Como poeta, novelista e dramaturgo, brilhou Tagore para sempre, mas a alta expressão do seu sentimentalismo só se manifestou em exuberância nos dramas que escreveu e representou no palco. Ainda hoje há poucas pessoas cultas que teriam compreendido a fundo os dramas de Tagore.
Muitas delas acham que os seus dramas são inadaptáveis para o palco por serem excessivamente sentimentais e com alta dosagem de lirismo. Importa porém aprofundar e compreender o que Tagore teria querido manifestar através dos seus personagens. Uma das principais razões para a frustração dos apreciadores dos dramas de Tagore é a preocupação errada acerca do ideal do dramaturgo. Falando com toda a franqueza, é-me penoso manifestar que as peças teatrais de Tagore traduzidas em línguas europeias são muito mal representadas nos palcos europeus.
Mas todos aqueles que têm a felicidade de as ler no original sabem quão ternas e sentimentais elas são.
Não sei até que ponto Tagore teria influído nos escritores da língua portuguesa. O que sei é que no Brasil ele teve um acolhimento melhor que em Portugal.
Não sei se as peças teatrais de Tagore foram representadas no palco português. Suponho que só o Chitra pode ser levado em cena no palco de Goa, mas muito mutilado e deveras deformado.
Num estudo bem elaborado sobre as peças teatrais de Tagore, o escritor Sombhu Mitra diz o que segue:
“As peças teatrais de Tagore têm sido muito atacadas por críticos de reputação como dramas de inacção similares em espírito e inspiração aos de Maeterlinck. Mas eu acho que tanto a discrição como a comparação é mal concebida. Temos que ver a representação bem produzida de Ratakkarabi para compreendermos quão diferentes são os dramas de Tagore das criações abstratas de Maeterlinck”.
Este drama de Tagore é um quadro vivo da crise da civilização contemporânea do mundo. Ele trata do horrível dilema do homem moderno nas garras da sociedade acquisitiva e materializada.
Os dramas de Tagore apresentam nitidamente o reflexo de diversos complexos que atacam a sociedade moderna e diversos movimentos políticos e revoluções sociais por que ela passou. Por exemplo, Dhanajoy Bairagi é um personagem arquétipo. Ele traça claramente o seu movimento de não pagamento de impostos, muitos anos antes de Gandhi incidentalmente nos ter familiarizado com o seu célebre movimento.
E, não obstante estes retratos vivos exibidos no palco, há quem ache que os dramas de Tagore são anémicos.
É que a maior dificuldade encontrada para a nítida compreensão das peças teatrais de Tagore está em o espectador compreender o subjectivismo do dramaturgo.
A Jatra tem sido uma das vigorosas formas do teatro popular de Bengala que Tagore aproveitou admiravelmente para expor ao público os seus altos dotes de dramaturgo de raça.
Não haja dúvida que o espectador vulgar que não leu o drama de Tagore antes de ir ao teatro, não está capaz de compreender cabalmente o seu simbolismo.
As convenções do palco do teatro popular Jatra de Bengala foram aproveitados por Tagore para representar no palco certos conceitos filosóficos e morais como: Destino, Consciência e o Mal.
E é muito curioso ver conversar todos eles um com o outro, individualmente, individualizados em dramatis personae, não como alguém vê num filme cinematográfico a sequência de um sonho mas pelo modo típico de Tagore. Esta é a feição típica do teatro popular bengalês.
Basta notar cuidadosamente o diálogo entre Nandini e Bishu no Raktakarabi ou seguir atentamente as reacções psíquicas da rainha Sudarsana e Kanchiraj no Rajá para se nos convencermos das afirmações acima feitas.
Ao aproximarmo-nos das peças teatrais de Tagore é necessário esvasiarismos os nossos cérebros do peso morto de certos preconceitos acerca dos ideais do autor e bebermos com as mentes frescas o mel doce do seu lirismo e da sua poesia filosófica.
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