Pio da Gama Pinto, mais conhecido por Pio Pinto, que foi ontem alvo de merecida homenagem no Conselho Municipal de Mapuçá, pela passagem do 10o aniversário do seu assassinato, foi um denodado combatente da liberdade e ardente paladino da igualdade social que pagou com a vida a sua dedicação à causa por que pugnou desde muito moço.
Nascido na Quénia em 1927, foi, pode dizer-se, um queniano, um africano, não só par droit de naissance, mas também por droit de conquête a ponto de um ilustre dirigente politico, o sr. Oginga Odinga, daquele pais o ter apelidado de Patriota Africano. E, tendo já antes lutado pela libertação de Goa e depois, alcançada a independência pelo Quénia, batalhando também pela de outros países africanos e, de um modo geral, de todos os territórios coloniais, foi um dedicado obreiro da causa do anti-colonialismo a ponto de Lord Fenner Brockway, o fundador e presidente da Liga Anti-Colonial de Londres dizer que I died a little myself when I heard of Pio’s assassination.
Se foi ainda em Goa, quando vivia com seus pais em Carrem de Socorro, sua aldeia ancestral, a estudar em Arpora, que Pio começo a ler os primeiros livros sobre o socialismo, sentindo o espírito revoltar-se contra a exploração económica que representa o sistema agrário de batcares e mundcares, foi em Bombaim, primeiro, que, inscrevendo-se no Congresso Nacional de Goa, e depois em Nairobi, no East African Indian National Congress, que Pio se revelou como incansável lutador contra a opressão politica.
Preso pelas autoridades britânicas durante a famigerada Operation Anvil, desterrado uns poucos meses depois do seu casamento, por quatro longos anos, na longínqua ilha do Manda, onde foi mantido incomunicável mesmo com a sua esposa nos dois primeiros anos, transferido para Kabaruet com restrição de movimentos e finalmente posto em liberdade, Pio lançou-se de novo na luta, com redobrado vigor, até a libertação de Jomo Kenyatta, tido por chefe da suposta seita terrorista, Mau-Mau.
Membro da Assembleia Legislativa Central, eleito em 1963 e deputado especialmente eleito para a câmara parlementar no ano seguinte, muito havia ainda de esperar de Pio, trabalhando naquele alto órgão legislativo em intima colaboração com o grupo parlamentar da Kenya African National Union (KANU) e como um dos gestores do Instituto Lumumba, bem assim como organizador do movimento sindicalista no Quénia, se não tivesse sido varado por uma bala assassina em princípios de 1965.
Pio foi também jornalisa que fez da pena uma verdadeira espada, trabalhando primeiro em posições subalternas nos periódicos Tribune e Colonial Times, em seguida, como editor do diário inglês-guzerate Daily Chronicle, depois ainda no órgão da KANU, Sauti Ya Mwalrika, e, finalmente, fundando a Pan-African Press, com larga ressonância em todo o continente, de que foi editor-em-chefe, tornando-se digno do galardão póstumo da Organização Internacional dos Jornalistas pela sua “importante contribuição ao desenvolvimento da cooperação e unidade dos jornalistas”.
Fradique que o conheceu em Nova-Deli, por ocasião do seminar sobre as colónias portuguesas de África em 1971, curva-se reverente perante a memória sagrada de quem William Attwood descreveu como um “brilhante táctico” e Malcom MacDonald como “organizador de um movimento político como nunca se via em tempo algum e em pais algum no mundo” – dois tributos que, por virem donde vêm, dão bem a medida do seu valor e da perda que a sua morte prematura, aos 38 anos, representou para a causa da liberdade em todo o mundo.
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