Saturday 12 February 2011

Renato de Sá’s Review of “Flor Campestre” (1968)

O conhecido poeta Alberto de Menezes Rodrigues acaba de dar à publicidade um livro de contos e novelas sob o título geral de “Flor Campestre”, numa bela edição da Tipogragia Rangel.

São contos e narrativas, de maior ou menor extensão em que o drama de certas vidas é narrada com objectividade e leveza de estilo.

Aqui no primeiro conto “Flor Campestre”, trata-se de um jovem médico, de avantajada condição social que se apaixonou por uma jovem aldeã que certa manha surpreendeu donairosa ao regressar a casinha humilde com o cântaro de água a saltitar no antebraço e como diria o ronha da aldeia “revelando mais e escondendo menos...” a entoar uma terna canção.

Porém isso é simples platonismo ou a cousa caminha de vento em poupa perguntava um realista das redondezas.

Alberto de Menezes Rodrigues descreve o ambiente da aldeia em que decorre a acção do conto, as horas duras que o jovem médico tem de passar numa luta de verdadeira tração entre o preconceito social e as preocupações da família da jovem camponesa que procura arrumar o futuro da filha com um moço que se ajusta mais à sua condição, luta tremenda que o consome, mas em que o destino por fim pondo-se de permeio realiza a almejada aliança.

Perguntar-se-ia porém ao autor desse conto: assim teria acontecido de facto?

Todavia é o autor que no-lo narra, e temos de admitir que não seria cousa insusceptível de suceder nesta vida.

Alberto de Menezes Rodrigues
-x-

Num outro conto que se intitula “Lua-de-Mel em Caxemira” que tem por fim um desfecho fatal e depois sob outras circunstâncias uma Lua-de-Mel; as “Belezas Naturais do Mundo” ou “Dádiva do Céu” em que após anos de esterilidade se volta a página atormentadora da vida de um casal e ainda a tragédia Celeste todas essas constituem narrativas sentimentais da existência para muitas das quais a vida jamais sorri.

Nas páginas do livro que estamos a revistar surgem aqui e além quadros campestres e recortes de paisagem goesa evocada com sentimento e vibração da alma: Calangute com o seu vasto areal batidos pelas vagas alterosas do Índico, uma casinha recortada ao fundo duma duna onde teve lugar um devaneio amoroso, o cruzeiro de Bambolim, a encosta que conduz para o mar, vista a hora do recolhimento quando uma voz melodiosa ressoa naquela verdajante solidão:

“Meu Deus,/E tantas gotas desperdiças/Pelas charnecas áridas, nos montes/Nos areais e campos e caminhos/Onde há florinhas brancas a brilhar!"

Outros quadros matizam ainda estes solilóquos: a faina campestre, o espectro da estiagem que consome o homem do campo, depois ainda, as searas reluzentes ao sol etc., toda essa terna evocação de paisagens conhecidas, onde se desenvolvere a acção das suas narrativas, dão ao novo livro de Alberto de Menezes Rodrigues um doce sabor e de onde se espelha ao mesmo tempo o travo de melancolia do seu espírito, aliás, já manifesto, em algumas páginas da sua obra de poeta.

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