Sunday 19 June 2011

Maria Juliana Cordeiro Monteiro - Porquê (1965)

Cães lazarentos,
Cães danados,
Vagueam pelas estradas,
Sem pão nem patrão,
Pobres animais,
Símbolo da fidelidade,
Como são descuidados,
Pela humanidade!
Quem deles tem compaixão,
Se, doentes, sem carinho,
Sem um osso para roer,
Vadios de profissão,
Vão alastrando, sem querer,
Terror e morte
Pelos povoados
Superlotados?
Almas penadas
Errando pelos caminhos,
Libertinos,
Ao Deus-dará,
A cumprir as penas
- Vejam só –
D’alguma raposa má,
Sua tetravó,
Farejam no lixo
- Tristes bichos! –
Mas em vão,
À procura de uma côdea de pão.
Se não há
Para a gente,
Que se gasta e moureja,
Um bago de arroz,
Que se veja,
Porque deixar sem dono,
E, ao abandono,
À solta pelas vielas,
Essa malta de sentinelas
De olhar tão humano?!
Porque acrescentar,
Inconscientemente,
Ao calvário da nossa gente,
Mais uma tortura,
Mais uma agonia
Mais um mal sem cura
Aos males de todos os dias?

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