta-filósofo, sim...
Mas não pôde conciliar
A poesia da vida com a filosofia do Universo.
Se eu fosse Antero, diria:
“Na mão de Deus, na sua esquerda
Descansou, afinal, o meu coração...
A deusa é a minha amada em carne e osso
E não uma imaginação... uma ilusão.
Na sua mão, na sua mão direita,
Mão de carne, mas mão divina
Onde corre a raiva de ternura e compaixão,
Onde o amor palpita como o pulso
Onde toda a graça da sua alma
Se torna manifesta
Nessa mão se levou o bálsamo
A tantos corações amargurados
E guiou pela senda do dever,
Através das trevas,
Tantos espíritos desvairados,
Eu encontrei o descanso,
E que é da sua mão esquerda?
Essa, meu querido leitor, está entretida
Em afagar-me, acariciar-me
E nós, ambos, um dia,
Quando a morte nos vier chamar,
Iremos juntos descansar
Na mão esquerda de Deus
Que o poeta filósofo ainda deixou intacta!

The original "Na Mão de Deus" by Antero de Quental can be found here: http://ocanto.esenviseu.net/apoio/maosdeus.htm

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