Ardem círios sobre o Sepulcro.
A vossos pés, numerosos abolins,
Essas flores de Goa, de suave olor,
Parecem querer aliviar-lhes a dor.
Na capela-mor está a Cruz,
Onde, ainda há pouco, Vós vi pregado,
O Jesus!
E, em sua frente, numa mesinha,
Os três cravos que nela Vos haviam fixado
E a coroa de espinhos que Vos cingia a cabeça.
Anualmente, na Sexta-Feira Santa, comove-me este cenário
Que recorda o vosso horrível martírio no Calvário.
Um a um, os fieis beijam os vossos pés,
Ajoelhando, à beira do Sepulcro, com respeito e compunção,
Eu quero ser o último. Quero beijar-Vos, Senhor,
No silêncio e na solidão.
Anseio estar em grande intimidade convosco.
É triste esta hora, e um arrependimento sincero
Domina o meu ser que muito Vos tem ofendido.
Vós sois a mina Luz. Sois o Caminho, a Verdade,
Impelido pelo vosso imenso amor à Humanidade,
Quisestes morrer na Cruz,
A fim de a redimir e lhe abrir as portas do Céu.
Naquele dia, na Judeia.
Subindo o Calvário, íngreme e pedregoso,
Passastes por tormento horroroso!
Eu sou a urze mirrada da beira da estrada
Que aguarda com ansiedade
O despenhar da agua vivificante
Das nuvens do céu.
Eu necesito da vossa protecção.
Dai-me vossa bênção, ó Jesus ensanguentado!
Que ela fortaleça a minha alma tímida e atribulada
E me leve a cumprir devidamente os meus deveres
- Que tantas vezes me fazem penar! –
E evite o desalento,
O descorçoamento,
Se contratempos e frustrações me vierem esmagar.
Todos beijaram vossos pés e saíram da igreja.
Avanço para o Sepulcro em silêncio
E ajoelho
Vejo a vossa cabeça reclinada sobre uma almofada;
As pálpebras tranquilas e descidas sobre os olhos:
Os vossos pés trespassados.
Que profunda emoção eu sinto agora aqui:
Beijo os vossos pés respeitosamente.
Senhor! Senhor! Dai-me aquilo que Vos pedi!
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